O Rio Grande do Sul vem sofrendo os efeitos da pior tragédia climática de todos os tempos. São perdas de vidas, perdas econômicas, culturais e naturais, além, claro, de traumas incalculáveis. Outras cidades e estados brasileiros também passaram recentemente por situação semelhante: ondas de calor extremo, secas prolongadas ou chuvas intensas. Ao que parece, o “novo normal” do nosso clima chegou.
Organizações socioambientais da sociedade civil sempre chamam atenção para os riscos das ações humanas ao clima, alertando para causas e efeitos das emissões de gases de efeito estufa e da flexibilização da legislação ambiental que permitiu mudanças significativas no uso do solo, deixando cidades ainda mais vulneráveis aos eventos extremos. Desmatamentos, degradação de ambientes, perda de biodiversidade fazem parte dos temas quando dialogamos com comunidades, governos, seguidores em nossas redes sociais.
Mas também trabalhamos intensamente no campo das soluções para prevenir os riscos, reduzir os impactos dessas ações humanas e reverter esses efeitos em alguma escala. Embora todos nós tenhamos que nos adaptar a novas realidades, ainda há tempo de implementarmos medidas de impacto positivo nesses tempos tão desafiadores. No IPÊ, diferentes iniciativas têm promovido uma mudança real para o clima e para a sociedade. Quer alguns exemplos?
– O restabelecimento de florestas em áreas degradadas passou a ser uma das ações mais defendidas globalmente para o combate à crise climática. A ONU estabeleceu de 2021 a 2030 como a década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas. No mundo, o desafio é a recuperação de 1 bilhão de hectares. O Brasil estabeleceu como compromisso plantar 12 milhões até 2030, conforme as metas climáticas do país, que também incluem o desmatamento ilegal zero e outras metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEEs).
No IPÊ, realizamos projetos com o objetivo de restaurar florestas na Mata Atlântica e estamos iniciando trabalhos pilotos de restauração na Amazônia, biomas importantes para a regulação climática. Já plantamos na Mata Atlântica quase 8 milhões de árvores que ajudam a capturar gases de efeito estufa da atmosfera causadores das mudanças climáticas. Parte dessas árvores formam o maior corredor já restaurado no bioma com 2,4 milhões de árvores que conectam duas Unidades de Conservação. O trabalho de restauração ainda fomenta a criação de negócios sustentáveis, gera emprego e movimenta a economia: hoje geramos emprego a 188 pessoas em um único projeto de restauração florestal na Mata Atlântica. Nossa abordagem Clima, Comunidade e Biodiversidade é aplicável em outras regiões do Brasil.
– A Educação Ambiental Climática tem sido um instrumento importantíssimo para levarmos conhecimento sobre clima às pessoas e engajá-las pelo tema. Nosso projeto “Escolas Climáticas” acontece hoje em seis escolas de municípios de São Paulo, com potencial de ser ampliado no estado e aplicado em outras regiões. Uma educação direcionada para o clima faz com que se desenvolva o conhecimento necessário para uma transformação social que coloque as questões socioambientais em primeiro lugar e se entenda as relações socioeconômicas a partir de uma inteligência para a sustentabilidade e a conservação da vida, inclusive da espécie humana.
– A atuação dos projetos do IPÊ coloca sempre em primeiro plano as comunidades locais, que vivem em áreas estratégicas para o equilíbrio climático. É o caso das populações do território Amazônico, que desenvolvem iniciativas de fortalecimento do território, de seus conhecimentos tradicionais e de suas ancestralidades. Estamos falando de populações indígenas e tradicionais que, ao desenvolverem suas potencialidades tomando as próprias decisões pelo território em benefício de seus moradores, conseguem manter a floresta e todos os seus serviços e ainda desenvolverem-se economicamente. Já temos resultados de grande impacto com projetos que beneficiam mais de 5 mil pessoas diretamente. Levamos cursos, recursos para infraestrutura, fortalecemos cadeias produtivas, criamos parcerias e redes para que isso tudo aconteça, e ainda somos pontes para o diálogo com o poder público. Atuamos ali com cinco projetos que têm esse objetivo.
– Estamos atentos às questões políticas que impactam essa agenda. Nossos dados de pesquisas científicas apontam as possibilidades e soluções existentes para os desafios climáticos e de biodiversidade. Eles ainda ajudam na tomada de decisões na esfera pública, dando suporte a políticas que impactam a sociobiodiversidade. Assim como as demais organizações socioambientais, reforçamos a importância de que todos os cidadãos estejam empenhados e comprometidos a acompanhar as decisões políticas que influenciam a legislação ambiental, afetando a vida de todos nós. Temos o poder de transformação dessa realidade a partir da escolha de nossos governantes.