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Um levantamento feito por um grupo de 30 cientistas, com participação do pesquisador do IPÊ, Rafael Chiaravalloti, revela que cerca de 17 milhões de animais vertebrados morreram nos incêndios no Pantanal, em 2020. Eles contabilizaram as carcaças por meio de amostragens nas áreas queimadas. O estudo foi liderado por Walfrido Tomas, da Embrapa Pantanal.
O impacto dessa perda de biodiversidade é significativo, conforme aponta Rafael, que é também pesquisador da Imperial College London e professor do Mestrado Profissional da ESCAS IPÊ. Ele destaca que o número de 16.952 milhões de vertebrados se refere aos animais que morreram imediatamente por conta dos incêndios, mas os efeitos para a vida selvagem são ainda mais drásticos. “No estudo, destacamos que apesar de ser um número elevado não inclui os animais que morreram buscando refúgio em tocas e também não contabiliza os animais que morreram em consequência dos incêndios, como por exemplo pela dificuldade em encontrar recursos, como água e alimento”.
A pesquisa ressalta que a intensificação dos incêndios está entre as mais visíveis consequências das mudanças climáticas. Em 2020, por exemplo, o bioma registrou 40% de redução no volume de chuva e aumento na temperatura média de 2ºC, desde 1980; essa combinação criou as condições ideais para o cenário de destruição de 2020. “Ações como desmatamento e uso inadequado do fogo aliado às mudanças climáticas tornam o Pantanal um bioma extremamente vulnerável às ações do homem”, destaca Chiaravalloti.
Os resultados do estudo impressionam mesmo quem esteve no campo, contabilizando carcaças, como Gabriel Oliveira, mestrando em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável da ESCAS. “Sempre que havia um grande foco de incêndio, no dia seguinte estávamos no campo, fazíamos transectos – trilhas em linha reta na área queimada em que caminhávamos contabilizando as carcaças. Tinha que ser no dia seguinte porque a degradação da carcaça é muito rápida por conta de predadores como gaviões, por exemplo. No campo, a gente já tinha uma ideia de que pequenos mamíferos e répteis teriam sido muito atingidos, mas o número do estudo foi chocante”.
Plano estratégico para o Pantanal
Como forma de evitar que futuros incêndios no Pantanal tenham o impacto observado em 2020, Rafael Chiaravalloti está à frente de um grupo de mais de 70 pesquisadores que busca avançar em uma agenda com potencial para a conservação do bioma.
“Em junho, nos reunimos em dois Workshop Virtuais que avaliaram as bases de um planejamento estratégico para áreas protegidas no bioma. Junto com os participantes desenvolvemos dois Relatórios com diretrizes para a conservação: áreas protegidas, pecuária, pesca e ecoturismo no Pantanal (em português). Os documentos trazem a importância de trabalharmos com plano de manejo integrado das áreas protegidas, pensando na gestão da paisagem. Vale o destaque para os mecanismos alternativos de criação de áreas protegidas, como por exemplo por meio do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS)”, como aponta o pesquisador. O Pantanal, apesar de ser considerado Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco, conta com uma pequena área protegida por Unidades de Conservação públicas ou privadas.
Entre as medidas com potencial de aumentar o tamanho da área protegida no bioma está a criação de RPPNs – Reserva Particular do Patrimônio Natural. Atualmente, segundo o relatório, o Pantanal conta com 22 áreas protegidas nessa categoria. Dessas, 45% pertencem a proprietários privados e 55% a instituições. Entre os desafios está a atualização do Plano de Manejo, 36% das RPPNs possuem o plano, no entanto apenas uma RPPN (4%) atualizou o documento nos últimos cinco anos.
Os relatórios também apontaram a necessidade de expandir planos para promoção da produção de carne sustentável no Pantanal, o fortalecimento da cadeia da pesca e a profissionalização do turismo de base comunitária na região.
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