Crédito da foto principal: Simbiose
Quatro brigadas entre voluntárias e comunitárias são as beneficiadas com o recurso obtido por meio das doações para a campanha Ajude a combater os incêndios em nossas Florestas, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. Além das pessoas físicas que apoiaram o trabalho realizado pelos brigadistas voluntários e comunitários, por meio das doações, duas empresas reforçaram a campanha do IPÊ.
O Café por Elas, localizado na cidade de São Paulo, e a Care Natural Beauty se mobilizaram pela causa e promoveram em conjunto um fim de semana solidário na cafeteria, destinando 15% do lucro à campanha do IPÊ. Na ocasião, a empresa da área de beleza comercializou produtos com desconto no laboratório de qualidade da cafeteria, localizado na sequência do jardim. Ao todo a campanha do IPÊ arrecadou cerca de R$ 13 mil, sendo 62% com doações de pessoas físicas, 24% com o Café por Elas e 14% da Care Natural Beauty.
Amazônia
Terra Indígena Sete de Setembro – Mato Grosso e Rondônia
Desde o fim de outubro, a Associação Gap Ey, da brigada comunitária indígena Suruí, de Rondônia, conta com 14 lanternas para fixação no capacete dos brigadistas. O equipamento vai garantir mais segurança aos brigadistas no combate noturno aos incêndios florestais, explica Luiz Weymilawa Surui, coordenador de campo da Associação Gap Ey. “Escolhemos a lanterna porque estávamos com muita dificuldade para andar na mata à noite sem a iluminação adequada. Até então estávamos utilizando a luz do celular, o que não é adequado. Segurávamos o facão e a foice, além do celular, com o soprador nas costas. Com a lanterna no capacete nosso combate está mais seguro e com mais agilidade”.
Crédito das fotos: Associação Gap Ey
Além das lanternas, a brigada também adquiriu 16 cestas básicas + kit higiene, uma cesta para cada brigadista, o que beneficiou cerca de 70 pessoas. Alexandra Surui, ponto focal da brigada Associação Gap Ey, enviou para Angela Pellin, pesquisadora do IPÊ à frente das iniciativas com as brigadas voluntárias e comunitárias, a seguinte mensagem. “Enquanto você está na COP 16 da Biodiversidade discutindo estratégias e buscando novas parcerias, deixo registrado que o IPÊ realmente alcança organizações de base comunitária fazendo o recurso financeiro e apoio chegar efetivamente”.
Crédito da foto: Associação Gap Ey
Robson Yabnoyãam Surui, presidente da Associação Gap Ey, conta sobre a intensidade dos incêndios deste ano. “Tivemos na Terra Indígena Sete de Setembro um dos maiores incêndios que já vivenciei. A Associação teve uma participação muito importante no combate, conseguimos controlar parte dele, mas outra parte mesmo com os aceiros atingiu as nossas roças, os nossos cultivos”, revela.
Os indígenas realizaram uma oficina para contabilizar os prejuízos, por conta da perda também de oito roças comunitárias de café orgânico que representam 40% da produção, além de 3 roças de banana, que totalizam 30% da produção das famílias da Associação Gap Ey. Ambos os cultivos são destinados ao consumo e à geração de renda. “
Alexandra também compartilha sobre a mobilização das mulheres. “Queria destacar o apoio das mulheres indígenas à espera do retorno do grupo que estava no combate. Elas se reuniam voluntariamente para preparar comida. Quando digo mulheres também me refiro a todos aqueles que estão com elas, como jovens e crianças. No retorno, os brigadistas encontravam a recepção das mulheres e dos jovens, além de alimento. Todos queriam saber como tinha sido (até aquele momento) o último combate. Esse trabalho muitas vezes invisibilizado é fundamental para o resultado da Associação Gap Ey”.
Território Kumaruara – Baixo Tapajós – Pará
Já os brigadistas da Guardiões do Território Kumaruara que atuam na região do Baixo Tapajós, no Pará, optaram por direcionar o recurso obtido via campanha para a formalização da brigada. “Até o momento atuamos como um coletivo e temos muito impacto positivo e reconhecimento na região. Neste ano, chegamos a combater focos de incêndio fora do estado também. A expectativa com esse CNPJ específico da brigada é ter a nossa autonomia e melhorar a captação de recursos. Se mesmo após a obtenção do CNPJ tivermos saldo, utilizaremos o recurso para ajudar nas formações dos brigadistas”, pontua Tainan Kumaruara, liderança da brigada Guardiões do Território Kumaruara. A brigada participou do projeto-piloto para a implementação da Estratégia Federal de Voluntariado no Manejo Integrado no Fogo (MIF), executado pelo IPÊ.
Crédito: Guardiões do Território Kumaruara
Sobre os desafios de 2024, Tainan destaca a origem e a quantidade de focos de incêndios. “A maioria dos focos teve origem criminosa, chegamos a ter sete focos de incêndios no mesmo dia. O momento mais crítico foi quando tivemos novamente fogo nosso território e 70% dos nossos combatentes estavam impossibilitados por questões de saúde relacionadas a incêndios anteriores, como complicações por conta da inalação da fumaça e das cinzas nos olhos, por exemplo. Naquela ocasião, fomos para o combate com uma equipe bem reduzida”.
