Oficina colaborativa reuniu comunidades, instituições e especialistas para construir diretrizes do Plano no âmbito do projeto ARR Corredores de Vida durante a Sexta ConsCiência
A quarta e última edição da Sexta ConsCiência de 2025 teve como foco estimular o debate para o desenvolvimento do Plano de Convivência entre Humanos e Fauna no Pontal do Paranapanema, oeste paulista. O encontro realizado no fim de novembro (28), no Parque Estadual Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP), reuniu mais de 80 pessoas ligadas à cadeia da restauração florestal e atores locais de instituições como: Fundação Florestal, ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ITESP – Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo, Plano de Ação Mútua (PAM), usinas sucroalcooleiras Atvos e UMOE, professores da rede municipal e representantes da comunidade entorno.
A Sexta ConsCiência é uma iniciativa do projeto ARR Corredores de Vida, uma parceria entre o IPÊ e a Biofílica, que promove reflexões sobre temas ambientais e científicos. Segundo Aline Souza, coordenadora de projetos de Comunidades do IPÊ, a oficina se tornou necessária porque a restauração florestal ganhou escala na região — já são quase 7 mil hectares restaurados, o equivalente a 7 mil campos de futebol. Com a floresta em crescimento, a fauna voltou a ocupar caminhos naturais e a circular pelos corredores ecológicos, muitos deles próximos aos assentamentos da reforma agrária. Esse novo cenário aproximou as comunidades da biodiversidade local e tornou mais frequentes os relatos de avistamentos de animais como antas, onças-pardas, primatas, entre outros; evidenciando a importância de dialogar sobre formas de convivência harmônica entre pessoas e a vida silvestre.
No entanto, para fortalecer uma convivência segura e respeitosa entre pessoas e fauna silvestre, o projeto Corredores de Vida organizou a oficina com o objetivo de iniciar, de forma coletiva, a criação de um Plano de Convivência entre Humanos e Fauna. O documento irá orientar como as pessoas devem agir diante de encontros com animais silvestres, como proteger criações e reduzir atrativos no entorno das casas, reconhecendo que, assim como os moradores, a fauna também reage à presença humana. A proposta é promover comportamentos que aumentem a segurança de todos e contribuam para a proteção da biodiversidade.
Na prática
A oficina foi ministrada pelo biólogo e facilitador da Plan4coex, Silvio Marchini, com mais de 20 anos de experiência na relação entre humano e fauna. A metodologia utilizada partiu da vivência dos participantes em relação à presença da fauna silvestre no cotidiano, tanto no trabalho como também nas comunidades próximas às áreas restauradas via projeto Corredores de Vida. No início de 2026 deve ser lançado o documento. Nesse momento, a equipe está trabalhando na consolidação das informações e das estratégias abordadas. O documento contará com sete frentes prioritárias: atropelamento, incêndio, tráfico, predação de animais, caça/pesca, danos à plantação e pulverização.

O que dizem os especialistas
Para Daniel Felippi, médico veterinário do Programa de Conservação do Mico-leão-preto/IPÊ, a oficina veio para somar ao trabalho da equipe desenvolvido na região. “Infelizmente, existe o mito que os primatas transmitem febre amarela, por exemplo. Estamos trabalhando para desmistificar essa informação falsa e acredito que o Plano de Convivência irá contribuir com esse trabalho educativo, o qual trará benefícios para a comunidade entorno e para a população de primatas que vive nas proximidades do Parque Estadual Morro do Diabo”.
Outra profissional que enxerga a oficina com bons olhos é Andrea Pires, coordenadora do programa Monitora Bio, da Fundação Florestal. “Para nós, que trabalhamos com monitoramento, saber exatamente quais são essas interações do humano com a fauna é muito positivo porque nos dará subsídios para minimizar conflito a partir dos dados levantados pelo monitoramento”.
Participação da comunidade
Para Maria Nazaré Montemor, presidente da CoperAmas, o encontro trouxe aprendizados.
“Tenho 60 anos e aprendi coisas que nunca tinha aprendido. Muitas vezes moramos aqui e não sabemos como conviver com a fauna. Saio muito grata e vou levar essas orientações para minha comunidade, reforçando a importância da preservação e os Corredores de Vida”, afirma.
O mesmo ponto é reforçado por Rodolfo Mattos, analista de desenvolvimento agrário do ITESP. Para ele, a oficina foi estratégica para os profissionais que atuam junto à agricultura familiar na região. “A oficina dá a oportunidade de participar da elaboração de um plano que será fundamental para o agricultor familiar, que terá que conviver cada vez mais com a fauna nativa em razão do aumento das áreas recuperadas pelo projeto. É importante participar e depois ver o retorno desse trabalho para o nosso público atendido, os assentados”, destaca.

Próximos passos
Para garantir que o plano saia do papel, foi criado um Comitê de Implementação composto por representantes do IPÊ, ITESP, PAM/UMOE, ICMBio, Fundação Florestal, empresas florestais, pesquisadores e membros da Apoena.
Aline reforça que processos participativos como esse são fundamentais para ampliar o engajamento e o sentimento de pertencimento das comunidades com o projeto. “Quando o plano é construído junto com quem vive e trabalha no território, ele deixa de ser apenas do projeto e passa a ser da comunidade.”