Pesquisadores realizaram em novembro a instalação de 90 gravadores para identificação de aves, anfíbios e morcegos em remanescentes florestais, incluindo Áreas de Conservação Ambiental (ACAS), localizadas na região do Pontal do Paranapanema (SP), extremo Oeste de São Paulo. A ação integra o projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, uma parceria do IPÊ com a CTG Brasil, por meio de um projeto de P&D ANEEL, que está na segunda fase e terá a duração de 40 meses. São parceiros do projeto a FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da ESALQ, Universidade de Lavras e GVCes da Fundação Getúlio Vargas.
Nessa nova fase, são monitoradas as Áreas de Conservação Ambiental (ACAS) mantidas pela empresa que já investiu em ações que resultaram no plantio de 11 milhões de árvores (em 6.715 hectares), e na conservação de 2.818 hectares de áreas em regeneração natural, auxiliando na conservação das paisagens nas ACAs envolvidas.
Com os gravadores autônomos, os pesquisadores vão conseguir identificar quais espécies estão utilizando as ACAS, como explica Simone Tenório, pesquisadora do IPÊ que coordena a frente de Biodiversidade. “Fizemos uma pré-seleção das áreas pensando em uma amostragem diversa relacionada à paisagem. Instalamos os gravadores dentro do Parque Estadual do Morro do Diabo e também em fragmentos florestais localizados em áreas próximas a pastos, canaviais, outras culturas e corpos hídricos. Tanto no primeiro ciclo da pesquisa quanto no atual utilizamos a mesma configuração nos gravadores, a cada 10 minutos eles registram 1 minuto de som.
Ciência na prática
Como forma de obter um registro fiel dos resultados gerados pela restauração da paisagem, a ação está dividida em três etapas. “Para esse levantamento, instalamos inicialmente os 90 gravadores em 22 fragmentos, onde eles vão permanecer por três semanas. Faremos isso por mais duas vezes, totalizando três ciclos, em 630 mil hectares. Na prática, teremos o resultado de 270 gravadores, mas com 1/3 do equipamento. Para proteger os gravadores autônomos que têm apenas 6 cm de largura estamos utilizando cases de celular e abraçadeiras de plástico para fixação”.
O terceiro ciclo dessa etapa será concluído no campo na segunda quinzena de janeiro de 2021. Nesse momento, os pesquisadores terão registrado mais de 800 mil minutos de sons da biodiversidade. “Com esse banco de dados iniciaremos a etapa de análise no ARBIMON (Automated Remote Biodiversity Monitoring Network) e teremos mais informações sobre como a restauração florestal gera esse ciclo de restauração/ recuperação dos serviços ecossistêmicos”, completa o pesquisador do IPÊ, Alexandre Uezu, coordenador das frentes de Solo e Água e que também assina o delineamento experimental do estudo. Além disso, estão previstas ações com a utilização de armadilhas fotográficas.
Continuidade
Essa nova fase do projeto inclui também elaboração de procedimentos simplificados para estimar valor econômico/ monetário associado aos impactos da restauração florestal nos negócios da empresa, considerando os custos evitados com a manutenção de ativos e mitigação ou com compensação de danos ambientais, e as potenciais receitas com novos.
O projeto “Desenvolvimento de Tecnologias para Valoração de Serviços Ecossistêmicos e do Capital Natural em Programas de Meio Ambiente” foi um dos 16 cases selecionados, em 2018, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Revista Página 22 (P22) para participar da edição especial da revista sobre Gestão Empresarial de Capital Natural.
A equipe do projeto formada por técnicos e especialistas do IPÊ, além de acadêmicos da ESCAS (Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade), da UNESP e da ESALQ – USP, também usou métodos avançados no primeiro ciclo (2015-2018), como sobrevoos com LiDAR (Light Detection and Ranging), Gravadores Autônomos (Audiorecorders) e Sistema ARBIMON (Automated Remote Biodiversity Monitoring Network), análise de DNA e Cameras trap, para avaliar serviços ecossistêmicos relacionados aos seguintes temas: Recursos Hídricos, Paisagens Sonoras e Biodiversidade (aves, anfíbios e mamíferos), Solo e Ecologia de Ecossistemas, Carbono Florestal e Florística.
Desse levantamento, descobriu-se, por exemplo que 13 espécies de árvores que não foram plantadas no corredor estão presentes ali. “Isso mostra que árvores foram introduzidas de maneira natural, por exemplo, por meio de aves dispersoras. Com audiorecorders, o projeto identificou a presença dessas espécies de aves no corredor, inclusive. A presença de fauna é indicador que a floresta está fazendo o seu papel para a biodiversidade local. Além das árvores,o uso de cameras trap também tem mostrado que mamíferos de médio e grande porte já estão utilizando a área do corredor para dispersão”, afirma Laury Cullen Jr. coordenador do projeto no IPÊ.