Em 2012, a anta brasileira foi declarada extinta na Caatinga. Em expedições realizadas em 2023-2024, a equipe da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB-IPÊ) descobriu que espécie ainda está presente no bioma. Agora, em 2025, o objetivo é aprofundar essas investigações.
Entre os dias 7 e 30 de março, a equipe da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, estará na Caatinga pela terceira vez para aprofundar as pesquisas sobre a anta brasileira no bioma. Durante expedições realizadas em 2023-2024, a equipe descobriu que a espécie não está extinta no bioma, como se pensava anteriormente. Este ano, as pesquisadoras percorrerão trechos do oeste da Bahia e sul do Piauí no que será a última expedição de prospecção para então fechar um panorama sobre a ocorrência atual da espécie no bioma.
A história da INCAB-IPÊ com a anta na Caatinga começou em 2012. Este foi o momento em que um grupo de pesquisadores, incluindo membros da INCAB-IPÊ, foi recrutado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para avaliar o status de conservação dos ungulados brasileiros – anta, pecarídeos e cervídeos – para a elaboração da Lista Vermelha Nacional. “Naquele momento, foi realizada uma avaliação a nível de Brasil e outra a nível de biomas. Os profissionais que estavam presentes, eu inclusa, listaram a anta como ‘Regionalmente Extinta’ na Caatinga, pois os poucos dados e informações que estavam disponíveis naquele momento apontavam para isso. Desde então, refletimos muito sobre essa tomada de decisão tão importante com base em tão poucas informações! Surgiu então o desejo de percorrer a Caatinga em busca de informações mais consistentes sobre o histórico da anta na região, seu passado, mas também o seu presente”, explica Patrícia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ.
Em 2023 – 11 anos depois – a ideia saiu do papel e a equipe realizou a primeira viagem pela Caatinga – a expedição “Em Busca da Anta Perdida”. Com recursos financeiros captados por meio de um crowdfunding, a equipe percorreu uma rota de 10 mil quilômetros em 31 dias, passando por diferentes regiões da Caatinga nos estados de Minas Gerais, Bahia e Piauí, incluindo locais onde houvesse quaisquer indícios da existência histórica ou atual do animal, tanto no centro quanto nas bordas do bioma. Essa expedição foi amplamente baseada em entrevistas com moradores locais, em grande parte idosos que tivessem a memória e os relatos de seus antepassados. O objetivo primordial dessa primeira expedição era resgatar a memória das pessoas sobre o animal no bioma. Esperava-se também coletar informações sobre a potencial presença atual da espécie na região.
Naquele primeiro momento, as informações coletadas através das entrevistas permitiram afirmar que a anta esteve presente no bioma no passado. Foi possível retroceder até cerca de 400 anos para trás. Esse animal vivia, inclusive, em regiões mais centrais da Caatinga, tais como a Chapada Diamantina na Bahia, e essas populações foram perdidas por conta de perda de habitat, caça e diminuição da disponibilidade de água. No que diz respeito à presença atual da anta na Caatinga, foram encontrados indícios nas bordas do bioma, na interface com o Cerrado, mas a equipe voltou para casa ainda cheia de dúvidas.
Em 2024, foi realizada a segunda expedição para investigar mais a fundo algumas áreas específicas. A equipe percorreu mais de 6 mil quilômetros, durante 20 dias, passando pela região oeste da Bahia e o entorno do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí. A presença atual da anta foi determinada através de sinais do animal detectados pela própria equipe e um vídeo proveniente de armadilha fotográfica. Essa foi, sem dúvida, a expedição que comprovou que a anta não está extinta na Caatinga!

“A importância dessa descoberta está no fato de que uma extinção local, para qualquer espécie, é uma situação muito séria. Declínios populacionais e extinções locais apontam para o comprometimento do estado de conservação de uma dada espécie. Os dados coletados durante a expedição de 2024 trouxeram evidências robustas de que a anta não está extinta na Caatinga. Sabemos que devem ter ocorrido declínios populacionais importantes, mas tudo aponta para a anta nunca ter se extinguido de fato na região”, declara Patrícia Medici.
Nesta terceira expedição, que se inicia, a equipe buscará indícios da presença atual da anta em áreas mais internas da Caatinga, uma vez mais, nos Estados da Bahia e Piauí. As informações levantadas serão essenciais para a avaliação da espécie para a nossa Lista Vermelha Nacional – processo este que já se encontra em andamento – e, posteriormente, para o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ungulados, ambas ferramentas de conservação do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.