O segundo dia do I Fórum Brasileiro de Voluntariado em Unidades de Conservação, realizado pelo IPÊ, reuniu mais de 150 pessoas ao vivo no canal do YouTube, dia 28/10. Na programação, profissionais de organizações da sociedade civil, de governo e de empresas interessadas em estabelecer pontes a partir do voluntariado como ação capaz de fortalecer a sociedade e as áreas protegidas.
Angela Pellin, pesquisadora do IPÊ e coordenadora da iniciativa, destaca que o evento superou as expectativas. “Já na primeira edição contamos com mais de 15 apoiadores, o público também surpreendeu no melhor dos sentidos, foram mais de 1.300 inscritos de todo o Brasil para os dois dias de evento. Tivemos discussões importantes e que vão abrir caminho para uma nova fase do Voluntariado no Brasil. Eu comecei minha trajetória profissional como voluntária. Decidi trabalhar com Unidades de Conservação por conta do voluntariado e é uma honra, uma felicidade muito grande ver todo esse movimento acontecer”.
O IPÊ acredita no voluntariado como estratégia para mais participação social na gestão das Unidades de Conservação. Por meio do voluntariado é possível criar senso de pertencimento e promover o engajamento da sociedade na conservação.
Caminhos para o fortalecimento do Voluntariado para a Conservação: experiências internacionais
Marco Van Der Ree, diretor executivo de desenvolvimento e mobilização de recursos na América Latina da TNC – The Nature Conservancy, trouxe para o Fórum o contexto atual de crises múltiplas e como o voluntariado em áreas protegidas está inserido em uma rede global em prol do desenvolvimento sustentável. “Estamos a alguns dias da COP-26 sobre Mudanças Climáticas, essa será uma conferência superimportante para as tomadas de decisão sobre as questões de mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável e clima; está tudo relacionado. A Covid-19 é uma crise pequena em relação ao que está por vir com as mudanças climáticas e os problemas decorrentes da crise de biodiversidade. O voluntariado no Brasil entra nesse contexto, de prevenir o fogo e contribuir com as Unidades de Conservação – ações de grande importância relacionadas ao clima e à biodiversidade”.
Jim Barborak, assessor do Centro para a Gestão de Áreas Protegidas da Colorado State University, trouxe os aprendizados da atuação nos Estados Unidos. “É preciso que o voluntariado faça parte da cultura nacional e não apenas ser um programa isolado de uma ONG ou de uma instituição do governo”. Para Barborak, no voluntariado não existem limites. “A possibilidade de o voluntariado precisar ser real desde o momento em que a pessoa começa a caminhar até o fim da vida”. O assessor também enfatizou como é estratégico mobilizar as novas gerações. “Os jovens serão os futuros líderes das Unidades de Conservação. O voluntariado é também a porta de entrada de profissionais que vão atuar pelas áreas protegidas no serviço público ou ainda na iniciativa privada”. A história da pesquisadora do IPÊ Angela Pellin – mencionada acima – exemplifica a oportunidade vista por Jim.
I Encontro de Boas Práticas em Voluntariado em Unidades de Conservação
Angela Pellin, pesquisadora do IPÊ à frente da organização do Fórum + Encontro na área de Voluntariado para Conservação, contou sobre o evento, que teve como público-alvo gestores de Unidades de Conservação e parceiros. “Foram dois dias de trabalho com discussões muito intensas, tivemos mais de 700 inscritos e recebemos mais de 40 Boas Práticas de todo o Brasil – via edital. Foi muito difícil selecionar as boas práticas que já estão no nosso site e os participantes. Contamos com 100 participantes que avançaram em temas-chave em cinco Grupos de Trabalho”.
Iniciativa Privada também ganha com o voluntariado
Silvia Naccache, fundadora e voluntária do GEVE – Grupo de Estudos de Voluntariado Empresarial, reforçou como as empresas também ganham com o voluntariado. “Essa é uma temática perfeita, todo mundo ganha, quem pratica a ação na descoberta e no desenvolvimento de talentos, amplia a visão de mundo. Ganha a organização, o projeto, a causa. A empresa que mobiliza, engaja para a ação ganha na descoberta de novas lideranças, no desenvolvimento de habilidade e do senso de pertencimento em relação à empresa, inclusive com orgulho, e também no relacionamento com a comunidade”.
