Monitores do Museu do Café no município de Piratininga/SP, onde recentemente foi instalada a nova Trilha do Mico-leão-preto, participaram no último mês de formação com Vinícius Alves, educador do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, do IPÊ. A Trilha no Museu marca a ampliação de percursos em referência à espécie, que ocorre apenas no estado de São Paulo. A trilha de 1 km é uma iniciativa do Museu do Café, na Fazenda São João, que integra uma Área de Proteção Ambiental (APA).
Guilherme Amaral, proprietário da Fazenda onde está localizado o Museu, destaca a relevância da formação dos monitores mesmo em relação a trilhas autoguiadas como essa. “É muito importante o monitor tratar da temática com profundidade e, assim, sensibilizar os públicos. Historicamente, essa já foi uma área de ocorrência do mico-leão-preto, que foi extinto localmente, e nosso público precisa saber que a fragmentação do habitat traz esse tipo de consequência. Nas visitas via escolas, conseguimos aprofundar as informações relacionadas ao hábitat e à espécie. Crianças e jovens precisam estar cientes de que somente a restauração e muito trabalho de recuperação ambiental pode fazer com que esse animal seja eventualmente reintroduzido, translocado… ou que as populações de Lençóis Paulistas possam se expandir e chegar até aqui”, pontua.
Para Vinícius Alves, educador do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, formações como essa são oportunidades para levar informações a pessoas que vivem ou visitam áreas onde o mico-leão-preto não está mais presente. “Nos preocupamos apenas com aquilo que conhecemos, por isso formações como essa com cerca de 10 monitores são estratégicas, uma vez que os educadores têm o potencial de compartilhar a história da espécie, incluindo desafios, ameaças, mas também avanços com milhares de pessoas, incluindo jovens, crianças e adultos”.
Thiago Augusto Farjani, monitor do Museu, conta como foi participar dessa iniciativa do Programa de Conservação do Mico-leão-preto. “A formação é de extrema importância para a implementação assertiva da Trilha do Mico, a partir dela podemos trabalhar com embasamento teórico e prático, com informações vindo de quem moldou o sucesso da conservação da espécie. O fato de a trilha contar com um complemento mais visual, como a oportunidade de o público conferir a palmeira jerivá́ (destaque na dieta do mico-leão-preto); esse elemento mais palpável, ajuda muito a ligar os pontos da história que está sendo contada”.
Já Mariana Regina Silva de Paula, também monitora do Museu, destaca as dinâmicas propostas por Vinícius com o grupo. “As atividades práticas de monitoria em conjunto e jogo de perguntas e respostas ajudaram a fixar melhor o conteúdo e praticar o roteiro que será́ abordado com os visitantes e alunos”.
Saiba mais sobre a espécie
Após ser considerada extinta por mais de 60 anos (1905 a 1969), a espécie redescoberta em 1970, na região do Pontal do Paranapanema, entrou em 1982 para a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da IUCN – International Union for Conservation of Nature and Natural Resources (União Internacional para Conservação da Natureza), como “Ameaçada”. Na época, havia um entendimento diferente do atual e as classificações das espécies se limitavam à “Extinta”, “Ameaçada”, “Vulnerável”, “Rara” ou “Indeterminada”.
Em 1996, por conta de novos critérios da IUCN, baseados na extensão de ocorrência, extremamente fragmentada e reduzida, o Mico-leão-preto foi classificado como “Criticamente Ameaçado”. Em 2000, integrou a lista das 25 espécies de primata mais ameaçadas do mundo, elaborada pelo Grupo Especialista de Primatas da IUCN.
Segundo Gabriela Rezende, em 2008, a IUCN reavaliou a situação da espécie, levando em consideração todo o conjunto da obra: as pesquisas de campo em andamento, o manejo de populações e a melhoria e proteçao do hábitat por conta do projeto de restauração iniciado na região do Pontal do Paranapanema e a criação da Estação Ecológica Mico-leão-preto (6.700ha, ICMBio).
“Novas populações foram descobertas no Alto Paranapanema, aumentando, assim, o tamanho populacional e a extensão de ocorrência. Além disso, tivemos o início do projeto de restauração de corredores do IPÊ, a criação da Estação Ecológica Mico-leão-preto (ICMBio), dentre outras ações que fizeram diferença na avaliação da IUCN em 2008, que migrou o mico-leão-preto para “Em Perigo”, uma categoria mais esperançosa”, explica Gabriela Rezende. A estimativa mais recente considera que 1.800 indivíduos vivem na natureza, distribuídos em cerca de 20 localidades no estado de São Paulo – entre o Rio Tietê e o Rio Paranapanema), sendo cerca de 65% deles no Parque Estadual Morro do Diabo (FF-SP).