Crédito da foto: Arquivo pessoal
Rafael Gava, presidente da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias, conversou com o IPÊ sobre o grave problema dos incêndios florestais e como as brigadas voluntárias e comunitárias atuam nesse combate.
Rafael começa relembrando que vivemos em um mundo “emprestado” e é nossa missão deixá-lo melhor para as novas gerações que viverão nele, uma questão ética. Segundo ele, as pessoas desejam fazer parte de movimentos com propósito, independente da área, e aí entram os voluntários – pessoas interessadas a doar tempo e energia para ajudar uma causa.
“Acreditamos na conscientização pela educação, na lógica da prevenção que é muito menos custosa do que atuar quando os incêndios já atingiram grandes proporções. Contudo, não há estatísticas sobre os incêndios evitáveis, sem essa mensuração não há valorização e as brigadas voluntárias e comunitárias tendem a se manter na invisibilidade”.
O IPÊ fez um levantamento e identificou que existem cerca de 200 brigadas voluntárias no Brasil. Saiba mais sobre isso.
Segundo ele, os incêndios florestais geralmente começam pequenos, a não ser por casos atípicos como acidentes ou explosões. Em sua grande maioria, começam de forma acidental ou criminosa através de fósforo, vela, balão ou dispositivos incendiários de pequena amplitude e não são noticiados. Além disso, a seca é um fator que potencializa os incêndios e estamos vivenciando um período de estiagem no Brasil, intensificado pelas mudanças climáticas.
Crédito da foto: Samara Maciel – Instituto Cafuringa
Desafios das brigadas voluntárias e comunitárias
As brigadas voluntárias e comunitárias são formadas por pessoas comprometidas com um bem que é de todos, a nossa biodiversidade, nossas florestas, e muitas vezes longe da presença do Estado. São diversos perfis, profissionais das mais diversas áreas, estudantes, guias de turismo, usuários das unidades de conservação, proprietários rurais, ribeirinhos, quilombolas e indígenas por exemplo. Em alguns casos, incêndios florestais em locais remotos ou de difícil acesso inviabilizam a agilidade no apoio de uma resposta rápida do poder público.
Rafael destaca outras dificuldades como a falta de estruturação das organizações, oscilação das campanhas de captação de recursos, questões relacionadas à saúde mental dos voluntários, assistência social para as famílias em caso de acidentes e a falta de suporte para questões administrativas e burocráticas.
Crédito da foto: Samara Maciel – Instituto Cafuringa
A Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV) conta hoje com nove organizações filiadas, embora mais de 50 interajam nas comunidades virtuais, como o WhatsApp, além de redes sociais. O principal objetivo é ajudar na organização das brigadas menores e proporcionarem seu desenvolvimento institucional, permitindo assim ações mais concretas na linha de frente. Infelizmente, grande parte não consegue se manter sozinha e os recursos acabam sendo empregados em pequenas necessidades isoladas que sem a devida orientação, acabam faltando itens básicos, como botas, uniformes e outros equipamentos de proteção individual, além de equipamentos de resposta como bomba costal (de água), pás, enxadas, sopradores e etc.
Rafael relembrou o início de sua atuação, voltada a iniciativas de prevenção e combate a incêndios florestais, há aproximadamente 17 anos. Na época, houve um incêndio subterrâneo de grades proporções na Serra do Mar, no Paraná, que durou 14 dias. A partir daí, ele começou a se aprofundar no tema buscando outras referências, e junto com outros montanhistas da região se organizaram em uma nova brigada. “O solo virou cinza. Não nasceria mais floresta nos próximos anos, nossos filhos e netos não verão mata ali pois foram queimados os substratos. Ficou uma grande cicatriz. Então pensei: alguém tem que fazer alguma coisa. Reunimos um grupo motivado. Procurei outras brigadas voluntárias no Brasil e só encontrei um grupo na Chapada Diamantina, outro na região da Mantiqueira e outro em Minas Gerais, em Belo Horizonte. Na época, tive o ímpeto de viajar para a Amazônia ou Cerrado para ajudar nos incêndios, mas percebi que poderia ajudar muito mais aqui no meu próprio território”.
Ciente dos desafios que envolvem as brigadas voluntárias e comunitárias, Rafael se mantém otimista em relação ao futuro e acredita que é preciso trabalhar mantendo a responsabilidade e com alegria. “O voluntário faz a sua parte com o que pode, como pode, quando pode e com o que tem”.
Sabia que você pode apoiar os brigadistas voluntários e comunitários?
Doe para nossa campanha. O recurso será destinado para que algumas brigadas possam comprar equipamentos de segurança como uniforme apropriado, capacete, bota, balaclava, luva de alta temperatura, óculos específicos, além de poderem fazer capacitações para uma ação mais eficaz e segura.