Enxadão, facão e trado são as ferramentas que as doutorandas Vanêssa Lopes Faria e Maria Cecília Vieira Totti, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), utilizam para coletar amostras de solo na região do Pontal do Paranapanema, extremo Oeste do Estado de São Paulo. Sob a orientação de Bruno Montoani Silva, Junior César Avanzi e Sergio Henrique Godinho Silva, elas integram a frente “Impacto das Estratégias de Recuperação da Vegetação na Qualidade do Solo e Seus Serviços Ecossistêmicos Prestados”, do projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico Monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”.
A iniciativa é uma parceria do IPÊ com a CTG Brasil, uma das líderes de geração de energia limpa do País, por meio do Programa de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da ANEEL. O objetivo da pesquisa é avaliar a qualidade do solo com destaque para densidade, textura e infiltração da água, em seis bacias hidrográficas, na região do Pontal do Paranapanema. A partir desses indicadores serão identificadas as áreas que estão perdendo solo e fertilidade, o que interfere na produção agrícola.
Segundo Alexandre Uezu, pesquisador do IPÊ à frente deste trabalho, entre os critérios utilizados para selecionar as seis bacias do estudo estão os principais tipos de solos presentes no Pontal do Paranapanema (latossolo e argissolo), as formações geológicas e os diferentes usos do solo na região.
“Selecionamos áreas totalmente cobertas por florestas, por pasto, por cana-de-açúcar, mandioca e milheto, além dos corredores ecológicos restaurados pelo IPÊ e de Área de Proteção Permanente (APP). Nos trechos mais suscetíveis à erosão, com predominância de pastagens e cultivos anuais, temos mais de 30 pontos de coleta”, comenta.
Com a pesquisa será possível avançar na valoração da recuperação e avaliar a relação entre qualidade do solo e produção agrícola. Também estão previstas orientações aos produtores rurais sobre o manejo de solo adequado com potencial de reverter esse processo e aumentar a produção. Assim como apresentar os benefícios proporcionados pela recuperação da vegetação quanto à capacidade de infiltração de água no solo viabilizando a recarga dos lençóis subterrâneos, beneficiando assim grandes, médios e pequenos produtores rurais.
“O objetivo é definir critérios e ferramentas que auxiliem na tomada de decisão relacionados às atividades de restauração florestal, ou seja, diretrizes que orientem a aplicação adequada e consistente de técnicas de valoração econômica. Essa valoração deve facilitar a análise corporativa de viabilidade de projetos e investimentos em geral. Além disso, o projeto conta com a originalidade da aplicação da valoração não monetária de serviços ecossistêmicos culturais, com o objetivo de captar os benefícios intangíveis que a restauração florestal provê para as relações sociais das comunidades de interesse das Áreas de Conservação Ambiental”, explica Leandro Barbieri, coordenador de Meio Ambiente da CTG Brasil.
Para a doutoranda Vanêssa, são medidas simples, mas com potencial de transformar a paisagem. “O produtor para fazer mudanças precisa entender qual será o custo-benefício. A pesquisa fornecerá dados de valoração a partir de investimentos no manejo do solo com ganhos para os produtores e também para a usina hidrelétrica, pois quanto menos sedimento chegar aos rios, mais a usina ganha em vida útil dos seus equipamentos, principalmente, as turbinas”.
Para obter benefícios no quesito recuperação de solo é necessária uma aliança. “À primeira vista pode até parecer que cada produtor está em um degrau, isolado, mas na verdade estão interligados na paisagem, pela mesma bacia hidrográfica”, pontua a doutoranda Vanessa.
Crise hídrica
Uezu destaca a relação entre a maior absorção de água pelo solo com a segurança hídrica. “O solo tem papel fundamental na produção de água com o abastecimento do lençol freático via infiltração da água da chuva. Pesquisas como essa têm o potencial de orientar modelos a serem implementados em diferentes cenários conservacionistas com o intuito de contribuir com o fornecimento de recursos hídricos na região do Pontal. A pesquisa dará subsídios para planejar formas de manejo do solo com benefícios tanto para a produtividade dos proprietários rurais quanto para a biodiversidade das florestas e a segurança hídrica na região”, conclui.
São parceiros do projeto: a FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da ESALQ; o Lastrop – Laboratório de Silvicultura Tropical, da Esalq/USP; a Universidade Federal de Lavras; GVCes, da Fundação Getúlio Vargas; Weforest e Rainforest Connection.