No dia 19 de outubro a primeira oficina do Projeto Centro de Educação e Cooperação Socioambiental (CECSA-Clima) reuniu cerca de 40 participantes na Casa de Cultura Polonesa em Águia Branca, no Espírito Santo. A partir de um mapeamento das instituições que atuam com educação ambiental, agricultura e meio ambiente na região realizado pelo projeto foram convidados representantes de secretarias municipais, instituições de extensão rural, escolas agroecológicas, associações de agricultores, coletivos e sindicatos de trabalhadores rurais e redes de coletores de sementes das cidades de Alto Rio Novo, Águia Branca e Pancas.
A criação de Centros de Educação e Cooperação Socioambiental é uma Política Pública instituída pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Seis Centros estão em processo de construção nas diferentes regiões do país para o fortalecimento de articulações regionais, continuidade e fortalecimento da Educação Ambiental. Cada Centro está desenvolvendo sua identidade própria, conectada aos desafios socioambientais e características de seus territórios. “É um processo de apropriação da estrutura apresentada pela Política Pública que estamos trazendo para a nossa realidade, com base no que está sendo feito aqui na região.” explica Isadora Aguirra, articuladora do CECSA-Clima. São também uma oportunidade para a troca de experiências, até mesmo entre centros de outros países, principalmente latino-americanos e de língua portuguesa.
A oficina teve início com uma mesa da partilha para o café da manhã, com produtos e alimentos levados pelos participantes. Novos sabores como geleias artesanais de beterraba, compota de jiló e suco de cacau foram compartilhados, assim como músicas e poesias ao longo do evento. Os temas e objetivos foram discutidos através de metodologias participativas, que deram sequência ao processo de construção coletiva do Centro.
Os participantes discutiram os principais desafios socioambientais da região dos Pontões Capixabas, derivados principalmente da monocultura do café, que tem como consequências processos de degradação do solo e dos recursos hídricos. O manejo inadequado da produção, o uso indiscriminado de agrotóxicos, o desmatamento, a falta de mão de obra e a dificuldade na sucessão rural também foram apontados pelos participantes como questões a serem abordadas. A ausência de diversidade no cultivo foi outra preocupação levantada, principalmente frente as variações de mercado e a intensificação dos efeitos das Mudanças Climáticas, agravando a insegurança alimentar.
A superação destes desafios passa pelo fortalecimento de redes agroecológicas, principal objetivo do CECSA, que possam alavancar a Restauração Florestal, recuperação de nascentes e Áreas de Preservação Permanente (APPs), implementação de Sistemas Agroflorestais, recuperação de pastagens degradadas, ampliação do acesso à crédito e extensão rural, controle de queimadas e organização de feiras.
Esta etapa do diagnóstico participativo compilou os equipamentos de Educação Ambiental presentes na região e a quais instituições estão ou deveriam estar ligados. Foram considerados equipamentos espaços físicos, como parques, escolas, centros de beneficiamento e propriedades rurais sustentáveis (Unidades Demonstrativas), projetos de conservação e comercialização, como barraginhas e arranjos produtivos, e as pessoas e organizações que cuidam destes locais e iniciativas.
Uma das conclusões centrais do encontro foi a necessidade de promover ações que levem ao fortalecimento da educação do campo e no campo, ou seja, “uma educação pensada para aqueles que vivem no campo e que atenda suas necessidades culturais, sociais e econômicas e que chegue à população que vive e depende do campo” como afirmou Giliarde Alves dos Reis, coordenador do curso técnico em agropecuária do Centro Estadual Integrado de Educação Rural (CEIER) de Águia Branca.
As diferentes frentes de atuação das instituições participantes definiram a estrutura de governança e os temas centrais a serem fortalecidos coletivamente e estabeleceram o CECSA-Clima como um “Centro Interinstitucional de Agroecologia e Sociobiodiversidade”. Essa estrutura conecta diversos atores em rede com o objetivo de promover estratégias de redução dos impactos das Mudanças Climáticas. “As trajetórias construídas coletivamente permitem o fortalecimento das iniciativas já existentes, asseguram a continuidade da Educação Ambiental no território e geram oportunidades de desenvolvimento sustentável pautados na conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, fundamentais para a agricultura familiar na região”, comenta Vanessa Silveira, coordenadora do Projeto.