Neste mês, mais sete pontes de dossel foram instaladas pelo Projeto Reconecta para possibilitar que animais em especial arborícolas (que vivem nas árvores e não costumam descer no chão da floresta) realizem travessias seguras, por meio de pontes de dossel sobre rodovias, avenidas e estradas. As novas pontes representam também a primeira ampliação do Projeto da pesquisadora associada ao IPÊ Fernanda Abra, que passa atuar, além da BR-174, nos estados do Amazonas e Rondônia, também no município de Alta Floresta, no Mato Grosso. Ao todo, o Projeto Reconecta contabiliza 39 pontes. O recurso para expansão do projeto veio do Prêmio Whitley, considerado o Oscar da Conservação da Natureza, conquistado por Fernanda neste ano.
As espécies-alvo da ação em Alta Floresta são seis primatas ameaçados de extinção devido à perda de hábitat, fragmentação e colisões veiculares: macaco-aranha-da-cara- preta, mico-de-Schneider, bugio-ruivo-de-Spix, bugio-ruivo-do-Purus e o recém-descoberto zogue-zogue-de-Alta-Floresta, que está entre os primatas mais ameaçados do mundo, segundo a IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza.
“Começar o Reconecta em Alta Floresta nos dá um novo horizonte, de reconectar ambientais naturais cortados por viários urbanos. Esperamos que Alta Floresta seja o início da expansão deste Projeto em muitos outros municípios da Amazônia”, destaca Fernanda.
Reconecta e “Alta Floresta Não Atropela”
O Projeto Reconecta em Alta Floresta faz parte de uma iniciativa do município chamada de “Alta Floresta Não Atropela” incluindo diversos órgãos, sociedade civil organizada e empresas privadas. Após visitas técnicas de Fernanda Abra na cidade, o grupo se mobilizou para implementar o Programa e iniciar um Plano Urbano de Mitigação para redução de atropelamentos de animais silvestres e incremento de conectividade entre ambientes naturais. Esse plano não possibilita somente as travessias seguras dos animais, mas também promove um tráfego mais seguro para todos, pelo alto potencial de redução de acidentes. O Programa Alto Floresta Não Atropela também mobilizou a instalação de placas de sinalização de travessia de fauna, a instalação de um outdoor na cidade para iniciar a contagem de animais que usarão as pontes de dossel e deixar a comunidade de Alta Floresta atualizada sobre o sucesso do Projeto.
O Projeto Reconecta liderará o monitoramento das sete pontes de dossel, por meio de armadilhas fotográficas. O monitoramento terá o apoio de estudantes e acadêmicos locais da UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso e da UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso, mais uma forma de contar com o envolvimento da comunidade. Na semana de construção das pontes de dossel (14 a 18 de outubro), a equipe do Projeto Reconecta realizou a montagem das estruturas em uma praça como forma de aproximar a comunidade da ação.
O Programa Alta Floresta Não Atropela é uma realização do Projeto Reconecta, prefeitura Municipal de Alta Floresta, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Green Yellow, Fundação Ecológica Cristalino (FEC) e Fazenda Anacã. São apoiadores do Programa: 7ª Companhia Independente Bombeiros Militar – 7ª CIBM – Alta Floresta, Diretoria Regional de Alta Floresta – SEMA/MT, Unidade Técnica do IBAMA e ICMBio de Alta Floresta, Aeroporto de Alta Floresta/COA, Instituto Ecótono, UNEMAT/AFL e Conselho Municipal de Meio Ambiente – COMDEMA.
Prêmio aliado da conservação
O reconhecimento de Whitley, da organização britânica Whitley Fund for Nature (WFN), veio pelo trabalho realizado pelo Projeto Reconecta na Rodovia BR-174 nos estados do Amazonas e Roraima, com 32 pontes de dossel. “Essa é a rodovia no Brasil com o maior número de medidas de mitigação para animais arborícolas”, destaca Fernanda. Com parte do recurso obtido pelo prêmio e novos apoiadores como a ReWild, Fernanda continua a monitorar as pontes de dossel até o segundo semestre 2025 e apoiando dessa forma também a Comunidade Indígena Waimiri-Atroari.
No acumulado de 19 meses, as cameras trap registraram 829 travessias bem-sucedidas, de oito espécies. O Projeto Reconecta tem apoio do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, do IBAMA, do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e do Smithsonian’s National Zoo. Na BR-174 conta também com apoio da UFAM – Universidade Federal do Amazonas.
Além de pesquisadora associada ao IPÊ, Fernanda também é pesquisadora pós doutoral do Smithsonian nos Estados Unidos, professora do mestrado da ESCAS – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, escola do Instituto, e colaboradora dos projetos da instituição com o mesmo foco, o de proteger a fauna silvestre do impacto de rodovias.