Estratégia para aumento da resiliência na produção pecuária frente aos impactos das Mudanças Climáticas
O Projeto Paisagens Climáticas realizou sua primeira oficina de Sistema Silvipastoril em uma de suas Unidades Demonstrativas em processo de implementação. Ao longo de uma semana se reuniram estudantes e professores do Centro Estadual Integrado de Educação Rural (CEIER) Águia Branca e da Escola Família Agrícola do Bley, representantes de associações de agricultores e do SEBRAE, técnicos extensionistas, agricultores e famílias beneficiárias do projeto.
As atividades tiveram a consultoria de Luã Veiga, especialista em Pecuária Sustentável. Veiga é formado em agroecologia (IFSEMG), mestre em agroecossistemas (UFSC) e doutor em zootecnia (UEM). Atua com assistência técnica e extensão rural na elaboração, implantação, monitoramento e consolidação de sistemas produtivos de base ecológica na cadeia do leite, corte, grãos e grandes culturas. Possui 12 anos de experiência de em criação agroecológica de ruminantes, manejo agroecológico de pastagens, produção de leite orgânico, Sistemas Silvipastoris Sucessionais, bem-estar animal aplicado à produção de leite e Desenvolvimento Rural Sustentável.
Planejamento Participativo das Unidades Demonstrativas do Projeto Paisagens Climáticas
A oficina teve início com o planejamento das propriedades de Cláudia Marins Maciel e Edileusa Sgrancio. Foram cinco dias de visitas técnicas, levamento de necessidades e sonhos, mapeamento e diagnóstico. Nesta etapa, é muito importante que o planejamento seja realizado de acordo com as possibilidades de manejo da família residente.
Para Edileusa, a implementação da Unidade Demonstrativa é a realização de um sonho. A agricultora sempre quis poder se dedicar integralmente ao cuidado do sítio e para isso precisa que sua produção de leite seja sustentável, nos aspectos ambiental, social e econômico. Nos períodos de seca a complementação requerida para suprir as necessidades nutricionais do gado de leite só era possível através da realização de trabalhos externos, o que trazia muito desânimo à agricultora. Edileusa conta que quando a técnica extensionista do IPÊ chega, vê a esperança entrando dentro de sua propriedade.
“O Sistema Silvipastoril proporciona sombreamento, conforto térmico, maior disponibilidade de água, além de conservar os recursos da pastagem. Ele também proporciona um prolongamento da disponibilidade de pasto no período de seca, o que é muito importante para a redução dos custos de produção.” explica Ana Palmina, técnica extensionista do Projeto Paisagens Climáticas. Luã Veiga também orientou as agricultoras sobre técnicas de silagem e introdução de outros alimentos, como, por exemplo, o margaridão, que tem um alto índice de proteína e é resistente a seca.
O sítio de Edileusa possui 11 hectares, destes 4 hectares serão destinados ao novo Sistema Silvipastoril, já que seu foco é a produção leiteira. Edileusa vê a implementação da Unidade Demonstrativa como uma oportunidade não só para ela, mas também para seus filhos Kauã e João, de 14 anos e 7 anos. A sucessão rural tem se mostrando um grande desafio para a sustentabilidade no campo e continuidade da agricultura familiar em todas as regiões do país.
No último dia de atividade, a oficina recebeu um público mais amplo, com introdução teórica no período da manhã. No período da tarde, os participantes realizaram uma atividade prática, em que fizeram juntos a divisão dos piquetes, exemplares do sistema de beberagem e de peças de cerca eletrificada. A proposta do Sistema Silvipastoril é que ele possa ser replicado em outras propriedades da agricultura familiar. O custo reduzido do cercamento também foi ressaltado pelo consultor. Ao final da semana em que passaram juntos, os agricultores já estavam ensinando e auxiliando uns aos outros.
Depois de aprender sobre cada detalhe do sistema e do planejamento consolidado nos mapas, foi realizada uma caminhada pela propriedade de Edileusa, para que os participantes pudessem observar o processo de implantação. No encerramento foram plantadas mudas de espécies nativas da Mata Atlântica, como urucum da mata, gurindiba e açoita cavalo. “Foi uma construção coletiva, com participação bastante ativa, dos alunos que estavam com a gente, da comunidade e das famílias”, compartilha Palmina.
Sistema Silvipastoril
O Sistema Silvipastoril é uma técnica que une a criação de animais (seja para corte ou leite) com a produção de madeira (Silvicultura). A região dos Pontões Capixabas, no sudeste do país, passa por uma estação seca que dura em torno de 5 meses. Este período é desafiador para os produtores, que contam com uma disponibilidade reduzida de alimento para os animais. Com o pasto mais seco, é necessário complementar a alimentação (através de silagem ou ração), o que aumenta os custos da produção. A estiagem também leva a redução dos rebanhos, quando não há recursos suficientes para sua manutenção.
A região dos Pontões Capixabas foi elencada pelo Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), financiador do projeto, como área suscetível a desertificação (AsD). Este cenário reforça a necessidade da implementação de técnicas que aumentem a resiliência das propriedades rurais, ou seja, sua capacidade de se recuperarem de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas. A divisão da pastagem em piquetes, através da implementação de cercas elétricas de baixo custo, e o rotacionamento dos animais possibilitam um melhor aproveitamento do pasto.
“Nosso foco é trazer esse aumento de renda dentro da propriedade, diminuir o custo de produção e aumentar também o número de litros de leite produzidos, além de inserir outras atividades, como o plantio de árvores nativas” explica Palmina.
O Sistema também prevê a variabilidade de espécies forrageiras, que contribuem para o aumento da disponibilidade e qualidade do alimento. Outro benefício do rotacionamento é a redução de parasitas no rebanho. As linhas de árvores adicionadas ao Sistema oferecem conforto térmico aos animais, melhoram a descompactação do solo e incrementam a biodiversidade na propriedade. Para além da conservação do solo, dos recursos hídricos e da biodiversidade, os Sistemas Silvipastoris possibilitam o aumento do número de animais por hectare, uma estratégia para redução do desmatamento.
“O sistema de silvipastoril aumenta a produtividade da propriedade, conserva a pastagem e recupera pastagens degradadas. É um manejo que reduz a lama na pastagem e nos corredores. Isso é vantajoso para a produção de leite porque reduz a incidência de doenças como a mastite, aumentando sua qualidade e, consequentemente, seu valor.” explica Luã Veiga.