Mais de 30 profissionais entre gestores, analistas de órgãos governamentais, pesquisadores e representantes de concessionárias de manejo florestal estiveram reunidos nos dias 14 e 15 de fevereiro durante a Oficina de Monitoramento da Biodiversidade em Área Protegida com Concessão Florestal, realizada na sede do Ibama, em Brasília. O evento marca o início da frente de Monitoramento da Biodiversidade do Projeto Estratégia Brasileira de Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas com apoio financeiro e técnico do Serviço Florestal dos Estados Unidos e com a parceria do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, do Ibama – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e do Serviço Florestal Brasileiro.
A mesa de abertura reuniu lideranças-chave na área com destaque para os órgãos governamentais com Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama; Anderson Barreto Arruda, assessor na Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos – SEPPI, da Casa Civil, Presidência; Marcus Vinícius Silva Alves, diretor-Geral substituto, do Serviço Florestal Brasileiro; Marília Marques Guimarães Marini, coordenadora geral da Coordenação de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade, representando a Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade – CGPEQ/DIBio/ICMBio; além de Pedro Constantino, assessor técnico de Projetos, do Serviço Florestal dos Estados Unidos, e de Suzana Pádua, presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Pedro Constantino, do Serviço Florestal dos Estados Unidos, destacou a importância da articulação na esfera da conservação da biodiversidade. “Nos últimos 10 anos, estamos trabalhando com foco na produção extrativista das áreas protegidas e mais recentemente se formou um compromisso de buscar o acompanhamento da sustentabilidade de uso desses recursos. Como já existe uma parceria de longa data com o ICMBio e com interesse de envolver diversos atores da cadeia de valor da madeira, a gente convidou o IPÊ, que é uma instituição que também trabalha com monitoramento da biodiversidade para enfrentar esse desafio de gerar informações sobre biodiversidade nas áreas de concessão florestal. Para todas as instituições que estão aqui, não é um desafio fácil, cada um traz um aporte importante para a caminhada, e que seja útil para todos nós que buscamos essa conservação da natureza nas áreas protegidas e nas áreas de concessão”.
Já Marília Marini, representante da Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade – DIBIO/ICMBio, pontuou o case que é o Programa Monitora e a oportunidade que esse novo projeto representa. “Acredito que temos um grande aprendizado, temos o Monitora fortalecido, acontecendo em mais de 100 unidades de conservação graças a esse tipo de proposta. Nesse piloto (na Flona de Caxiuanã/no Pará) vamos entender como acontecem todas as relações interinstitucionais e queremos ter vida longa no monitoramento em área de concessão florestal”.
Marcus Vinícius Silva Alves, diretor geral substituto, do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), reforçou as possibilidades que o novo projeto apresenta. “Quanto mais tivermos a oportunidade de demonstrar o rigor e a capacidade das florestas cumprirem com o seu papel, não só econômico, mas socioambiental, maiores serão as oportunidades no futuro próximo; talvez a única forma de produção não só de madeira, mas de produtos não-madeireiros e de serviço das florestas nacionais brasileiras, especialmente na Amazônia. Para nós do SFB, a expectativa é que essa oficina para a Flona de Caxiuanã lance as bases para todas as áreas de florestas sob concessão florestal.”
Suzana Machado Pádua, presidente do IPÊ, destacou a relevância de tantas instituições envolvidas nesse projeto. “Se me dissessem isso há 30 anos, quando a gente começou, eu não acreditaria que seria possível acontecer hoje. Estas instituições guardam a maior riqueza do nosso país. A biodiversidade não tem igual e é sem dúvida nenhuma um grande patrimônio que o Brasil tem. Nesse momento, a gente tem muito a celebrar, estamos renascendo das cinzas, e é um momento de celebração muito grande. Agradeço a todos os envolvidos que estão participando da proteção dessa riqueza toda. O IPÊ, exatamente nesse tema trabalhou muito afinado com o Monitora, nós construímos projetos juntos, e o Projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade demonstrou uma coisa bonita que é a integração entre os conhecimentos científico e tradicional, com as populações locais”.
