Na foto principal, Vinícius Alves, educador do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, na trilha
Uma nova trilha do Mico-leão-preto está prestes a ser inaugurada e marca o início da ampliação de trilhas em referência à espécie, que ocorre apenas no estado de São Paulo. O percurso de 1 km é uma iniciativa do Museu do Café, na Fazenda São João e integra uma Área de Proteção Ambiental (APA) no município de Piratininga.
“Essa trilha faz parte de uma proposta de implantação da trilha do mico-leão preto em áreas de ocorrência da espécie. Essa ideia surgiu a partir da trilha no Parque Estadual Morro do Diabo, uma iniciativa da Fundação Florestal, em Teodoro Sampaio, onde vive a maior população, com cerca de 1.800 indivíduos. Ter uma segunda trilha em Piratininga, por iniciativa do Museu do Café, que fica a poucos km de Bauru, é muito simbólico, afinal o último registro do mico-leão-preto antes de ser considerado extinto por 65 anos (1905 a 1970) foi feito nessa região. A expectativa é que, a partir de ações como essa, incentivemos a implementação de mais trilhas em referência à espécie nas áreas de sua ocorrência atual ou histórica”, destaca Gabriela Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Crédito da foto: Katie Garret
Sozinho ou com monitor
A trilha do Mico-leão-preto no Museu é interpretativa. Na prática, ela possibilita que o visitante, mesmo percorrendo o trajeto sozinho, tenha acesso a uma série de informações sobre a espécie que já ocorreu naquele local. Cinco placas estão instaladas na trilha e trazem desde conteúdo sobre o grau de ameaça à extinção, onde vivem atualmente, como dormem, se protegem e se alimentam, além do contexto histórico da região relacionado à espécie.
Trata-se do mesmo conteúdo desenvolvido para a trilha do Parque Estadual Morro do Diabo. Os conteúdos foram testados com banners por 16 meses (fevereiro de 2023 a junho de 2024) e, após retorno positivo do público visitante, todo o material foi formatado para a produção de placas, a serem instaladas nos locais escolhidos. “Ao mesmo tempo em que levamos informação também alertamos para os desafios enfrentados pela espécie, que tem no desmatamento e na alta fragmentação do hábitat as principais ameaças”, explica Gabriela sobre as placas recém-instaladas no Museu do Café de Piratininga, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, com apoio do Disney Conservation Fund, Meta Ambiental – Consultoria e Projetos Ambientais, e do Museu do Café de Piratininga.
Para Guilherme Amaral, proprietário da Fazenda onde está localizado o Museu, a Trilha interpretativa enriquece a proposta do Museu. “A Trilha do Mico está alinhada aos conteúdos abordados em nossos roteiros ambientais. Biodiversidade, histórico de desmatamento e o processo de restauração que estamos vivenciando com iniciativas para recuperar Áreas de Preservação Permanentes (APP), especialmente no entorno de rios, nascentes e em área de Reserva Legal, a fim de garantir a produção de água e contribuir com a biodiversidade”.
Pessoas como aliadas da conservação
Para Eloane Salla, educadora ambiental do Museu, a expectativa com a implementação da trilha, que ganhou placas de conteúdo sobre o mico-leão-preto, é criar uma conexão mais profunda entre os visitantes com o meio natural. “Crianças, jovens e adultos terão a oportunidade de aprender mais sobre a biodiversidade, a fim de desenvolver um senso de responsabilidade e de cuidado com o meio ambiente. A trilha oferece a oportunidade de conhecer a fauna e a flora da APA do Rio Batalha, onde o Museu está inserido. O mico-leão-preto era um morador natural dessa região e trazê-lo como foco vai mostrar ao visitante na prática sobre a necessidade de proteger o meio natural e seu hábitat para quem sabe, no futuro, esses animais voltem a habitar esse ecossistema. A trilha também será um meio de sensibilização sobre os desafios de conservação das espécies e o papel que todos nós temos”.
Vinícius Alves, educador do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, que já trabalhou também na área de Educação Ambiental no Museu do Café, destaca a importância de conhecer o passado, até mesmo para reconhecer o contexto em que Programas de conservação são desenvolvidos. “ A partir desse momento, o público terá ainda mais informação sobre o histórico da região, que inclui a extinção do mico-leão-preto, mas também que tem gente trabalhando para salvá-lo da extinção e que restabelecer o hábitat leva tempo, mas é essencial se desejamos ter outro final para essa história”.
Apesar dos desafios, o Programa de Conservação tem nas ações de educação ambiental o principal pilar para despertar o interesse de crianças, jovens e adultos por esse pequeno primata, considerado símbolo de conservação no estado de São Paulo. “Atividades em áreas naturais oferecem a oportunidade de atrair ou ainda aumentar o interesse das pessoas a partir das vivências. O mico-leão-preto está extinto da maior parte de sua área de ocorrência, mas, apesar do tamanho desse desafio, avanços importantes têm sido feitos, que vão desde a restauração do hábitat até o manejo de populações. Nessa última, identificamos grupos em uma população-fonte com potencial de contribuir com populações extremamente reduzidas, que são levados, após muita pesquisa e um extenso e detalhado roteiro, para esse novo endereço”, explica Gabriela.
Saiba mais sobre a espécie
Após ser considerada extinta por mais de 60 anos (1905 a 1969), a espécie redescoberta em 1970, na região do Pontal do Paranapanema, entrou em 1982 para a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da IUCN – International Union of Conservation of Nature (União Internacional para Conservação da Natureza), como “Ameaçada”. Na época, havia um entendimento diferente do atual e as classificações das espécies se limitavam à “Extinta”, “Ameaçada”, “Vulnerável”, “Rara” ou “Indeterminada”.
Em 1996, por conta de novos critérios da IUCN, baseados na extensão de ocorrência, extremamente fragmentada e reduzida, o Mico-leão-preto foi classificado como “Criticamente Ameaçado”. Em 2000, integrou a lista das 25 espécies de primata mais ameaçadas do mundo, elaborada pelo Grupo Especialista de Primatas da IUCN.
Segundo Gabriela Rezende, em 2008, a IUCN reavaliou a situação da espécie, levando em consideração todo o conjunto da obra: as pesquisas de campo em andamento, o manejo de populações e a melhoria do hábitat por conta do projeto de restauração iniciado na região do Pontal do Paranapanema.
“Novas populações foram descobertas no Alto Paranapanema, aumentando, assim, o tamanho populacional e a extensão de ocorrência. Além disso, tivemos o início do projeto de restauração de corredores do IPÊ, a criação da Estação Ecológica Mico-leão-preto (ICMBio), dentre outras ações que fizeram diferença na avaliação da IUCN em 2008, que migrou o mico-leão-preto para “Em Perigo”, uma categoria mais esperançosa”, explica Gabriela Rezende. A estimativa mais recente considera que 1.800 indivíduos vivem na natureza, distribuídos em cerca de 20 localidades no estado de São Paulo – entre o Rio Tietê e o Rio Paranapanema), sendo cerca de 65% deles no Parque Estadual Morro do Diabo.