Crédito: Guardiões do Território Kumaruara
A brigada mista de 44 pessoas, liderada por mulheres atua em floresta fechada e em campo de savana. “Tivemos três incêndios nos campos de savana, que são campos abertos onde a propagação do fogo é muito rápida. Em 2024, uma dificuldade adicional foi a logística prejudicada pela seca. Viajamos com equipamentos e alimentação e eram kms de praia para andar. Apenas embarcações pequenas conseguiam passar e muitas vezes encontramos ao invés de rios, lagos de lama”, compartilha Tainan.
Apesar da chegada do inverno amazônico, o momento é de atenção. “Como esperado para o período, temos tido chuvas frequentes, mas seguimos em alerta porque esse é o momento também (após as primeiras chuvas) em que muitos agricultores começam a queimar o roçado. Temos notado que as queimas têm seguido nossas orientações: dentro de determinados horários, com monitoramento adequado e muitas das vezes com a ajuda da própria brigada. No entanto, é preciso seguir em alerta”.
Mata Atlântica – São Paulo
Mateus Queiroz, presidente da Simbiose, brigada comunitária que atua em Atibaia, no interior do estado de São Paulo, conta que o recurso da campanha do IPÊ viabilizou a aquisição de duas mochilas flexíveis costal anti-incêndio. “Esse é um equipamento essencial em operações, tanto para garantir a diminuição da perda de caloria em combate direto quanto para o resfriamento e extinção dos focos de calor”.
Queiroz conta que para a brigada o período mais crítico neste ano foi o início do segundo semestre. “Entre a segunda quinzena de agosto e o final de setembro, a Simbiose participou de 23 operações de combate aos incêndios que somaram aproximadamente 400 hectares de área queimada. Na segunda quinzena de agosto, em especial, os focos estavam em grandes áreas de pastagem, que em alguns casos adentraram para grandes fragmentos florestais, devido à alta intensidade do fogo, principalmente em locais considerados no Plano Diretor Municipal de Atibaia como áreas de expansão urbana limítrofes às áreas rurais. Já em setembro, os incêndios ocorreram em áreas internas do Parque Estadual do Itapetinga, em zonas de conservação e preservação com poucos ou nenhum registro de incêndio nos últimos anos, gerando grandes impactos a biodiversidade local”.
Crédito: Simbiose
Quanto às perspectivas, Mateus adianta que o momento é de analisar os dados coletados e de planejar as ações. “Nossa expectativa para o último bimestre do ano é de diminuição dos focos de incêndios com a chegada do réveillon hidrológico, momento em que a Simbiose está consolidando os dados gerados durante a estiagem e focando suas ações em planejamento, reestruturação e captação de recursos para o próximo ciclo”.
Cerrado – Distrito Federal
“O ano de 2024 foi marcado por um nível muito alto de incêndios agravados por efeitos das mudanças climáticas e da chuva tardia “, destaca Caroline Dantas, porta-voz do Instituto Cafuringa que atua no Cerrado, na interface entre áreas de ocupação urbana, rural ou semi-rural do Distrito Federal, em Área de Proteção Ambiental (APA) e no entorno de outras unidades de conservação estaduais e federais.
“A percepção geral foi de maior velocidade e intensidade do fogo, o que culminou em combates mais difíceis e incêndios com rápido alastramento, bem como maior ocorrência de focos provocados por incendiários em Unidades de Conservação, juntamente com fogo relacionado à limpeza de terrenos”, completa a porta-voz.
Com o repasse do recurso arrecadado na campanha Ajude a combater os incêndios, do IPÊ, a escolha do Instituto Cafuringa foi pela compra de sete botas específicas para o combate aos incêndios. “As botas são Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) indispensáveis e possuem desgaste acentuado nas condições de incêndio em áreas montanhosas, como é a nossa região. Por um lado, observamos o crescimento da brigada, com a chegada de novos voluntários, desprovidos de calçados apropriados para o combate. Por outro, devido à frequência, observamos que algumas botas adquiridas há alguns já estavam no fim do ciclo e precisavam ser renovadas”, explica Fernão Lopes, tesoureiro do Instituto Cafuringa
Crédito da foto: Instituto Cafuringa
Sobre o momento mais desafiador, Caroline destaca o início do segundo semestre. “Os meses de agosto e setembro são mais críticos, atingindo o ápice nos dias que antecedem as primeiras chuvas. Em 2024, o ápice foi em setembro, quando um incêndio de grandes proporções atingiu o fundo das ruas 2, 3 e 4, na região do Lago Oeste/DF e alguns dias depois outro atingiu a Reserva Biológica (Rebio) da Contagem e o entorno da Vila Basevi ao lado da Rebio”.
Já na segunda metade do semestre, o momento é de prevenção e planejamento. “O último bimestre é um momento de relativo alívio, especialmente com uma temporada chuvosa constante, como tem sido até agora. É um momento de recuperação das forças, manutenção de equipamentos, preparação e execução dos trabalhos de prevenção e educação ambiental desse final de ano e primeiro semestre de 2025”, conclui Caroline.
Essas brigadas florestais voluntárias e comunitárias, assim como tantas outras distribuídas em todo o território nacional, são estratégicas tanto na prevenção quanto no combate aos incêndios florestais. Proteger as florestas e a biodiversidade dos incêndios é também contribuir com o enfrentamento aos desafios climáticos e na oferta de serviços ecossistêmicos, como provisão de água e regulação do clima, também para a sociedade