Além de visibilidade, o reconhecimento ao trabalho das pesquisadoras por renomadas instituições é estratégico para a continuidade das pesquisas nos projetos. Gabriela Rezende, Patrícia Medici e Fernanda Abra lideram projetos voltados à conservação da biodiversidade brasileira, por meio de diferentes projetos, confira.
Gabriela Rezende
Há uma década, a pesquisadora Gabriela Rezende é a coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto que deu origem ao IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. Em comemoração ao mês da mulher, março, Gabriela recebeu o reconhecimento do Disney Conservation Fund, um dos principais financiadores do Programa, como uma das 11 mulheres incríveis que causam impacto positivo na conservação em todo o mundo, além do valor de 50 mil dólares que será investido no programa.
“Com esse recurso será possível avançar nas ações de manejo populacional do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) e do habitat no Pontal do Paranapanema, consolidar nosso programa de Saúde Única, avançar nas pesquisas usando bioacústica e sobre o impacto das mudanças climáticas nos micos, além de desenvolver diversas ações de educação ambiental e comunicação”.
Entre os principais resultados obtidos pelo projeto junto com uma verdadeira rede de parceiros, apoiadores e financiadores está a melhoria na situação do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) que, em 2008, após 24 anos de ações voltadas à sua conservação, passou de “Criticamente Ameaçado” para “Em Perigo” na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Patrícia Medici
Pesquisadora e coordenadora da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ, está entre as cinco mulheres que receberam o Women of Discovery Award, uma premiação da WINGS World Quest – organização sem fins lucrativos que financia e potencializa as pesquisas de mulheres visionárias ao redor do mundo.
“A premiação Women of Discovery do WINGS é extremamente prestigiosa! É uma organização que trabalha fortemente para empoderar a atuação das mulheres no mundo da pesquisa e conservação da natureza. Existe todo o prestígio associado a ser parte desse seleto grupo e uma contribuição financeira que vem junto com a premiação, no valor de 20 mil dólares, para fortalecer nossos esforços de conservação da anta no Brasil. Adicionalmente, o prêmio é uma oportunidade gigantesca para alcançar novos públicos, tais como as pessoas que estarão presentes na premiação em Nova Iorque, em outubro. Também, é uma oportunidade de falar, aqui no Brasil, sobre a anta ganhando mais um prêmio e com isso destacar a importância da conservação da espécie”, ressalta a pesquisadora. Com a premiação, Patrícia Medici se torna fellow da WINGS e passa a compor uma comunidade de mais de 100 mulheres cientistas e conservacionistas que já foram premiadas desde 2003.
As pesquisas da INCAB tiveram início em 1996, na Mata Atlântica do Pontal do Paranapanema. Em 2008, o projeto expandiu as ações para o Pantanal. Em 2015, passou a estudar a anta no Cerrado e, em 2021, começou a atuar na Amazônia. Recentemente, em 2023, o projeto iniciou a expansão dos esforços para a Caatinga. O projeto conta com o maior banco de dados sobre a espécie no mundo.
Fernanda Abra
A pesquisadora associada ao IPÊ Fernanda Abra foi reconhecida em maio com o Prêmio Whitley, da organização britânica Whitley Fund for Nature (WFN), considerado o Oscar da Conservação da Natureza, pelo trabalho que desenvolve no “Projeto Reconecta”, que tem o apoio institucional do IPÊ. No projeto, Fernanda constrói pontes de dossel de baixo custo e monitora mamíferos arborícolas sobre a rodovia BR-174, uma das que cortam a Floresta Amazônica (em uma região entre os estados do Amazonas e Roraima). Até agora, 30 pontes artificiais já foram implementadas. Fernanda também é professora da ESCAS, escola do Instituto, e colaboradora dos projetos da instituição com o mesmo foco, o de proteger a fauna silvestre do impacto de rodovias.
“Fiquei muito honrada por esse prêmio, primeiro porque vou poder ampliar as ações na Amazônia, e segundo porque eu pude contar com apoiadores super comprometidos, como a população indígena, o IBAMA, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), o IPÊ, a UFAM – Universidade Federal do Amazonas e o Smithsonian. Precisamos de mais instituições e órgãos interessados em criar modelos de rodovias mais sustentáveis para a fauna”.
A equipe registrou 500 travessias bem-sucedidas ao longo de um período de 11 meses. Apenas em 2022, as pontes artificiais já foram usadas por oito espécies arbóreas, incluindo o sagui-de-mão-dourada – um importante símbolo cultural para os Waimiri-Atroari, comunidade indígena local que participa ativamente do projeto.