Desde 2009, o projeto “Nascentes Verdes, Rios Vivos” busca proteger a água na região de Nazaré Paulista (SP) com duas ações principais: Restauração de matas ciliares ao redor de nascentes, rios e represas; e Educação Ambiental para estudantes e professores, contribuindo para formar futuras gerações mais sensíveis à conservação da Mata Atlântica e, consequentemente, da água.
Estudantes do 6º ao 8º ano do ensino público passam por práticas de campo, conhecendo o viveiro de mudas, plantando árvores nativas, fazendo trilhas e monitorando o crescimento das florestas restauradas, além de assistirem a palestras com profissionais da área de conservação ambiental. Tudo isso, reforçando os conceitos aprendidos em sala de aula em diversas disciplinas como matemática, português, geografia, artes e até educação física. Com isso, o IPÊ ajuda a inserir o tema ambiental no calendário escolar, com apoio dos professores e diretores, que passam por palestras e cursos. Em 2014, cerca de 50 deles participaram de atividades sobre como implementar o tema em sala de aula.
“Essas atividades trazidas pelo projeto enriquecem nossas aulas. Os cursos para os professores são bem satisfatórios para o crescimento profissional e agregam muito. Por exemplo, meus alunos tinham dificuldade com a questão da porcentagem e então eu decidi abordar isso usando como exemplo o caso do assoreamento dos rios, calculando com eles o a porcentagem de terra perdida por erosão quando não se tem vegetação. Foi um exemplo prático que usou a matemática também para discutir problemas ambientais”, conta o professor Tiago Cristian dos Santos Pereira (foto), da Escola Estadual do Bairro Divininho.
Os resultados das atividades do ano culminam em festas de encerramento com o tema ambiental nas escolas, com a participação dos pais, parentes, amigos e professores. Peças de teatro, poesias, paródias, trabalhos artísticos, redações, entre outros trabalhos, abordam temas ambientais, em um grande encontro que celebra o projeto e a participação das escolas.
Leandro Jesus de Moraes e Regiane Ramos Santos (foto) são alunos do 8º ano da Escola Estadual do Bairro Divininho, em Nazaré Paulista (SP), e participam do projeto do IPÊ desde o 6º. Para ambos, as atividades ajudam a descobrir muito mais sobre biodiversidade e importância das áreas naturais. “Já mexia com terra e flor, conhecia alguma coisa porque moro na área rural, mas foi muito legal ver como acontece a produção no viveiro, que tudo tem um tempo certo, do plantio da semente até a muda ficar pronta pra ser plantada. A gente sabe agora que depois de plantaa, a árvore demora pra crescer, mas já dá curiosidade de saber como está hoje a muda que eu plantei quando estava no 6º ano”, conta Leandro.
O conhecimento desenvolvido em três anos de projeto também é levado para a casa e tem a participação dos pais. Regiane conta que a família hoje tem outros hábitos depois que ela insistiu sobre como contribuir com o meio ambiente. “Antes a gente misturava todo o lixo e queimava, achando que estava fazendo certo. Agora a gente separa o que dá pra reciclar. Com a água também mudou. Não tem mais desperdício como antes. Aqui a gente vê todo o dia que a represa está secando, tem até córrego com pouca ou quase nenhuma água”, diz ela. Dentre as atividades do projeto em 2014, o maior destaque, segundo eles, ficou para a palestra do biólogo Danianderson Carvalho, que apresentou em sala de aula exemplares de animais vivos, buscando quebrar alguns tabus com relação a bichos que causam repulsa nas pessoas, como rato, jiboia e caracol. Para Leandro, essa consciência ajuda a olhar o ambiente com mais cuidado. “Agora eu vejo uma cobra e não quero matar porque sei que ela não vai me fazer mal se eu não mexer com ela. Se ela não está no mato, peço agora pra alguém tirar e colocar ela de volta no ambiente dela”, afirma.
“Essas atividades marcam a vida dos alunos. Acho muito importante por ser um trabalho contínuo e que tem a participação de pessoas que são especialistas no assunto. É algo que marca a vida deles e é um diferencial porque não é qualquer escola que tem essa oportunidade”, conclui o professor Tiago.
Restauração: Com o projeto, já foi possível também restaurar 150 hectares de floresta na região, o equivalente a 150 campos de futebol. Muitas das mudas utilizadas na restauração vêm do Viveiro-Escola mantido pelo projeto em Nazaré Paulista. Em 2014, o viveiro produziu 120 mil mudas.