Por Suzana Padua
Ainda somos perguntados por que trabalhamos para salvar animais ameaçados de extinção com tanta gente passando fome. A escolha de se dedicar com a proteção da natureza é digna de crítica por pesquisadores da área social, que insistem em priorizar a humanidade em face à natureza, como se não fôssemos parte do mundo natural, e como se a sociedade não dependesse do equilíbrio ambiental. É verdade que a espécie humana parece ter se esquecido de sua essência natural e que se colocou como superior às demais, sentindo-se no direito de usar e abusar dos recursos. Hoje, a decisão de quem vai ou não sobreviver ao longo do tempo está nas mãos de uma só espécie: a nossa.
O contrário é igualmente comum. Cientistas da natureza dificilmente aceitam que se lide com a sociedade. Conservação precisa ser ‘pura’, ou seja, deve se ater às espécies encontradas nos ecossistemas naturais. E muitos creem que o ser humano atrapalha e estraga e, por isso, deve ficar longe das áreas naturais. A questão é como tornar a natureza preciosa, que vale a pena ser protegida?
A meu ver, a beleza está na inclusão e não na exclusão das escolhas, que sempre acabam prejudicando parte do que é vivo. Nem se ater às questões meramente sociais e nem às preservacionistas. Somos natureza e precisamos redescobrir o amor pela nossa essência e, assim, reaprendermos a respeitar e nos assombrar com a beleza dos sistemas que ajudam a provocar tanta complexidade e detalhes que fazem a vida possível.
A postura de superioridade do ser humano frente a outras espécies está ligada à interpretações errôneas. A ideia de que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus deveria ser utilizada para elevarmos nossa responsabilidade e “maravilhamento” de tudo o que existe nesse planeta e no cosmos, de modo a nos sentirmos parte dessa teia da qual somos integrantes.
Pensadores como Bacon e Descartes levaram a premissa de termos o direito de utilizar a natureza ao nosso bel prazer ao extremo. Mas, de lá para cá, o que fizemos foi colocar as ideias deles e de muitos outros que seguiram essa linha de pensamento em prática, levando o planeta a evidentes formas de insustentabilidade. Há séculos que usamos a natureza de maneira impensada, e resistimos bastante à ideia incômoda, mas imprescindível, de que somos responsáveis pelas perdas que estamos vivenciando. Se nos deparamos com falta de água é por que desmatamos e tratamos indevidamente as nascentes e os mananciais. Se estamos vivendo uma época de doenças, fomos nós que envenenamos os alimentos com produtos tóxicos e nocivos à saúde. Se os recursos estão acabando, por termos os utilizado de modo irresponsável. O fato é que o planeta é finito e o tratamos como infinito.
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