Completando 10 anos em 2024, o Programa Monitora, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), desenvolve ações de pesquisa, levantamentos e monitoramentos da natureza junto com a comunidades de Unidades de Conservação (UCs) federais. O IPÊ foi um dos grandes parceiros do programa na Amazônia, ao longo de quase uma década, com o projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade, implementado em 18 UCs. O projeto levantou informações sobre espécies da fauna e da flora em parceria com as comunidades e moradores do entorno das Áreas Protegidas, treinou mais de 1680 pessoas e promoveu a participação social nas pesquisas sobre o bioma. Os dados contribuem para planejamentos e ação de manejo da biodiversidade dessas áreas.
Os sucessos dessa parceria estão relatados em publicações. O MPB encerrou seu ciclo, mas o IPÊ continua com um monitoramento na Flona Caxiuanã, como ação derivada da iniciativa.
Um dos grandes diferenciais desse processo foi a participação social. Em evento na COP16, no Espaço Brasil, do MMA, Cristina Tófoli, pesquisadora do IPÊ e coordenadora do MPB até 2022, comentou que, embora este tenha sido um grande desafio, o projeto só rendeu bons frutos por conta desse engajamento real das pessoas. “O processo de participação social para o monitoramento da biodiversidade ou ações de conservação é demorado, porém, mais legítimo e traz resultados mais consistentes, garantindo uma continuidade das ações. Lembrando que assinatura de lista de presença não é participação social. É necessária uma escuta ativa, uma abertura para a participação e horizontalidade no diálogo, combinando os saberes locais e tradicionais com o conhecimento técnico e acadêmico dos cientistas”, afirmou.
Para a coleta de dados sobre a biodiversidade no campo, as comunidades foram consultadas. Foram elas que indicaram que espécies mais utilizavam e que já identificavam algum tipo de desafio, como o manejo da castanha e do pirarucu. Junto com os técnicos do IPÊ e gestores de UCs do ICMBio, criaram protocolos com questões que deveriam ser respondidas sobre as espécies. Os dados coletados apoiaram uma série de ações. “Interessante notar que houve uma dificuldade inicial pela comunidade científica na aceitação e confiança nos dados levantados pelos monitores comunitários, mas com o tempo foi mostrado que os padrões de coleta continham os mesmos desafios que os da academia”, continua Cristina.
Para ela, a participação comunitária é ainda um meio prático de democratizar a ciência para populações que não têm acesso a esse meio. “Precisamos entender que ainda a ciência é um privilégio para poucos. Assim, ao fazer ciência desta forma colaborativa, integrando saberes locais, você faz democratização da ciência, permitindo acesso a mais pessoas e estimulando que elas façam parte desse processo”.
Painel
A fala de Cristina Tófoli aconteceu no o painel “Desafios e Oportunidades para monitoramento da biodiversidade em regiões megadiversas”, na COP16, e contou com Cecilia Cronemberger, do ICMBio, que falou sobre os resultados do Programa Monitora. “Para que um programa como esse dê certo, ele precisa ser simples, de fácil aplicação e barato, para que possa ser feito por mais tempo”, defende. Ela também lembra que programas como esse precisam estar em conexão com as metas globais de biodiversidade. No caso do Monitora, está relacionado principalmente às metas de redução de ameaças à fauna e flora, garantia de participação social e benefícios compartilhados.
O painel também teve a participação de pesquisadores do Equador e Colômbia, que dividiram com os presentes, os desafios e inovações dentro do tema. O evento foi transmitido pelo canal do MMA no Youtube.
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