Capacitação para atividades sustentáveis de geração de renda, formação de pessoas para produção agroecológica, atividades de fortalecimento da gestão de áreas protegidas, desenvolvimento das cadeias produtivas, pesquisas de espécies da fauna, entre outras, são atividades executadas pelo IPÊ em quase 20 anos de presença na Amazônia. As ações do IPÊ na Amazônia contabilizam benefícios para mais de cinco mil pessoas, com projetos que priorizam a participação social e o respeito às tradições locais.
O Instituto começou seu trabalho pela proteção do bioma na região do baixo Rio Negro, no estado do Amazonas, com o desafio de implementar modelos de gestão territorial que contribuíssem para a melhoria da qualidade de vida e conservação da biodiversidade. Ali, promoveu nos primeiros anos parcerias com diversos setores, implementou trabalhos de educação por meio do barco Maíra I, e desenvolveu ações que beneficiaram mais de mil pessoas em 29 comunidades, criando alternativas de renda para famílias da zona rural de Manaus, com foco no desenvolvimento de cadeias produtivas (com agricultura sustentável), do turismo de base comunitária e do artesanato. O IPÊ apoiou a formalização e fortalecimento das organizações locais, com documentação para acesso a políticas públicas voltadas aos agricultores familiares e artesãos, e contribuiu com infraestrutura de negócios, como o restaurante da comunidade Nova Esperança e estrutura de beneficiamento de um grupo de mulheres e uma rede de agricultores. Apoiou também a formação de uma rede de agroecologia no Amazonas, formada por representantes de diversas instituições e grupo de agricultores no estado (Rede Maniva de Agroecologia).
Celio Arago (foto), artesão do baixo Rio Negro foi um desses beneficiados pelos projetos do Instituto. Oficinas, cursos e intercâmbios fizeram com que ele desenvolvesse ainda mais suas habilidades como artesão, ofício que aprendeu com o pai. Da comunidade Nova Esperança, as peças de Celio ganharam o mundo e foram indicadas a prêmios. Após o projeto, Celio hoje ensina a jovens o que aprendeu. “O aprendizado que tive com o IPÊ me abriu muitas portas. Agora eu ensino jovens na minha comunidade para que tenham a mesma chance que eu.”
Na região, o IPÊ também atuou pela conservação do peixe-boi-da-amazônia e do saium-de-coleira, com pesquisas científicas de campo e ações de integração social e educativas. Os resultados dos trabalhos são compartilhados com organizações para apoio na construção de políticas públicas para a fauna.
Evolução para Soluções Integradas de Conservação do bioma
Ao longo dos anos, os desafios cresceram, assim como as possibilidades para transformação positiva no bioma, por meio das Unidades de Conservação (UCs). Em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o IPÊ passou, a partir de 2012, a desenvolver dois projetos de grande relevância nas UCs federais: o Motivação e Sucesso na Conservação de UCs – MOSUC (com apoio da Fundação Gordon e Betty Moore), e o Monitoramento Participativo da Biodiversidade – MPB, (com apoio da USAID, da Fundação Gordon e Betty Moore e Programa ARPA). Eles buscam soluções inovadoras e integradas entre vários setores para apoiar a consolidação de 42 UCs, um território de aproximadamente 35 milhões de hectares – uma área maior que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, juntos.
O projeto MOSUC nasceu para ampliar a participação das comunidades na gestão, superar as dificuldades de recursos financeiros e atuar para transformar as UCs da Amazônia em polos de desenvolvimento regional. O trabalho beneficia 30 UCs em 6 estados, envolvendo gestores, organizações e comunidades para atuarem em conjunto pela proteção de parques nacionais, reservas extrativistas, florestas nacionais entre outras áreas protegidas. Essa ação pioneira do IPÊ e do ICMBio ajudou e promoveu parcerias com 12 instituições locais que contrataram 54 colaboradores para atuarem em UCs do Acre, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá e Mato Grosso.
