A primeira Expedição Caatinga – Em Busca da Anta Perdida foi realizada em março de 2023 e agora a equipe de pesquisadores retorna ao bioma para investigações adicionais
Pesquisadores da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ -Instituto de Pesquisas Ecológicas, retornam à Caatinga em março de 2024 para aprofundar as investigações sobre a presença atual da anta no bioma. A equipe vai percorrer mais de 4 mil quilômetros em busca de respostas no decorrer de 20 dias de campo.
Durante a primeira expedição à Caatinga, em março do ano passado, a equipe obteve 43 registros históricos sobre a presença da anta no bioma, com base em entrevistas com moradores locais, informações da literatura, achados arqueológicos e pinturas rupestres. Informações sobre as causas potenciais da extinção regional da espécie também foram resgatadas, tais como caça, perda de habitat e mudanças climáticas. Além disso, foi comprovada a presença atual da espécie na Caatinga. Os pesquisadores identificaram 53 localizações recentes da anta, particularmente nas bordas do bioma, também conhecidas como ecótonos, entre os biomas Caatinga e Cerrado – em Minas Gerais, Bahia e Piauí.
Agora, a equipe pretende aprofundar as investigações em duas áreas específicas – a Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Preto, no oeste da Bahia, no ecótono Cerrado-Caatinga, e a região de Caatinga ao leste do Parque Nacional Serra das Confusões, no Piauí.
“Essa segunda expedição, agora em 2024, visa aprofundar nosso conhecimento em duas áreas sobre as quais ficamos com algumas dúvidas depois da expedição de 2023. São duas localidades onde obtivemos relatos de registros recentes do animal. Agora, vamos ficar uma semana em cada um desses locais para colocar o pé na lama e procurar por sinais – pegadas, fezes e sinais de alimentação – além de aprofundar as conversas com as comunidades locais e buscar mais informações sobre esse bicho na atualidade”, afirma Patrícia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ.
Patrícia adiciona que a expectativa para esta segunda expedição ao bioma é obter uma visão mais apurada sobre a presença da anta nessas localidades, se existem populações residentes ou se são indivíduos que circulam pela área eventualmente, além de entender os fatores que ameaçam as antas nessas regiões.
A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que predomina no Nordeste – abrange o Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas Gerais. O nome do bioma vem do tupi – ‘caa’ significa mata e ‘tinga’ branca – e se refere a estação seca em que as árvores perdem suas folhas e seus troncos assumem um tom esbranquiçado.
Ocupando cerca de 10% do território brasileiro, o clima que predomina no bioma é o semiárido com temperatura média elevada e precipitação baixa. O solo raso e pedregoso é comum na Caatinga, mas também é possível encontrar solos profundos e arenosos, além de solos com alta fertilidade. Com cerca de 133 espécies de mamíferos, 548 aves, 98 anfíbios, 196 répteis e 386 peixes, a diversidade da Caatinga faz dela um bioma único.
Primeira Expedição Caatinga – Em Busca da Anta Perdida
O trabalho da INCAB-IPÊ na Caatinga surgiu a partir da publicação da primeira lista vermelha nacional do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, no ano de 2012, que classificou a anta como extinta no bioma. Naquele ano, o ICMBio reuniu um grupo diverso de profissionais brasileiros para avaliar o status de conservação das espécies de ungulados ameaçados do Brasil, incluindo a anta, a queixada e algumas espécies de cervídeos.
“Naquele momento, nós realizamos uma avaliação em nível de Brasil e em nível de biomas. Os profissionais que estavam presentes, eu inclusa, listaram a anta como Regionalmente Extinta na Caatinga, pois os poucos dados que vieram para a mesa, naquele momento, apontavam para isso. De lá para cá, ficamos com a sensação de que havíamos tomado uma decisão extremamente importante com base em pouquíssimas informações. Então surgiu uma grande vontade de percorrer a Caatinga em busca de informações mais consistentes sobre o histórico da anta, seu passado e presente, na região”, explica Patrícia Medici.
Após 11 anos, em 2023, a ideia saiu do papel e os pesquisadores realizaram a primeira Expedição Caatinga – Em Busca da Anta Perdida. Com recursos financeiros captados por meio de um crowdfunding, em 31 dias, a equipe percorreu 10 mil quilômetros, passando por diferentes regiões da Caatinga onde houvesse qualquer indício da existência histórica ou atual do animal. Patrícia Medici comenta que o trabalho nessa primeira expedição foi amplamente baseado em entrevistas com moradores locais. “Realizamos a primeira expedição para a Caatinga com dois objetivos primordiais: resgatar a memória das pessoas sobre a potencial ocorrência do animal no bioma – A anta já existiu na Caatinga? Onde? Desapareceu? Se sim, por quê? – e o segundo objetivo era investigar a presença da anta atualmente”.