Com objetivo de construir um plano de ação para apoiar a atuação das brigadas voluntárias e comunitárias no Pantanal, o projeto Juntos pelo Pantanal: fortalecendo a participação voluntária e comunitária no Manejo Integrado do Fogo articulou a realização da 2ª Oficina de Planejamento junto às brigadas comunitárias do Pantanal do Mato Grosso do Sul, no fim de março, no Parque Estadual Matas do Segredo, em Campo Grande/MS.
O encontro reuniu 43 representantes, de 12 brigadas comunitárias da região e 1 brigada municipal, além de profissionais de 08 instituições entre públicas e privadas que atuam com o Manejo Integrado do Fogo no Pantanal (MIF). “A adesão à Oficina foi além das expectativas, o que reforça a urgência de avançarmos, em especial diante dos efeitos das mudanças climáticas. O Pantanal é o bioma que mais perdeu superfície de água nos últimos 40 anos. Estamos falando de uma nova realidade com desafios mais severos”, pontua Angela Pellin, coordenadora de projetos no IPÊ, à frente do Juntos pelo Pantanal.
A Oficina teve início com os dados apresentados pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima do Mato Grosso do Sul que destacou que comparando os anos de 2023 e 2024, tivemos um aumento de 212,6% de área queimada e de 210,5% de focos de calor. Já para 2025, as previsões para o 1º trimestre no Mato Grosso do Sul são de temperaturas acima da média histórica com probabilidade de as chuvas ficarem abaixo da média, principalmente na metade oeste e sudeste do estado de Mato Grosso do Sul.
Eduardo Teixeira, da diretoria de Proteção Ambiental do Corpo de bombeiro de MS, reconhece a Oficina como de extrema importância. “Essa iniciativa fortalece as comunidades e os produtores locais na região do Pantanal, colocando todos no mesmo nível e sentados na mesma mesa para que se discuta, cada um com a sua realidade, soluções para o Pantanal como um todo, de maneira integrada, coerente com a realidade, e fazendo com que as ações de combate aos incêndios aconteçam pelas mãos de quem realmente conhece o terreno e é afetado pelo fogo e não por quem vem de fora”.
Para José Domingues Benites, líder da Brigada Comunitária Porto Esperança, participar do evento também possibilitou aprender com representantes de diversos órgãos. ”Cada aprendizado é um passo para o sucesso de todos nós que integramos as brigadas comunitárias, em defesa do nosso bioma Pantanal, com o único objetivo de preservá-lo”.
Chave de acionamento
A oficina marca também avanços na construção da chave de acionamento, um diagrama de apoio à tomada de decisão compartilhada no território do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Angela Pellin destaca como fundamental a articulação entre as brigadas comunitárias e o poder público para garantir uma ação mais efetiva e segura para todos os envolvidos. “A chave de acionamento auxilia nessa integração e traz mais celeridade ao atendimento às ocorrências de incêndios florestais, principalmente quando ocorrem próximos às comunidades”.
Alexandre Pereira, pesquisador e analista ambiental o do Prevfogo/Ibama, reforça a chave de acionamento como central para articular o trabalho de todos os envolvidos. “Com a chave a gente consegue estruturar toda a cadeia, desde a detecção até a desmobilização total das equipes envolvidas durante incêndio e todos os passos para que esse incêndio florestal seja extinto por completo. Essas chaves para as brigadas comunitárias e voluntárias acabam funcionando para identificar até onde essas brigadas podem chegar dentro de um incidente, necessitando avaliar o tamanho desse incêndio, a capacidade que essas brigadas têm para responder e quando acionar apoio para auxiliar no combate. Além disso, a chave deixa claro qual o papel dessas brigadas dentro do processo e dá diretrizes para as brigadas atuem de forma efetiva e principalmente segura dentro de uma ocorrência de incêndio florestal”.
Próximos passos
Julia Boock, coordenadora executiva do projeto, antecipa os próximos passos. “Vamos realizar uma formação para aplicação da chave de acionamento para as brigadas comunitárias no Pantanal e o treinamento para uso de ferramentas e tecnologias de apoio ao manejo integrado do fogo que está previsto para acontecer a partir da segunda semana de maio “
O projeto também prevê até final de junho a doação de equipamentos para brigadas comunitárias localizadas em territórios estratégicos. As brigadas em questão serão definidas pelo IPÊ e parceiros do projeto com base no conjunto de informações levantadas durante todo o processo.
O projeto Juntos pelo Pantanal é executado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, em parceria com o Ibama/Prevfogo, ICMBio – CMIF, Fundo Casa Socioambiental e ECOA (Ecologia e Ação). O financiamento é do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO como agência executora.