O apoio desses profissionais trouxe benefícios às UCs, como relata Aldeci Cerqueira (Nenzinho), da associação da Reserva Extrativista (Resex) Cazumbá-Iracema (Acre). “O projeto nos deu oportunidade de nos aproximar mais do ICMBio, o órgao gestor da unidade, trabalhando de forma integrada. Pra mim está sendo muito importante. A Associação já fazia o trabalho com o ICMBio, mas com a equipe reduzida, tínhamos dificuldade de chegar nas comunidades. Essa gestão integrada (com a chegada de técnicos contratados) proporciona melhor atendimento às comunidades”, comenta. O trabalho junto às instituições locais gerou emprego e renda nas comunidades envolvidas com as UCs, e contribuiu para aumentar o vínculo da comunidade com as unidades e fortalecer a estrutura organizacional de instituições locais que já possuam alguma relação com a UC. Hoje, por exemplo, a mais nova gestora do ICMBio para a Resex Cazumbá Iracema é uma moradora capacitada pelo MOSUC.
Saiba mais sobre o MOSUC: https://www.ipe.org.br/ra2019/projetos/mosuc.html
No Monitoramento Participativo da Biodiversidade em Unidades de Conservação da Amazônia (MPB), a comunidade é o principal agente de transformação. A proposta é obter informações conjuntamente e trocar conhecimento entre pesquisadores, gestores e populações moradoras das UCs e de seu entorno sobre a importância da biodiversidade local e de que forma elas próprias podem contribuir para protegê-la por meio do monitoramento. O projeto integra o Programa Monitora do ICMBio que busca fortalecer o diálogo em torno das questões ambientais, com base no compartilhamento de informações e na formulação de questões, criação conjunta de protocolos para levantamentos sobre a biodiversidade.
O projeto MPB já levantou inúmeras informações nas áreas monitoradas de 2014 até 2018. Os dados são utilizados em pesquisas científicas de espécies, no aprimoramento sobre conhecimento da biodiversidade e manejo sustentável dos ativos da floresta. Esses levantamentos, por sua vez, contribuem no planejamento e melhoria na gestão dessas áreas protegidas e no combate às mudanças climáticas, à extinção de espécies, ao desmatamento e à pobreza.
“Os levantamentos são muito importantes, mas o trabalho vai muito além do conhecimento reunido, pois também traz a participação das populações locais na gestão das áreas protegidas. Portanto, o projeto é fundamental para atingir as metas brasileiras para a Convenção sobre Diversidade Biológica e as Metas de Biodiversidade de Aichi”, comenta Cristina Tófoli, coordenadora do MPB.
Saiba mais sobre os resultados mais recentes: https://www.ipe.org.br/ra2019/projetos/mpb.html
Um legado para a Amazônia a várias mãos
A partir de 2019, as ações em rede do IPÊ em prol da Amazônia deram um salto em termos territoriais, com o início do projeto LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica. Ao viabilizar a realização de projetos de organizações locais, que atuam no bioma, o projeto vai promover transformações socioambientais em 80 milhões de hectares da Amazônia (43 terras indígenas e 43 unidades de conservação, em cinco estados). Uma área que corresponde a três vezes o estado de São Paulo, que agrupa seis blocos regionais nos estados do Amazonas, Pará, Rondônia, Acre e Mato Grosso. As organizações vão receber recurso do Fundo Amazônia/BNDES e Fundação Gordon e Betty Moore para trabalhar no fortalecimento e implementação de ações de conservação da Amazônia até 2022. O objetivo é ampliar a efetividade de gestão das áreas abrangidas pelo projeto, a manutenção da paisagem e das funções climáticas e o desenvolvimento socioambiental e cultural de povos e comunidades tradicionais, beneficiando mais de 20.000 pessoas.
Os projetos selecionados promoverão as seguintes ações no território: Planos de Manejo ou Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA); Mecanismos de Governança; Uso Sustentado dos Recursos Naturais; Sistemas de Monitoramento e Proteção; Integração com Desenvolvimento Regional; Políticas Públicas.