No entanto, para obter todos esses resultados, Silvia destaca o planejamento. “É preciso promover uma gestão/ operacionalização eficiente do programa de voluntariado com oportunidades bem descritas e o gerenciamento do programa como um todo e também dos voluntários no dia a dia, um grande desafio, com liderança, planejamento, formalização, orçamento, treinamentos, supervisão, monitoramento e ainda as avaliações com indicadores e metas”.
Gustavo Narciso, gerente executivo do Instituto C&A, apresentou a experiência do instituto que há 30 anos conta com um programa de voluntariado corporativo. “É um dos mais antigos do Brasil, temos como proposta fortalecer a comunidade a partir da moda e o voluntariado é uma das ferramentas. Os colaboradores da C&A têm até três dias que podem doar para o trabalho voluntário, isso favorece o engajamento. Realizamos uma imersão de voluntariado no IPÊ com cerca de 20 voluntários no projeto Costurando o Futuro.” O projeto é realizado desde 2002 na zona rural de Nazaré Paulista, interior de São Paulo, com famílias de bordadeiras da região que complementam a renda por meio dos valores obtidos com a venda dos produtos.
Entre os pontos-chave da imersão realizada no IPÊ esteve a troca de conhecimento entre as mulheres que integram o projeto Costurando o Futuro, do IPÊ, e os voluntários. “Alinhamos como poderíamos contribuir com o projeto e convidamos os colaboradores com tais expertises. Os voluntários da C&A ensinaram às mulheres do projeto técnicas de exposição, paleta de cores, tendências, reutilização de matéria-prima, vendas online. Em contrapartida, os voluntários tiveram um conhecimento muito prático e robusto sobre a importância das Unidades de Conservação, além do plantio de árvores com troca de conhecimento com os especialistas do IPÊ”.
Gustavo Narciso também apresentou dicas de como os gestores de voluntariado gostariam de ser abordados por profissionais das unidades de conservação e das organizações da sociedade civil organizada gerando valor para as duas pontas.
Érika Santana, integrante do comitê gestor e porta-voz do CBVE – Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial, coordenadora do voluntariado corporativo da Sabesp, apresentou os resultados de um censo que teve como objetivo reconhecer a atuação das cercas de 20 empresas do Conselho relacionada aos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. “Realizamos um questionário sobre como a rede atua na agenda ambiental utilizando os conceitos dos ODS. Conseguimos elencar os cinco principais ODS que tiveram adesão das empresas: 42,86% realizaram ações voltadas ao ODS 06 – Água Potável e Saneamento; 50% ao ODS 11 Cidades e Comunidades Sustentáveis, 14% ao ODS Ação Contra a Mudança Climática; 14,29% ao ODS 15 Vida Terrestre e 62,29% ao ODS 17 Parcerias e Meios de Implementação”.
A porta-voz apresentou o potencial de mobilização da rede. “São 500 mil colaboradores nas 20 empresas, 36 mil voluntários e 915.000 pessoas alcançadas”. E ainda pontuou que todos podem contribuir com a conservação ambiental mesmo dentro de casa. “O banho racional, não jogar óleo na pia e separar o lixo para a coleta seletiva são ações que também contribuem com o sistema, está tudo integrado”. Érika compartilhou também as principais estratégias do Conselho para o voluntariado corporativo. “Traduzir o voluntariado corporativo a partir do ESG – Environmental, Social Governance (Meio Ambiente, Social e Governança). Estimular os gestores para essa pauta. A oportunidade de participar de experiências que sejam significativas, isso tem um impacto muito grande para os voluntários e gerar conteúdo – como essa live – tem um valor muito grande”.
O Fórum contou com o apoio da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da GIZ, da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) com apoio técnico do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e do Projeto LIRA – IPÊ. Além de apoio institucional do ICMBio, SEMAD – GO, IMASUL – MS, Fundação Florestal – SP, Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, Naturatins – Instituto Natureza do TocantinsComitê Brasileiro-UICN, Coalizão Pró-UC, Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV), Confederação Nacional de RPPN (CNRPPN) e Grupo de Estudos de Voluntariado Empresarial (GEVE).
I Encontro de Boas Práticas em Voluntariado em Unidades de Conservação
Saiba mais sobre o Painel 1: Voluntariado para Conservação: experiências internacionais e brasileira