Anderson Barreto Arruda, assessor na Secretaria Especial de Parcerias e Investimentos/ Casa Civil, reforçou como a oficina agrega ao Programa de Parcerias de Investimentos, na estruturação das concessões florestais. “Entendemos que ferramentas como essa conseguem desenvolver indicadores que permitem incluir o componente ambiental na estruturação das concessões, algo que a gente não tinha e passou a ser uma prioridade na gestão do governo. É uma ferramenta que vai nos auxiliar a partir da modelagem das concessões florestais e se estender para outras áreas. Essa é uma missão que recebemos para todas as concessões seja de ativos ambientais, florestais ou de estrutura. Somos parceiros de vocês também nesse trabalho”.
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, mencionou a importância de retomar a capacidade de diálogo com a sociedade e demonstrar que a floresta tem valor. “Se não conseguirmos fazer isso, vamos perder o nosso maior patrimônio. Estamos em um momento em que começam a surgir os créditos de biodiversidade, as certificações hoje de carbono estão exigindo o monitoramento da biodiversidade. O ponto principal é fazer as conexões entre as informações, saber o que a gente está conservando. Eu acredito muito nessa oportunidade de enfrentar o processo de grilagem no Brasil com concessão florestal. Tive a oportunidade de conhecer concessão que não tinha mais floresta, onde havia a concessão para restauração. Precisamos abrir os olhos para outras modalidades de concessão, não somente em extração seletiva de madeira, para que nossas florestas possam continuar vivas, com um olhar não só para o que está dentro, mas também com a relação com o entorno e seus aspectos socioeconômicos”.
Anderson Arruda, assessor da SEPPI,.da Casa Civil; Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama; Suzana Padua, presidente do IPÊ
Leonardo Rodrigues, pesquisador do IPÊ e moderador do evento, destacou que a própria composição da mesa foi uma proposta de diálogo interinstitucional. “Desde o início buscamos trazer os variados olhares e saberes para a Oficina, seja gerencial, científico e tradicional. A partir dos aprendizados na Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia – com o Projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade/IPÊ – já sabemos que é preciso buscar caminhos e estratégias dessa integração entre variados setores e atores para que de fato esse conhecimento sobre a biodiversidade se espalhe na sociedade de forma efetiva”.
Integração desde o início
Com relação aos principais objetivos do evento, Débora Lehmann, que coordena o componente Monitoramento da Biodiversidade em Concessão Florestal do Projeto Estratégia Brasileira de Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo/IPÊ, revela avanços. “Já na Oficina iniciamos o arranjo interinstitucional envolvendo as diretorias e coordenações de ICMBio, Ibama e do Serviço Florestal, além do fortalecimento do arranjo local com a concessionária e os profissionais das instituições-chave que estão na linha de frente. Um diferencial também é o projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade que envolverá também as comunidades. Vamos capacitar as comunidades locais e as equipes tanto do ICMBio quanto da concessionária para que todos tenham conhecimento de como é realizado o monitoramento. Essa formação é conduzida pelos analistas ambientais dos Centros de Pesquisa do ICMBio, pontos-focais do Programa Monitora com apoio do IPÊ. A previsão é de que o monitoramento tenha início em junho, contando com técnico e monitores locais da biodiversidade. Após o primeiro ciclo de coleta de dados será realizado o Encontro dos Saberes na Flona de Caxiuanã com todos os atores envolvidos para avaliar o processo”.
Anderson Arruda, assessor da SEPPI,.da Casa Civil; Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama; Suzana Padua, presidente do IPÊ; Marcus Vinícius Silva Alves, diretor-geral do SFB, e Débora Lehmann, que coordena o componente Monitoramento da Biodiversidade em Concessão Florestal do Projeto Estratégia Brasileira de Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo/IPÊ