Dez anos após ter obtido projeção nacional e internacional por integrar a lista dos 40 finalistas do 4º Prêmio do Objeto Brasileiro, em 2014, com a peça Arraia, o artesão Célio Arago Terêncio é premiado, na categoria Ação Socioambiental na 9ª edição do prêmio. A nova peça de Célio, Fruteira Canoa Pintas de Arraias concorreu com trabalhos de artesãos de todas as regiões do país: Amapá, Acre, Maranhão, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Pará.
A iniciativa do Museu A Casa do Objeto Brasileiro, sediado na capital paulista, contribui para o reconhecimento, valorização e revitalização do artesanato e do design brasileiro. “O objetivo do Museu é justamente ser um espaço que, não só apresenta estes trabalhos ao público, mas que também estimula os artesãos a darem continuidade a seus trabalhos. Esperamos que mais este prêmio possa incentivá-lo a continuar sua produção e que possa, inclusive, atrair outras pessoas para a atividade artesanal”, pontua Renata Mellão, idealizadora do Museu A Casa.
“Nós conhecemos o trabalho do Célio Arago a partir das arraias de madeira, que ele tem feito há muitos anos e já foi destaque em uma das edições do Prêmio. De lá para cá, notamos que ele ganhou força e aumentou sua presença nas lojas de artesanato da cidade de São Paulo por conta de sua originalidade. Isso é importante, porque sabemos que o artesanato é parte da identidade indígena e tem uma forte representatividade no dia a dia da comunidade. Agora, ficamos muito felizes que ele se inscreveu novamente. Isso demonstra que ele segue aprimorando sua técnica e apostando em novos formatos e funcionalidades”, comenta Renata.
O artista da Comunidade Nova Esperança, que vive na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, em Manaus/AM, conta como surgiu a ideia para desenvolver a nova peça. “Como todo o trabalho que faço procuro fazer algo que valorize a região do Baixo Rio Negro, na Amazônia. Veio a ideia de criar algo em cima da nossa cultura que é a canoa, não apenas referente à canoa indígena, mas também à cultura ribeirinha, tão presente na região. O desafio foi criar algo utilitário, decorativo com algo que é comum na região e ao mesmo tempo transformar em algo meu. Tive a ideia de criar a fruteira canoa e acrescentar as pintas das arraias, que é a minha peça carro-chefe, uma marca minha”.
Assim como todas as peças criadas por Célio, a Fruteira Canoa Pintas de Arraias também é feita com 100% de madeira tombada pela ação da natureza na floresta. Célio trabalha apenas com troncos e galhos que ele coleta e leva para o ateliê. “A fruteira é feita de duas madeiras, a Itaúba e a Muirá piranga que encontrei já derrubadas pela ação do tempo e trouxe para o meu ateliê para transformá-las em arte”, complementa.
Em 2016, Célio foi vencedor do Top 100 de Artesanato do Sebrae com a peça Arraia e o banco Arraia, ambos geralmente são feitos com Itaúba e Muirá piranga.
Em novembro, será possível conferir todos os 15 trabalhos premiados nesta edição durante a exposição presencial do Museu A CASA do Objeto Brasileiro. O prêmio de R$ 1.000,00 (mil reais) será entregue a cada vencedor durante o evento.
Saiba mais sobre a categoria Ação Socioambiental, do Prêmio do Objeto Brasileiro
Cada participante pode inscrever o trabalho em apena suma categoria. A escolhida por Célio, Ação Socioambiental é aberta a projetos bem-sucedidos, desenvolvidos por instituições, cooperativas, associações, empresas, universidades e organizações, com foco na responsabilidade socioambiental (geração de renda, reutilização e reciclagem, desenvolvimento sustentável e inclusão social) e que geram produtos fruto do encontro do artesanato com o design. Nesta categoria serão avaliados os projetos de maneira geral e não apenas os objetos resultantes da ação.
A Comissão de Seleção e Premiação é coordenada pelo Museu A CASA do Objeto Brasileiro e composta por um júri multidisciplinar com profissionais reconhecidos em suas respectivas áreas.
Ateliê-escola
No ateliê-escola, desde 2015, Célio compartilha os conhecimentos com os jovens que vivem na RDS Puranga Conquista. “Uma porcentagem de cada peça vendida é direcionada para uma reserva que tenho para que eu consiga manter uma oficina gratuita a cada três meses para os esses jovens. O objetivo é que o artesanato se torne fonte de renda para eles. Cerca de 65 jovens – entre homens e mulheres – já passaram pelo atelitê-escola de Célio, 25 deles já comercializam as próprias peças. Das 500 famílias que vivem na RDS, cerca de 80% vivem do artesanato.
O IPÊ na Amazônia
Desde 2000 o IPÊ atua na Amazônia e, desde então, vem ampliando a abrangência de suas ações no bioma por meio de soluções integradas de conservação da biodiversidade, priorizando a participação social. Na década de 2010, o IPÊ apoiou a formalização e fortalecimento das organizações locais, com documentação para acesso a políticas. Célio Arago está entre os beneficiados dessa ação. Oficinas, cursos e intercâmbios fizeram com que ele desenvolvesse ainda mais suas habilidades como artesão, ofício que aprendeu com o pai.
Andrea Peçanha, coordenadora da Unidade de Negócios do IPÊ, conta que o projeto Navegando Educação Empreendedora, do IPÊ, em que Célio atualmente está entre os beneficiados, mapeou 300 negócios na RDS Puranga Conquista e identificou cerca de 50 com potencial de crescimento. “Desses 21 foram selecionados e passaram por orientação de profissionais voluntários que apoiaram os empreendedores em desafios sobre logística, comunicação, marketing, infraestrutura e contabilidade. Com esse trabalho notamos transformação real na comunidade. Com os negócios de impacto, a comunidade oferece inclusive atrativos para que os jovens queiram ficar e viver na RDS, algo essencial para a floresta, já que as áreas que apresentam os menores índices de desmatamentos são justamente essas em que vivem os povos da floresta”. O projeto conta com parceria do LinkedIn e apoio do LIRA – Legado Integrado na Região Amazônica, iniciativa do IPÊ.