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Na Amazônia, os resultados obtidos com o monitoramento de três alvos da biodiversidade mobilizaram mais de 70 pessoas no Encontro de Saberes realizado em novembro (11 e 12) na Comunidade Pupuaí, na Reserva Extrativista do Médio Juruá. O compartilhamento dos dados e dos aprendizados sobre o automonitoramento da pesca, monitoramento do pirarucu e de quelônios deu o tom ao Encontro que reuniu monitores da Reserva Extrativista do Médio Juruá e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, gestores das Unidades de Conservação (UCs), pesquisadores de universidades, representantes do ICMBio – Instituto Chico Mendes da Biodiversidade e de organizações da sociedade civil.
O evento integra o projeto MPB – Monitoramento Participativo da Biodiversidade, uma parceria entre IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, por meio do Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade – MONITORA e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica – CEPAM.
“Todos os alvos, resultados, interpretações e experiências foram debatidos amplamente entre todos os monitores, o que trouxe novos olhares, insights interessantes e novas impressões. Esse é um momento muito importante para percebermos pontos de fragilidade, lacunas e questões que devem ser melhoradas”, comentou Leonardo Rodrigues, coordenador pedagógico do MPB-IPÊ.
Gilberto Olavo, gestor da RDS Uacari, destacou a importância de garantir a continuidade da troca de conhecimentos entre os mais diversos públicos. “O Encontro dos Saberes tem que ser permanente e contínuo, assim contamos com uma ferramenta necessária para fazer a gestão das Unidades de Conservação e ajudar na preservação e conservação da biodiversidade em todas as suas cadeias, seja na pesca, no manejo do pirarucu, na preservação e conservação dos quelônios”.
Nesta edição do Encontro de Saberes, estiveram reunidos monitores da Reserva Extrativista do Médio Juruá e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, pesquisadores do IPÊ, gestores das Unidades de Conservação, pesquisadores e representantes do ICMBio – Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, da SEMA – Secretaria do Estado de Meio Ambiente, da UFAM – Universidade Federal do Amazonas, ASPROC – Associação dos Produtores Rurais de Carauari, AMECSARA – Associação dos Moradores Extrativistas da Comunidade São Raimundo e Instituto Juruá.
Pesca
O automonitoramento é o acompanhamento das mudanças nas condições dos rios, lagos e igarapés e também nas relações entre os peixes e o ambiente em que vivem. Acompanhar o comportamento deste indicador ao longo dos anos ajudará na estruturação de medidas que garantam o uso sustentável dos recursos pesqueiros.
As informações compartilhadas no Encontro são o resultado do monitoramento em duas Unidades de Conservação, desde 2018, sendo: 823 formulários, de 13 comunidades e 47 famílias que monitoram suas pescarias na Resex Médio Juruá; e de 756 formulários, de 15 comunidades e 38 famílias que monitoram suas pescarias na RDS Uacari. No período de 2018 a 2020, os monitores informaram a captura de 6.479 peixes, e identificaram cerca de 40 grupos de espécies de peixes, dentre elas, surubim (Pseudoplatystoma corruscans), matrinxã (Brycon cephalus), tambaqui (Colossoma macropomum), curimatá (Prochilodus lineatus) e aruanã (Osteoglossum bicirhossum).
Pirarucu (Arapaima gigas)
Quanto ao monitoramento do maior peixe com escamas de água doce do mundo é possível observar as variações ambientais dos locais onde vivem, avaliar o nível de estoque e definir se houve aumento ou diminuição dos peixes. A partir dessas informações é possível inclusive obter dados sobre como as comunidades se organizam para realizar o manejo, gerar renda e evidenciar a importância dessas pessoas para a conservação do pirarucu.
