Com recorde de público, a 2ª edição da Sexta ConsCiência deste ano reuniu mais de 130 pessoas, na segunda quinzena de junho, em Teodoro Sampaio, na região do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste Paulista. Com o tema “40 anos de Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto: Pesquisa com Histórias”, o evento abre as celebrações de quatro década do projeto que deu origem ao IPÊ e que segue como um dos mais longevos programas de conservação do Brasil. Esta edição da Sexta ConsCiência reuniu prestadores de serviço nas áreas de plantio e manutenção de florestas, viveiristas comunitários, antigos mateiros do projeto, professores, estudantes, gestores de Unidades de Conservação e representantes de instituições privadas e públicas nas esferas federal, estadual e municipal.
Para Gabriela Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto do IPÊ, a realização dessa edição da Sexta ConsCiência é especial. “É muito simbólico que esse momento que marca o início das comemorações aconteça em Teodoro Sampaio, onde o projeto nasceu e com a presença de um público tão grande e importante que apoia essa iniciativa”.
A Sexta Consciência é uma iniciativa do projeto ARR Corredores de Vida, uma parceria entre o IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Biofílica Ambipar Environment, dedicada a informar a comunidade sobre as atividades de conservação da biodiversidade e as pesquisas desenvolvidas na região.
Cláudio Pádua, cofundador do IPÊ, e Gabriela Rezende, dividiram o palco para contar a história da conservação da espécie, que tem sua maior população no Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD), mas que por seis décadas chegou a ser considerada extinta.
Pádua traçou a linha do tempo sobre o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), uma das espécies de primata mais raras e ameaçadas do mundo, desde 1823, quando a espécie foi descrita pela primeira vez no interior do estado de São Paulo. Depois de 1905, a ausência de registros gerou a crença de que a espécie estava extinta.
No entanto, em 1970, essa crença “caiu por terra”, quando foram redescobertos, no PEMD, em Teodoro Sampaio, por Adelmar Coimbra Filho. Em 1984, Pádua inicia seu trabalho, no Pontal do Paranapanema para a conservação da espécie. “Em 1991, com auxílio do pesquisador Laury Cullen, hoje, coordenador de projetos no IPÊ, descobrimos micos na cidade de Lençóis Paulista. Alguns deles, foram transferidos para a Fazenda Mosquito, município de Narandiba, na região do Pontal, em 1995. Essa translocação abriu o leque para ações de manejo que viriam em seguida para salvar outras populações”, disse Pádua.
Após a detalhada linha do tempo traçada por Pádua, Gabriela Rezende, pesquisadora do IPÊ e coordenadora do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, contou sobre a história mais recente para a conservação da espécie. “Em 2008, conseguimos mudar o status do mico-leão-preto na lista de espécies ameaçadas da IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza. O mico-leão-preto subiu um degrau na escada, pois saiu de “Criticamente Ameaçada” para “Em perigo”. Esse avanço motiva nossa equipe a concentrar esforços em pesquisas, educação ambiental e políticas públicas. O trabalho contínuo dos pesquisadores é para que a espécie continue subindo esses degraus até o momento em que não precise mais de nossa ajuda, pois não corre mais risco de extinção”.
Para Francielly Rodrigues dos Santos, monitora no Parque Estadual Morro do Diabo, acompanhar a apresentação sobre o projeto mais longevo do IPÊ trouxe conhecimento que ela vai aplicar na prática no trabalho que realiza na Unidade de Conservação. “Os dados apresentados pelos palestrantes sobre a redescoberta, as translocações e o comportamento desses primatas ampliaram meu conhecimento. Vou usar essas informações para enriquecer as visitas guiadas que conduzo no parque.”
A diretora da Escola Municipal Pedro Caminoto, Lilian Blume Morais, destacou o impacto educacional do evento. “Mais de 20 estudantes do 9º ano irão compartilhar o que aprenderam na Sexta ConsCiência com os demais colegas do Ensino Fundamental II. Acredito que esse conhecimento vai fortalecer nossa abordagem educacional sobre conservação da biodiversidade e incentivar práticas sustentáveis na rede escolar”.
Aline Souza, coordenadora de formação no IPÊ, destacou a importância de momentos como esse de compartilhamento de informações e de história da região com a comunidade. “O evento não apenas informou os participantes sobre a importância da conservação do mico-leão-preto e seu habitat, mas também fortaleceu o compromisso da comunidade local com a preservação da biodiversidade”.
Entre os participantes estava também Reinaldo Aparecido de Oliveira, servidor municipal, que comparece com frequência às Sextas ConsCiência. “Nesta, foi interessante saber que o cuidado com o filhote é compartilhado pelo grupo e não exclusivo da mãe. Saio daqui com um amplo conhecimento sobre esse pequeno primata”, disse.