O Projeto Paisagens Climáticas está realizando a implantação de duas Unidades Demonstrativas no assentamento Rosa de Saron, localizadas em Águia Branca, Espírito Santo. Na região dos Pontões Capixabas o café e as pastagens são as atividades agropecuárias mais presentes na paisagem. Classificada como uma área susceptível a desertificação (AsD), a adoção de Sistemas Produtivos Sustentáveis é um caminho para a redução dos impactos das Mudanças Climáticas.
As Unidades Demonstrativas (UDs) são propriedades rurais que servirão de modelo para o entorno. Além de reduzir a vulnerabilidade das famílias residentes, as técnicas sustentáveis de manejo contribuem para o fortalecimento da resiliência hídrica e redução da degradação do solo, dois pontos importantes para o combate à desertificação.
“Trabalhar com o Sistema Silvipastoril fomenta a transição de um alto índice de pastagens degradadas para sistemas mais produtivos e resilientes às condições climáticas em uma paisagem que está classificada como Área Susceptível à desertificação pelo MMA, à medida que visamos a conservação do solo, água e provisão de serviços ecossistêmicos.” conta Ana Palmina, técnica extensionista do Projeto Paisagens Climáticas.
Os principais desafios encontrados no diagnóstico das propriedades foram: escassez de mão de obra, dificuldade de acesso a crédito rural e assistência técnica especializada e dificuldade de inserção em mercados de maior valor agregado para produtos diferenciados. Através da implantação das Unidades Demonstrativas o Projeto Paisagens Climáticas apoia agricultores familiares, especialmente mulheres que desejam consolidar práticas sustentáveis que integrem conservação ambiental e viabilidade econômica.
Transição para Sistemas Produtivos Sustentáveis
A propriedades familiares passaram por um processo de planejamento participativo, junto a equipe técnica do projeto e consultores especialistas em pastagem sustentável, silvicultura de nativas e café agroflorestal. As áreas foram mapeadas através da utilização de drone LiDAR e as imagens de alta resolução foram utilizadas para adequação ambiental e zoneamento agroecológico das propriedades. Nesta etapa é importante entender o relevo e cursos d’água, delimitar as Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal e áreas de produção.
As duas Unidades Demonstrativas estão passando pelo processo de implantação de Sistema Silvipastoril, Sistema Agroflorestal (SAF) com foco em café e Quintais Agroflorestais. Nos Quintais Agroflorestais será produzido cacau, frutíferas nativas da Mata Atlântica, hortaliças, legumes e plantas medicinais.
Sítio do Vovô João
A Unidade Demonstrativa gerida por Edileuza Sgrancio tem como principal atividade econômica a pecuária leiteira. Os quintais agroflorestais promovem a diversificação da produção atrelados a restauração ecológica das áreas próximas aos cursos d’água.

Rancho Maciel
A Unidade Demonstrativa gerida por Claudia Maciel é dedicada à equinocultura e cafeicultura. O SAF será consorciado à criação de abelhas nativas, formando um pasto apícola. O trabalho de polinização das abelhas potencializa a frutificação, melhorando o resultado da produção. Este planejamento também inclui áreas específicas para restauração ecológica, em consonância com as metas de conservação dos proprietários.

Sistema Silvipastoril
As UDs iniciaram seu processo de transição através da implementação do Sistema Silvipastoril, que une a criação de animais ao plantio de árvores. O componente arbóreo do silvipastoril está vinculado a recuperação da pastagem, conforto térmico e fornecimento de alimento para polinizadores. Veja abaixo como foram as etapas de implantação no sítio do Vovô João.
O primeiro passo foi a divisão da pastagem em piquetes. A divisão é feita com cercas eletrificadas, que necessitam de menos material. As peças de conexão podem ser produzidas pelos próprios agricultores. Desta forma, o custo comparado a cercas convencionais é reduzido. A rotação dos animais entre áreas menores possibilita um melhor aproveitamento da pastagem. A redução do pisoteio dos animais também reduz a compactação do solo, erosão e lama, evitando acidentes como quebra de jarrete (articulações dos animais) e doenças como a mastite.

A etapa seguinte é a delimitação das áreas de plantio. As linhas de árvores são planejadas junto as curvas de nível e irão promover a descompactação do solo e um maior conforto térmico aos animais. Foram plantadas espécies nativas da Mata Atlântica afim de aumentar a biodiversidade presente na propriedade.

A terceira etapa é a implementação do sistema de beberagem, para que os animais tenham acesso à água em todos os piquetes. A disponibilidade de água dentro do piquete também contribui com o conforto térmico dos animais. A redução de deslocamento proporciona maior hidratação e tempo de alimentação dos animais, contribuindo significativamente para uma maior produção de leite.

A rotação dos animais é realizada de acordo com a altura do capim, com uma média de 50 dias para reinício do ciclo. Através da implementação do Sistema Silvipastoril, Edileuza melhorará a qualidade de sua pastagem, o que reduz seus custos de produção, eliminando a necessidade de adquirir insumos externos nas épocas de seca. Esta técnica também permite o aumento de animais por hectare.
“Agora com o Sistema [Silvipastoril] praticamente todo implantado aqui na propriedade a gente começa a entender o que é o Sistema de verdade e a gente entende que ele pode funcionar de uma maneira bem prática, no manejo com os animais, a questão de ter o controle sobre as áreas, que facilita muito para o produtor. As árvores também são muito importantes, porque a gente tira o animal daquele stress, do calor e isso são coisas que a gente começa a perceber que vai funcionar muito bem.” compartilha Edileuza.
Além dos benefícios econômicos, o manejo ecológico do solo em propriedades rurais contribui para o aumento da infiltração da água da chuva. Os corredores de árvores auxiliam na conservação da biodiversidade e provisão de serviços ecossistêmicos.
“A criação de unidades demonstrativas com adaptações baseadas em ecossistemas (AbE) é um passo muito importante para o projeto. Além de trabalharmos a recuperação produtiva que beneficia as famílias das unidades, elas servem de modelo para a agricultura familiar, sendo espaços de trocas e cursos com agricultores e técnicos da região. O compartilhamento de ações contribui significativamente com as possibilidades de criação de paisagens multifuncionais de forma participativa, pensando sempre em reduzir os efeitos das Mudanças Climáticas na região.” explica Ana Palmina.
O Projeto Paisagens Climáticas é financiado pelo Fundo Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).