A troca de experiências sobre coleta de sementes, plantio e cultivo de espécies nativas da Mata Atlântica e Cerrado mobilizou proprietários de viveiros comunitários localizados na região do Pontal do Paranapanema e a equipe de Restauração Florestal do IPÊ que atua na região para uma visita à FEPE – Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão, da FEIS – Faculdade de Engenharia/Unesp – Campus de Ilha Solteira. Os estudos realizados na fazenda são desenvolvidos pelos professores Mário Luiz Teixeira de Moraes e José Cambuim, das disciplinas de Genética de Populações e Biomas Brasileiros, respectivamente.
A visita começou com apresentação do professor Moraes sobre técnicas de coleta de sementes para produção de mudas de espécies florestais nativas. Para ele, a seleção das árvores matrizes com foco em melhoramento genético é o primeiro passo. Uma informação importante na coleta das sementes se refere aos pontos da copa onde devem ser retirados os frutos e a quantidade de sementes ideal para o plantio.
Iraci Lopes Corado, uma das proprietárias de viveiro, conta que a partir do conhecimento obtido vai coletar além da semente, material orgânico próximo à base da árvore. “Tenho 21 anos de experiência na área e essa visita mostrou que sempre há conhecimentos para agregar. Esse material que vou passar a coletar é rico em fungos e bactérias e será utilizado no momento do plantio misturado ao substrato como forma de obter melhor germinação das sementes. Gravei vídeos da aula dos professores, vou rever esses conteúdos e colocar em prática com o intuito de produzir mudas de ótima qualidade”, pontuou.
Já o professor Cambuim destacou a importância de não colocar na mesma bandeja mudas com necessidade de irrigação distintas. “Por exemplo, a família dos ipês (Handroanthus e Tabebuia) requer solo bem úmido e com boa drenagem, diferente da Pimenta de Macaco (Xylopia aromática) que em contato com solo muito úmido apodrece as raízes. Assim, ambas as espécies não podem estar na mesma bancada, já que têm diferentes necessidades hídricas”.
Para Valter Ribeiro Campos, viveirista há 15 anos, a visita foi muito produtiva. “Os professores trouxeram informações preciosas em relação à coleta, à quebra de dormência e ao plantio das sementes que eu não tinha conhecimento, por exemplo, para limpar as sementes de Jerivá (Syagrus romanzoffiana) é preciso deixá-las de molho por uma semana no cal virgem. Já participei de muitas trocas de experiências e posso dizer que essa foi uma das melhores”.
Restauração Florestal
Durante a visita, o grupo conferiu de perto testes de progênies – utilizados para analisar se as árvores “filhas” da matriz têm a mesma qualidade genética da mãe/matriz ou se igual, superior ou inferior. O teste visa a conservação genética das populações, determinação da estrutura genética, produção de sementes melhoradas, em diferentes sistemas de plantio, coordenados pelo professor Moraes.
De acordo com ele, o segredo dos testes de progênies é aprender com a natureza. Por exemplo, é ir até a floresta nativa selecionar um Jatobá (Hymenaea courbaril) e verificar quais outras espécies estão se desenvolvendo no entorno. Após a análise é reproduzir o modelo da natureza nos testes e depois nas restaurações florestais. “Aqui na FEPE vocês tiveram a oportunidade de conhecer vários experimentos copiados da natureza, porém para a restauração florestal no Pontal do Paranapanema é preciso ir até o Parque Estadual Morro do Diabo, verificar o comportamento do jatobá, da aroeira, entre outras espécies, e replicar nos plantios. Esse é o segredo da restauração: copiar a natureza com base no bioma em que o plantio será instalado”, destacou.
A Aroeira (Myracrodruon urundeuva), outro exemplo citado pelo professor, é uma espécie dióica, isto é, há árvores fêmeas e árvores machos, que apresentam diferenças na floração. “A flor masculina oferece pólen e atrai as abelhas, assim quando a flor feminina florescer será polinizada. A polinização é fundamental para a formação do fruto, caso contrário, ocasiona o aborto floral. Assim, nos arranjos de restauração florestal é preciso distribuir as aroeiras machos próximas às aroeiras fêmeas, já pensando no futuro em relação às coletas de sementes e também na regeneração natural”.
Todo o trabalho de Moraes é voltado para a tentativa de aumentar a variabilidade genética das espécies para a conservação da biodiversidade das áreas protegidas dos biomas Mata Atlântica e do Cerrado (floresta de transição) que ainda restam no estado de São Paulo.
Haroldo Borges Gomes, coordenador de campo no IPÊ, destaca a importância dessa troca de experiência. “O intuito é tralharmos com restauração ecológica garantindo assim conservação genética das espécies florestais por muitas gerações”.