Em março de 2024, pesquisadores partiram mais uma vez em busca de vestígios da anta na Caatinga, bioma em que espécie era considerada regionalmente extinta, e encontraram sinais da presença do animal
Pesquisadores da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, viajaram por mais de 6 mil quilômetros em busca da anta brasileira na Caatinga. A Expedição Caatinga – Em Busca da Anta Perdida 2024 percorreu, durante 20 dias, a região oeste da Bahia e o entorno do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí. A equipe identificou, nos dois estados, a presença atual da anta, com avistamentos feitos pela própria equipe e relatos históricos de moradores.
Em março de 2023, os pesquisadores da INCAB-IPÊ percorreram 10 mil quilômetros, em 31 dias, em busca de registros e vestígios históricos e atuais da anta na Caatinga. Aquela primeira expedição comprovou que a anta esteve presente no bioma, mas algumas dúvidas permaneceram sobre a existência atual da espécie na região. Por isso, em 2024, a equipe decidiu retornar ao bioma para investigar relatos de avistamentos recentes do animal na Bahia e Piauí. Patrícia Medici, coordenadora da INCAN-IPÊ, explica que a recente descoberta é uma excelente notícia para subsidiar futuras avaliações sobre o estado de conservação da anta em nível nacional e global.
“A importância dessa descoberta está no fato de que uma extinção local, para qualquer espécie, é uma situação muito séria. Declínios populacionais e extinções locais apontam para o comprometimento do estado de conservação de uma dada espécie. Agora, com base nesta última expedição, temos dados robustos o suficiente para afirmar que a anta não se extinguiu na Caatinga. Sabemos que devem ter ocorrido declínios populacionais importantes, associados com o processo de desertificação do bioma. Esses animais devem ter se afastado da área em busca de água em habitats ao redor. Mas, tudo aponta para a anta nunca ter se extinguido de fato na Caatinga”, afirma Patrícia Medici.
Além de demonstrar a presença da anta, a Expedição Caatinga 2024 coletou informações adicionais sobre as principais ameaças afetando a anta na região. A equipe da INCAB-IPÊ identificou a caça, fogo, perda de habitat para a expansão do agronegócio e a desertificação do bioma como as principais ameaças à sobrevivência da anta na região.
No momento, os pesquisadores estão compilando os dados coletados durante a expedição. Essas informações serão utilizadas para a próxima avaliação da Lista Vermelha do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e para a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Além disso, essas informações serão utilizadas no desenvolvimento do próximo Plano de Ação Nacional (PAN) para os Ungulados Ameaçados de Extinção.
Primeira Expedição Caatinga – Em Busca da Anta Perdida
O trabalho da INCAB-IPÊ na Caatinga surgiu com a publicação da primeira Lista Vermelha Nacional do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, no ano de 2012, que classificou a anta como regionalmente extinta no bioma. Naquele ano, o ICMBio reuniu um grupo diverso de profissionais brasileiros para avaliar o status de conservação das espécies de ungulados ameaçados do Brasil, incluindo a anta, a queixada e algumas espécies de cervídeos.
“Naquele momento, nós realizamos uma avaliação em nível de Brasil e em nível de biomas. Os profissionais que estavam presentes, eu inclusa, listaram a anta como Regionalmente Extinta na Caatinga, pois os poucos dados que vieram para a mesa, naquele momento, apontavam para isso. De lá para cá, temos refletido sobre essa tomada de decisão tão importante com base em pouquíssimas informações. Surgiu então uma grande vontade de percorrer a Caatinga em busca de informações mais consistentes sobre o histórico da anta, seu passado e presente, na região”, explica Patrícia Medici.
Após 11 anos, em 2023, a ideia saiu do papel e os pesquisadores realizaram a primeira Expedição Caatinga – Em Busca da Anta Perdida. Com recursos financeiros captados por meio de um crowdfunding, em 31 dias, a equipe percorreu 10 mil quilômetros, passando por diferentes regiões da Caatinga onde houvesse qualquer indício da existência histórica ou atual do animal. Patrícia Medici comenta que o trabalho nessa primeira expedição foi amplamente baseado em entrevistas com moradores locais.
“Realizamos a primeira expedição para a Caatinga com dois objetivos primordiais: resgatar a memória das pessoas sobre a potencial ocorrência do animal no bioma – A anta já existiu na Caatinga? Onde? Desapareceu? Se sim, por quê? – e o segundo objetivo era investigar a presença da anta atualmente”, completa.