O projeto “Paisagens Climáticas: Observatórios Vivos para a Sustentabilidade” está desenhando um corredor ecológico na Região dos Pontões Capixabas, no noroeste do Espírito Santo. A criação de corredores ecológicos é importante para conectar fragmentos florestais, facilitando o fluxo de material genético entre áreas de vegetação nativa. Os corredores também formam um espaço seguro para o trânsito de animais, que, em alguns casos, atuam como dispersores de sementes. Essa conexão permite que a vegetação consiga se reproduzir ao longo do tempo, fortalecendo a resiliência dos habitats.
Através do estudo da paisagem, são definidas as áreas prioritárias para o desenho do corredor. O corredor atuará na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, ou seja, passará por áreas importantes para a recarga hídrica, vulneráveis a processos erosivos e que favoreçam o aumento da conectividade.
Áreas maiores e mais conectadas tem capacidade de abrigar ecossistemas mais complexos, e, por esse motivo, são a áreas mais biodiversas da paisagem. Os corredores ecológicos representam áreas consideradas essenciais para manter e ampliar a conectividade da paisagem e, consequentemente a conservação da biodiversidade.
Entenda a metodologia que embasa a criação de corredores ecológicos. Os estudos para o traçado do corredor foram desenvolvidos pelo LIS – Laboratório de Inteligência Socioambiental do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Pontões Capixabas: Área especialmente protegida e prioritária
O projeto atua no Monumento Natural dos Pontões Capixabas, uma área 17.496 hectares nos municípios de Pancas e Águia Branca. Criado em 2002, o monumento protege um cenário único de inselbergs, formações rochosas que se destacam na paisagem e abrigam uma rica biodiversidade. Além das estruturas geológicas icônicas, o local conserva remanescentes da Mata Atlântica em diferentes estágios de regeneração, contribuindo para o equilíbrio ambiental.
Sua importância ecológica é notável, pois a unidade de conservação desempenha um papel vital na manutenção dos serviços ecossistêmicos da região, como o controle do clima local e a conservação de recursos hídricos. O patrimônio natural também promove o turismo sustentável, incentivando o desenvolvimento econômico regional e a conscientização ambiental.
Passo 1: Levantamento de áreas prioritárias
Para definir o traçado do corredor ecológico foram utilizadas duas variáveis:
1. Áreas mais importantes a serem conectadas.
A seleção baseou-se no Índice Integral de Conectividade (IIC), que avalia a relevância de cada fragmento florestal considerando seu tamanho e número de conexões com outros fragmentos. No caso dos Pontões Capixabas, foram priorizadas áreas com mais de 2 hectares e distâncias máximas de 500 metros entre si, valor que representa a capacidade média de dispersão das espécies locais. Os dados foram obtidos a partir do MapBiomas e processados em ambiente de geoprocessamento, agrupando fragmentos por similaridade e proximidade.

2. Resistência da paisagem ao fluxo de organismos.
Foi elaborado um mapa de resistência, no qual cada tipo de uso do solo recebeu um “peso” conforme a facilidade ou dificuldade de travessia das espécies. Áreas com vegetação nativa e APPs receberam baixo valor de resistência (peso 1). Lavouras, pastagens e silvicultura tiveram valores intermediários (8 a 15), sendo vistas como zonas estratégicas para restauração. Áreas urbanas e corpos d’água foram classificadas como alta resistência (95 a 100). Essa metodologia permite identificar os caminhos mais viáveis e sustentáveis para restaurar a conectividade da paisagem.

Passo 2: Traçados dos Corredores Ecológicos
Com base nas variáveis de conectividade e resistência, utilizou-se a ferramenta Cost Connectivity do ArcGIS Pro para determinar os caminhos de menor custo ecológico entre os fragmentos prioritários, gerando uma rede otimizada de conexões na paisagem dos Pontões Capixabas.

Passo 3: Análise da Importância dos Trechos dos Corredores Ecológicos para a Conectividade
Cada trecho dos corredores foi avaliado com o indicador IICnum, calculado pelo software Conefor. Essa métrica mede o impacto da remoção hipotética de cada trecho sobre a conectividade geral. Trechos com valores mais altos de IICnum são considerados críticos para manter o fluxo ecológico e, portanto, devem ser priorizados em ações de conservação e restauração.

Passo 4: Seleção das Propriedades Rurais para Diagnóstico e Planejamento de Ações com Adaptações Baseadas em Ecossistemas (AbE)
Após a delimitação dos corredores, foi estabelecida uma faixa de 1 km ao redor de cada traçado, formando as zonas potenciais de intervenção. Dentro dessas zonas foram identificadas 491 propriedades rurais, das quais 207 possuem os maiores passivos ambientais — ou seja, áreas que deveriam estar cobertas por vegetação nativa segundo o Código Florestal Brasileiro. Essas propriedades têm, em média, 4,66 hectares de passivo ambiental, sendo 175 pequenas, 23 médias e 2 grandes. Foram ainda destacadas as 10 propriedades com maiores passivos, com média de 41 hectares cada, consideradas prioritárias para ações de restauração florestal. No total, 217 propriedades foram definidas como prioritárias para o planejamento de ações com Adaptações Baseadas em Ecossistemas (AbE).

Próximos passos
A próxima fase será o diagnóstico socioambiental e econômico de 120 propriedades situadas ao longo dos corredores ecológicos. As visitas de campo e entrevistas buscarão identificar as principais atividades produtivas das famílias, seu potencial de adesão às práticas agroecológicas e as oportunidades de integração entre restauração florestal, produção e renda.
O Projeto Paisagens Climáticas é financiado pelo Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).