No Encontro, os participantes compartilham conhecimentos sobre os resultados do monitoramento do pirarucu, entre 2018 e 2019, que registrou aumento de pirarucus contados e pescados nas três áreas monitoradas (Resex, RDS e Acordo de Pesca). A proporção de adultos e bodecos (pirarucus jovens com menos de 1,5m) está equilibrada, com leve predominância de bodecos, alinhada aos índices de conservação favoráveis para a espécie manejada. Além disso, a proporção de machos e fêmeas também apresenta harmonia com leve prevalência dos machos em relação às fêmeas.
O manejo do pirarucu no Médio Juruá, garante renda familiar anual entre R$ 1.500,00 e R$ 4.500,00 dependendo da área de manejo. A participação de homens, mulheres e jovens no monitoramento do pirarucu também revela proporcionalidade, sendo 38%, 32% e 30% respectivamente.
Sr. Francisco da Gama, monitor da comunidade Bom Jesus, localizada no Médio Juruá, ressalta o monitoramento como estratégia para a conservação da biodiversidade. “Considero esse momento muito importante para o conhecimento e desenvolvimento social de toda a nossa comunidade. O trabalho que a gente faz aqui e que foi debatido no Encontro não é apenas para cuidar do nosso peixe, mas sim cuidar de toda a natureza, preservá-la como um todo”.
Quelônios
Os resultados do monitoramento de quelônios, apoiado pelo projeto MPB, nos últimos três anos, mas que já ocorre há cerca de 30 anos nas comunidades, mostraram um valor estável de filhotes soltos de tracajá (Podocnemis unifilis) e o aumento da desova no número de fêmeas da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) no território. Além de uma preocupação nos resultados da espécie Iaçá, trazidos pelos pesquisadores do projeto Pé-de-Pincha (UFAM). “Essa espécie recebe maior pressão de pesca, principalmente pelo comércio ilegal e precisa de um maior foco de monitoramento para entendermos o estado de conservação e manutenção da espécie no rio Juruá”, comenta Virgínia Bernardes, pesquisadora do IPÊ.
Antecedendo o Encontro dos Saberes, o IPÊ realizou uma mobilização nas duas Unidades de Conservação, no início do mês, com objetivo de interpretar e discutir junto com os monitores os resultados de Monitoramento do pirarucu e do Automonitoramento da pesca.
O que é o encontro de saberes – O Encontro de Saberes tem se revelado uma experiência muito rica e tem aumentado o interesse das comunidades na luta pela conservação da biodiversidade. Os encontros de saberes oferecem aos pesquisadores, monitores e gestores, um diálogo entre eles para que cada um, com o saber que possui, com a sua experiência, com sua vivência no monitoramento, dialogue olhando para a biodiversidade a partir da lente da ciência, no caso dos pesquisadores; jurídico-administrativa, no caso dos gestores; e da lente do conhecimento tradicional e da sua experiência vivencial, no caso dos monitores.
A atividade faz parte da parceria entre IPÊ e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (CEPAM), que faz parte do Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (MONITORA), Subprograma Aquático Continental.
A iniciativa faz parte do projeto de “Monitoramento Participativo da Biodiversidade em Unidades de Conservação da Amazônia”, desenvolvido pelo IPÊ em parceria com o ICMBio, com apoio de Gordon and Betty Moore Foundation e USAID.
Sobre o MPB
O Projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade em Unidades de Conservação da Amazônia (MPB) apoia a implementação do Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (Monitora), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e conta com apoio da Fundação Gordon e Betty Moore, USAID, Programa ARPA e mais de 20 instituições locais.
Desde 2013, o projeto realiza o monitoramento participativo da biodiversidade e promove o envolvimento socioambiental para o fortalecimento da gestão e da conservação da biodiversidade em unidades de conservação da Amazônia. Esse processo é estratégico para entender e moderar a extensão de mudanças que possam levar à perda de biodiversidade local, subsidiar o manejo adequado dos recursos naturais e promover a manutenção do modo de vida das comunidades locais e a obtenção de renda de maneira sustentável. A principal motivação do MPB é fomentar a participação social como alicerce para compreensão e conservação da biodiversidade.
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