Há três anos a bióloga Naiara Rabelo Valle é a coordenadora técnica do Instituto Ecos de Gaia em um projeto de monitoramento de fauna no Maranhão. O projeto é realizado na Reserva Legal de uma empresa que atua nas proximidades com mineração. “Trabalhamos para entender qual é a influência da atividade de mineração para os animais. A caminho do quarto ano, como já identificamos espécies ameaçadas dentro da área, estamos tentando evoluir para o monitoramento específico dessas espécies, como o gato mourisco (Puma yagouaroundi), o gato maracajá (Leopardus wiedii), o guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul), além de algumas espécies de araçari (gênero Pteroglossus)”.
Instalação das armadilhas fotográficas (cameras trap) uma das metodologias passivas para identificar os animais que acessam o local.
Crédito: Instituto Ecos de Gaia
Segundo Naiara, com o monitoramento realizado para a empresa, a equipe do Instituto Ecos de Gaia conseguiu demonstrar que ao lado de uma atividade de alto grau de impacto existem espécies ameaçadas com resiliência para coexistir. “Podemos melhorar essa relação fazendo com que os animais explorem áreas mais distantes”, destaca.
Gato maracajá (Leopardus wiedii)
Crédito: Instituto Ecos de Gaia
Aplicação prática
No trabalho de conclusão de curso da Pós-graduação em Gestão de Negócios Socioambientais da ESCAS, Naiara desenvolveu junto com os colegas o que pode estar no horizonte a médio/ longo prazo. “Elaboramos uma proposta para a utilização da agrofloresta como ferramenta para reduzir as externalidades negativas na mineração do ouro. Em uma atividade com alto grau de impacto, quais externalidades existem e quais a agrofloresta poderia minimizar, reduzir ou até mesmo anular? Foi um trabalho inédito com metodologia de avaliação, uma matriz para demonstrar como cada técnica de agrofloresta consegue se contrapor às externalidades negativas”, explica Naiara.
Quando ingressou no curso da ESCAS, Naiara que também é co-fundadora e presidente do Instituto Ecos de Gaia, buscava avançar na articulação com o setor privado. “Tínhamos muita dificuldade em captar o parceiro privado. Afinal, o que uma empresa ganha fazendo um projeto de conservação? A pós-graduação fez muita diferença na construção dos nossos projetos. Vejo que o ganho dessa bagagem sobre como dialogar com a iniciativa privada foi institucional, não só meu, a partir disso conseguimos captar mais parceiros. Somos uma instituição pequena que tem conseguido fazer projetos com grandes empresas instaladas no estado”.
Naiara conta que fundou o Instituto com o objetivo de alinhar conservação com desenvolvimento sustentável do Maranhão, por meio de parcerias tanto com o poder público quanto com as empresas. “No terceiro setor é possível tanto ser contratado pelas empresas e ao mesmo tempo desenvolver projetos e executá-los dentro do seu objeto social. Entendo o terceiro setor como uma solução integrada para desenvolver projetos que não sejam puramente pesquisa, mas que possam agregar também ao objetivo social. Quando ingressei na pós-graduação não buscava trazer apenas nova perspectiva para o Ecos de Gaia, mas também novas oportunidades de trabalho para a instituição e isso está se cumprindo. A formação da pós-graduação foi fundamental. Na turma, também temos conseguido produzir parcerias pontuais, mas com perspectivas”, conta.
Projeto Nascentes
Naiara também está envolvida com projeto voltado à recuperação de APP – Áreas de Preservação Permanente e ao combate à desertificação no Cerrado do Maranhão. A egressa explica que nesse projeto ela integra a equipe liderada pela engenheira ambiental Sara Sales, também co-fundadora do Instituto. “Estabelecemos um Acordo de Cooperação Técnica com a Codevasf – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba para que pudéssemos receber alguns materiais e equipamentos para mapear as áreas de nascentes do Maranhão e classificá-las de acordo com o seu estado de conservação”.
O Instituto já realizou o mapeamento de mais de 40 nascentes nos biomas do Cerrado e Amazônia, localizadas em cinco bacias hidrográficas, sendo as do Mearim e do Munim as principais. “Passamos para a etapa de intervenção e a última é a de monitoramento. No Parque Natural Municipal da Quinta, por exemplo, contribuímos com a identificação das nascentes e proposição de ações para proteger seus remanescentes florestais. Temos intenção de renovar esse Acordo por mais dois anos para conseguir trabalhar as intervenções que serão necessárias principalmente nas áreas degradadas”.
Mestrado Profissional
Naiara concluiu a pós-graduação em junho de 2021 e em julho do mesmo ano já iniciou no Mestrado Profissional da ESCAS. “O formato do Mestrado Profissional sempre foi muito atraente para mim, como uma bagagem de soluções. Tive essa experiência na pós-graduação e sabia que não iria me arrepender”. Naiara cursa o mestrado com bolsa do NGI – Núcleo de Gestão Integrada ICMBio Carajás. “O IPÊ é uma fonte de inspiração, sou a única nordestina da minha turma e sempre levo muito meu estado comigo. A gente tem potencial para fazer muito e a ESCAS/IPÊ tem me dado o conhecimento e as condições de fazer pelo meu estado. Sou muito grata por integrar o Mestrado, por ter integrado a Pós-graduação, onde aprendi a fazer diferença no meu território”, conclui Naiara.