Em estudo inédito, a equipe da INCAB-IPÊ parte para expedição ao bioma que tem apenas 9% de sua área legalmente protegida
Já imaginou poder apoiar uma pesquisa focada em investigar se as antas estiveram mesmo historicamente presentes na Caatinga e – se sim – entender os principais motivos que levaram à sua extinção? Em fevereiro, você tem a chance de apoiar a EXPEDIÇÃO CAATINGA – EM BUSCA DA ANTA PERDIDA, da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, um dos projetos do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, que buscará indícios históricos da presença da anta brasileira (Tapirus terrestris) no bioma, onde a espécie é considerada extinta há pelo menos 3-5 décadas, segundo a Lista Vermelha Nacional do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Acesse a página oficial da expedição e faça sua doação.
Patrícia Medici, principal referência sobre a espécie no mundo e coordenadora da INCAB-IPÊ, destaca a existência de pouquíssima informação sobre a anta na Caatinga: “Existe um déficit de informações sobre a ocorrência histórica da anta brasileira no bioma, bem como sobre os fatores que levaram ao seu desaparecimento”.
Apesar de aproximadamente metade da Caatinga ainda ser representada por habitat nativo, a maioria destes remanescentes estão potencialmente expostos a atividades humanas. Apenas 9% da Caatinga está sob alguma forma de proteção legal. “É provável que a anta brasileira ocorresse mais pelo interior da Caatinga há cerca de 30 anos, em baixíssimas densidades, e que tenha sido extinta por perda de habitat e caça. Por outro lado, a espécie pode ter sempre ocorrido somente nas áreas mais úmidas nas bordas da Caatinga. In loco, será possível compilar informações essenciais para os processos de avaliação da categoria de ameaça da espécie no bioma e no Brasil, bem como para o planejamento de ações conservacionistas, contribuindo com futuras ações de manejo, conservação e proteção”, completa a pesquisadora.
A espécie é considerada a JARDINEIRAS DAS FLORESTAS por sua enorme capacidade de dispersar sementes e otimizar a germinação das mesmas sob a ação de seu trato digestivo. Desta forma, a anta favorece a renovação do próprio habitat. Como precisam de grandes áreas para viver, ações para a conservação da espécie beneficiam uma série de outros animais. Na lista vermelha da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza – a anta brasileira é classificada como vulnerável à extinção. O mesmo vale para a lista de espécies ameaçadas brasileiras do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Apoie a ciência
As doações obtidas por meio da campanha serão utilizadas para a realização da expedição que estará operante durante todo o mês de março. A equipe seguirá uma rota previamente estabelecida cruzando o norte de Minas Gerais, Bahia e Piauí. “Nossa rota inclui áreas caracterizadas como de transição entre a Caatinga com Cerrado e Mata Atlântica, onde a ocorrência histórica das antas foi apontada por alguns gestores de Unidades de Conservação e pesquisadores atuando na região. A expedição passará por 16 UCs federais e estaduais localizadas em potenciais áreas de ocorrência histórica e/ou atual da anta brasileira. No circuito também estão vilarejos como Queixo D’Anta (no Boqueirão da Onça) e Antas (nas proximidades do Raso da Catarina), na Bahia, e que os nomes das localidades são potenciais indícios da presença histórica da anta”, pontua Patrícia Medici.
Multidisciplinar
Além de biólogos e veterinários, a equipe da expedição contará também com comunicadores e especialistas na temática da coexistência humano-fauna. A compilação de dados se dará por entrevistas com membros das comunidades locais, particularmente anciões, líderes comunitários, pessoas que caçavam ou tratavam e/ou vendiam peles no passado, além de gestores/analistas de unidades de conservação. O objetivo primordial será entender onde as antas viviam e identificar os motivos de seu desaparecimento.
“Os relatos das comunidades locais são extremamente preciosos para a ciência. Vamos entrevistar pessoas que terão os relatos analisados sob duas perspectivas: codificação e narrativa. A codificação é um método que identifica quais temas aparecem mais nas falas das pessoas, enquanto a narrativa revela o contexto no qual as declarações são articuladas durante a entrevista”, explica a coordenadora da INCAB-IPÊ.