A frente de atuação Meio Ambiente e Sustentabilidade nas Áreas Urbanas do IPÊ foi estabelecida em 2016 e conta com um corpo de profissionais que estuda e promove discussões sobre as questões pertinentes ao tema com diferentes atores sociais.
A iniciativa tem base na expertise do Instituto, que possui uma série de produtos relacionados à conservação de biodiversidade e serviços ecossistêmicos urbanos. Alguns exemplos são os Planos de Manejo em áreas florestais de zonas urbanas como os do Parque Estadual da Pedra Branca, da Reserva Biológica de Guaratiba, do Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo e do Parque Municipal São Bartolomeu. Além disso, projetos para a gestão integrada de áreas protegidas em área urbana como o desenvolvido para a região do Banhado de São José dos Campos e o plano de arborização da cidade de Atibaia, reconhecido pelo programa Município Verde Azul. Destacam-se ainda as Econegociações realizadas pelo IPÊ na região do Pontal do Paranapanema e Ariri, e as mobilizações para plantios de árvores em zonas urbanas como as cidades de Teodoro Sampaio e Nazaré Paulista (SP),
Criação de uma agenda positiva em conjunto com poder público
Por meio do diálogo mantido pelo IPÊ com diversos atores do poder público nas regiões onde atua e de um levantamento com alguns de seus representantes , identifica-se uma certa dificuldade das prefeituras em conduzir exercícios de planejamento, que estabeleçam prioridades e metas para tratar dos desafios de conservação e proteção dos recursos naturais em meio urbano e peri-urbano. E quando esse exercício ocorre, ainda é preciso superar obstáculos para a efetiva implementação do que foi planejado.
Tais dificuldades parecem esbarrar na falta de equipe técnica adequada (considerando a pequena quantidade de técnicos, mas também a qualificação necessária para conduzir tais processos) e nos escassos recursos financeiros destinados para esse fim, mas sobretudo parece ter relação com a definição de políticas de governo que não tem valorizado e reconhecido o potencial ambiental, econômico e social de planos, programas e projetos voltados para a conservação da biodiversidade e serviços ecossistêmicos em meio urbano. Tais deficiências são mais comuns nos municípios menores, com até 50 mil habitantes, que merecem um olhar atento pois correspondem a mais de dois terços dos municípios brasileiros.
No entanto é preciso olhar para essa realidade com a perspectiva de estabelecimento de uma agenda positiva e como oportunidade de engajamento dos gestores públicos para a construção de parcerias com ONGs, instituições de ensino e pesquisa e outros organismos da sociedade civil ou estaduais e federais capazes de, juntos, formularem e implantarem novas políticas e mecanismos de governança estratégicos e inovadores para enfrentar esses desafios.
Com o Grupo de Estudos de Áreas Urbanas – GEAU, o IPÊ propõe buscar caminhos para inserir a variável ambiental no processo de planejamento urbano e meios de tornar a paisagem área urbana, peri-urbana e rural mais integradas propiciando a manutenção da biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos.
O crescimento urbano e a migração das populações dos ambientes rurais para as cidades é uma tendência mundial. Segundo as Nações Unidas, em 1950, apenas 30% das pessoas no mundo viviam em cidades. Esse número subiu para 50% em 2007 e as previsões indicam que entre 2010 e 2030, 60% da população mundial terá deixado a zona rural e migrado em direção às áreas urbanas (TRZYNA, 2014).
No Brasil estes dados são ainda mais significativos. Em 1980, cerca de 68% da população brasileira vivia nas cidades e, em 2010, esse número subiu para 85% (IBGE, 2014), um percentual ainda maior do que o observado na média mundial. Todo esse aumento no número das populações que vivem nas cidades se dá, muitas vezes, sem um adequado planejamento urbano, o que impacta a organização do espaço territorial, sobrecarrega os recursos ambientais, afetando o meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas.
Assim, são cada vez mais notórios:
– a escassez de recursos naturais (inclusive de água);
– a degradação ambiental;
– a mudança do clima (com aumento no nível do mar, temperaturas mais elevadas, variação na pluviosidade e enchentes, secas, tempestades e ondas de calor mais frequentes e mais severas);
– as mudanças demográficas e sociais associadas à urbanização e ao crescimento populacional (aumento da riqueza e do número absoluto de pessoas pobres)
Na medida em que as cidades crescem, a pressão sobre os remanescentes de vegetação nativa também aumenta. Esse quadro de crescimento impacta diretamente as áreas naturais, incluindo as áreas protegidas terrestres. Diante desse cenário, a conservação das florestas urbanas e de outras áreas naturais ganha ainda mais importância, já que elas fornecem serviços ecossistêmicos, que são fundamentais para sustentar a saúde e o bem estar humano e para promover a qualidade ambiental nas cidades e seu entorno (NOWAK E WALTON, 2005).
Algumas intervenções locais podem contribuir para manter ou ampliar a biodiversidade e a qualidade de vida em ambientes urbanos:
– restauração de habitats existentes nas cidades;
– enriquecimento ou reintrodução gradual de plantas e animais (aumentando a complexidade de ecossistemas e dos serviços que eles proporcionam);
– plantios de espécies nativas em parques, praças, ruas, jardins domésticos, jardins verticais e em telhados, além de outras áreas, o que diversifica o ambiente que dá suporte a mamíferos, aves, répteis, anfíbios, abelhas e outros insetos;
– criação de pequenas áreas úmidas, como lagos ou depressões, o que ajuda na prestação de uma variedade de serviços ecossistêmicos.
(Secretaria da Convenção da Diversidade Biológica-2012).
Benefícios das áreas verdes Urbanas
(Angela Pellin)
Ambientais |
Proteção de uma amostra do ecossistema e biodiversidade associada. |
Aumento da permeabilidade do solo em meio urbano. |
Proteção de cursos d’água, nascentes e matas ciliares. |
Produção e purificação da água. |
Drenagem de águas pluviais e controle de enxurradas. |
Controle de erosão e movimentos de massa. |
Controle da poluição hídrica, atmosférica e sonora. |
Regulação microclimática. |
Socioeconômicos e Culturais |
Possibilidade de melhoria na qualidade de vida de moradores do entorno e usuários. |
Conservação de patrimônio histórico-cultural. |
Valorização imobiliária do entorno. |
Oportunidade de geração de renda para a comunidade local. |
Oportunidade de recreação em contato com a natureza para moradores do entorno e usuários. |
Manutenção e conservação de espaços sagrados. |
Diminuição do estresse da vida urbana. |
Provisão de espaço de interação social. |
Estéticos |
Proteção de belezas naturais e diminuição da poluição visual. |
Descontinuidade da malha urbana. |
Educacionais ou de Sensibilização |
Inúmeras possibilidades de atividades de educação ambiental, ligadas tanto ao ensino formal quanto ao ensino informal. |
Potencial de interação com uma grande quantidade de pessoas que vivem nas suas imediações. |
Potencial de interação com uma grande quantidade de visitantes devido a sua proximidade dos grandes centros urbanos. |
Possibilidade de interação com usuários ocasionais que utilizam a área apenas para passagem ou para realização de atividades esportivas ou recreativas. |
Facilidade em atender pessoas com necessidades especiais devido ao seu fácil acesso. |
Sensibilização de um grande número pessoas que vivem em ambiente urbano, ressaltando a importância da conservação dessas e de outras áreas naturais. |
Adaptado de Pellin et al. (2014). Consolidado a partir de Menezes e Mendes (2001), Melazo e Colasanti (2003), Gomes e Soares (2003), Souza (2010), Pitt e Boulle (2010) e Brigs (2012).
Adriana Sagiani