Entrevistamos três professores do curso ESG na Prática: lidando com a complexidade sobre questões centrais do ESG que se posiciona como macrotendência impulsionadora do crescimento do emprego, segundo o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, do Fórum Econômico Mundial. Confira a entrevista com os professores Aron Belinky, sócio da ABC Associados, Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe na Ryo Asset e Graziella Comini, vice-presidente do IPÊ e coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor/CEATS-USP.
O curso que está com inscrições abertas é uma parceria entre a ESCAS, a Unidade de Negócios Sustentáveis do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e o Briyah Institute. O curso é o desdobramento da iniciativa ESG Na Prática, uma parceria entre o IPÊ e o LinkedIn.
IPÊ: Quais oportunidades o ESG traz para as empresas em termos financeiros?
Gabriel Leal de Barros: A agenda ESG é uma oportunidade de as empresas atuarem no seu core business e na cadeia na qual estão inseridas de forma mais inteligente e racional. É de amplo conhecimento que o valor das empresas no tempo (valuation) é afetado pela resiliência do seu negócio e seus parceiros, de modo que é exatamente esse o delivery de boas ações ESG, tornar o business menos suscetível a choques, mais resiliente. Por trabalhar a mitigação de efeitos adversos, a agenda ainda tem um grande componente de gestão de risco, evitando a materialização de cenários de risco de cauda que retiram valor relevante do business da(s) empresa(s). Tudo isso é passível de mensuração e tem efeitos quantitativos tanto na percepção de valor quanto no valor intrínseco das empresas. O desafio de muitas organizações passa por sair da agenda teórica e idealista para algo concreto, prático e pragmático, que entregue resultados efetivos.
IPÊ: Afinal, ESG é sinônimo de sustentabilidade?
Aron Belinky Existe uma confusão indevida entre ESG e sustentabilidade. Muita gente se comporta, age como se ESG fosse um novo nome para sustentabilidade ou ainda sustentabilidade pensada de uma maneira mais estratégica e isso na verdade e é um erro grande. O ESG nasce como gestão de risco de maneira relacionada não apenas a riscos imediatos econômicos e financeiros, mas também de riscos derivados de impactos sociais, ambientais e etc. Dessa forma o ESG está relacionado à capacidade da empresa gerar valor, ou seja, aquilo que afeta a capacidade de uma empresa gerar valor é o que que está no escopo do interesse ESG.
IPÊ: Qual é formação necessária para atuar na área de ESG?
Graziella Comini Não vejo uma formação básica para isso, embora seja interessante um mergulho mais reflexivo e ferramental como é a proposta de alguns cursos como o que desenvolvemos atualmente na ESCAS-IPÊ e outras formações complementares, além de leituras e trocas com outros profissionais. Mas o que é importante é ser uma pessoa atenta sobre como as dimensões (ambiental, social e de governança) afetam o mundo dos negócios, ou aquela organização e também ter uma experiencia prática, que vai fazer com que o profissional consiga enxergar todos esses pontos dentro da empresa. Acho importante não ficar só preso a entender processos – por exemplo, minimizar o impacto ambiental de processos internos – mas poder ter uma precisão maior de como você avalia o impacto ambiental das operações de uma organização. Isso para o ambiental, mas no social é a mesma coisa. Esse profissional precisa ter uma visão ampla de como o capitalismo pode ser mais inclusivo e socialmente e ambientalmente mais justo, uma visão mais ampla de sociedade e de economia. A partir disso, o profissional precisa entender como traduzir isso em métricas, em mudanças de metas a serem cobradas de diferentes áreas. Ou seja, como fazer um report e definir mais claramente os indicadores que vão trazer essas respostas.
IPÊ: Como implementar o ESG na empresa?
Aron Belinky A primeira medida é olhar a questão dos impactos, a partir disso a gente vai saber se a empresa está trabalhando para diminuir os impactos negativos e aumentar os impactos positivos. Em termos de gestão empresarial, o X da questão é que tipo de impacto ela está causando, se negativo – a empresa está destruindo algum tipo de riqueza, dificultando a vida de algumas pessoas de alguma maneira. Se é um impacto positivo ao operar a empresa está ajudando a superar desafios e problemas. A perspectiva ESG começa quando a empresa percebe que os impactos que ela causa na sociedade e no meio ambiente podem retornar sobre ela, positiva ou negativamente, e, a partir dessa percepção, passa a gerenciá-los e a considerá-los em sua estratégia.
IPÊ: Como a recente publicação dos padrões S01 e S02 pela IFRS deve influenciar o mercado?
Gabriel Leal de Barros A padronização das informações no âmbito da agenda ESG é um gargalo histórico para que haja maior escalabilidade. É nesse contexto que os dois guidelines emitidos pelo IFRS se colocam, de fechar um gap que existia e atuava como gargalo paro o avanço em larga escala dessa agenda. O S1 e S2 se comunicam, na medida em que o S1 padroniza as informações reportadas pelas empresas dentro da agenda de sustentabilidade, enumerando seus riscos e oportunidades, impacto no fluxo de caixa da empresa, bem como colateral no custo de financiamento de curto e médio/longo prazo. Há ainda critérios de governança e gestão de risco que o S1 e S2 buscam mensurar. O S2 vai na mesma direção do S1, mas é focado em padronizar e mensurar um risco específico que é o climático. Ou seja, enquanto o S1 tem maior amplitude e cobre ações de sustentabilidade, o S2 é dedicado a padronizar e mensurar riscos e oportunidades relacionadas ao clima dentro das companhias. A definição de ambos os guidelines é um enorme avanço.
Conheça a publicação ESG em 2023: O que saber? e saiba mais.