Nesta semana, nos dias 06 e 07 de novembro, profissionais que atuam pela conservação da biodiversidade estarão reunidos no evento 10 anos do Programa Monitora: passado, presente e futuro que será realizado no auditório do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA), em Brasília/DF (para convidados) e terá transmissão simultânea pelo canal do ICMBio no YouTube. O evento tem como objetivo além de celebrar a primeira década, construir uma estratégia de aprimoramento e a expansão do programa do monitoramento de biodiversidade.
A realização é do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente em parceria com União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, WWF-Brasil, Gordon and Betty Moore Foundation, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Wildlife Conservation Society (WCS) e Instituto Serrapilheira.
O IPÊ, parceiro de longa data do Monitora, participa de três momentos. No primeiro dia, estará na mesa-redonda A importância do uso dos dados do Monitora para a gestão local que fecha a programação do primeiro dia. Nessa mesa-redonda, Fabiana Prado, coordenadora de projetos no IPÊ, vai trazer a experiência do projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade (MPB/IPÊ) realizado em 17 Unidades de Conservação na Amazônia, de 2013 a 2022.
O MPB apoiou a consolidação do Monitora, por meio do envolvimento da participação dos atores locais no monitoramento, discussão dos protocolos, capacitação de monitores, aquisição de equipamentos de aplicativo para coleta digital de dados e de dois sistemas de gestão de dados. Em 2022, último ano, como previsto, o projeto passou por um período de transição por conta das atividades absorvidas pelo ICMBio. As ações passaram a ser uma política pública nas Unidades de Conservação participantes do MPB.
Durante a COP16, Cristina Tófoli, pesquisadora do IPÊ e coordenadora do MPB, destacou que embora a participação social tenha sido um grande desafio, o projeto só rendeu bons frutos por conta desse engajamento real das pessoas. “O processo de participação social para o monitoramento da biodiversidade ou ações de conservação é demorado, porém, mais legítimo e traz resultados mais consistentes, garantindo uma continuidade das ações. Lembrando que assinatura de lista de presença não é participação social. É necessária uma escuta ativa, uma abertura para a participação e horizontalidade no diálogo, combinando os saberes locais e tradicionais com o conhecimento técnico e acadêmico dos cientistas”.
Entre os destaques do projeto estão:
– Mais de 12 milhões de hectares em Unidades de Conservação com gestão aprimorada
– Desenvolvimento da tecnologia social dos Encontros dos Saberes com troca de conhecimento entre 980 pessoas, entre comunidades, gestores e pesquisadores.
– Formação de 1.680 pessoas em temas referentes ao monitoramento participativo da biodiversidade e 823 monitores locais atuantes
– Participação de 5.558 pessoas em atividades de engajamento em conservação da biodiversidade e gestão de Unidades de Conservação de 269 comunidades tradicionais e 309 instituições.
No segundo dia do evento, dois pesquisadores do IPÊ vão compartilhar os resultados obtidos em duas pesquisas que reforçam caminhos para mensurar a conservação e também o restabelecimento da biodiversidade. Alexandre Uezu abrirá a mesa Bioacústica como ferramenta de monitoramento. O pesquisador contará sobre a pesquisa que permitiu identificar as espécies de aves que vivem nas áreas de mata nativa e restauradas na Mata Atlântica, no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste paulista. As informações do banco de dados também possibilitaram analisar, por exemplo, se eram espécies que dispersam sementes e que ajudam na restauração florestal, se eram ameaçadas de extinção e ainda se eram frequentes na região.
Uezu também estabeleceu um comparativo com a própria tese de doutorado que entre 2003 e 2005 analisou 28 áreas entre fragmentos florestais e áreas dentro do Parque Estadual Morro do Diabo. Atualmente, a amostragem está em 64 fragmentos nativos e restaurados – quantidade quase três vezes maior em relação à pesquisa inicial do pesquisador e que inclui as 28 áreas analisadas no doutorado.
Na sequência, Pedro Pedro, pesquisador do IPÊ, estará na mesa DNA ambiental como estratégia no monitoramento da biodiversidade. Pedro apresentará o projeto de pesquisa de biomonitoramento usando DNA, no Parque Nacional Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. O objetivo é avaliar o impacto do uso do fogo, quando utilizado em queimas prescritas, no ecossistema da Unidade de Conservação. A iniciativa é uma realização do LIRA/IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica em parceria com o ICMBio, por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP).
O sequenciamento de DNA tem um enorme potencial para a conservação da biodiversidade, especialmente na Amazônia. Investimentos em infraestrutura e treinamento podem permitir a implementação de projetos de sequenciamento de DNA em países em desenvolvimento, permitindo um melhor monitoramento da biodiversidade e uma proteção mais efetiva dos ecossistemas. Neste sentido, o projeto tenta sempre manter um balanço entre um custo de pesquisa mínimo e a produção de resultados úteis e cientificamente válidos. Assim o projeto busca explorar um novo nicho na geração de dados ecológicos: o desenho de protocolos de pequena e média escalas que respondem perguntas relevantes do órgão gestor das unidades de conservação (ICMBio) e na sociedade em geral, sem um investimento substancial de recursos ou treinamento.