A ciência centrada em pessoas e natureza é o foco da edição de maio da revista Conservation Biology, que tem 13 artigos que exploram diferentes aspectos do tema no Brasil.
O especial tem como editores convidados pesquisadores e professores do IPÊ, em colaboração com pesquisadora da University College London (UCL). No texto de abertura, os autores destacam o papel relevante do Brasil para a mudança na ciência da conservação de espécies no mundo, quando as pesquisas passaram a considerar as comunidades partes interessadas e imprescindíveis do processo.
“Ficamos honrados em abrir esse especial falando justamente de um tema importante ao IPÊ, que é a participação social nas ações de conservação. Os grandes resultados em conservação de espécies e restauração de paisagens conquistados pelo Instituto em mais de 30 anos vêm do entendimento de que, sem isso, os projetos ficam sujeito à descontinuidade, porque não conversam com os ideais das pessoas que vivem em áreas importantes de serem conservadas, mas que dependem dela para sua sobrevivência. Esse senso de pertencimento e colaboração entre todos é fundamental”, explica Rafael Moraes Chiaravalloti, um dos autores e professor da UCL e da ESCAS, escola do IPÊ, além de pesquisador associado ao Instituto.
No texto, os autores lembram que os programas de conservação centrados em pessoas surgiram de formas variadas, por exemplo, a partir de movimentos sociais, como o Movimento Seringueiro da Amazônia e a criação de áreas protegidas de uso sustentável. “Vinculando a conservação a forças sociais mais amplas, muitos dos grupos que lutam contra o desmatamento foram formados em centros comunitários criados para educação política enraizada em ideias socialistas (por exemplo, a Comunidade Eclesiana de Base)”.
Além da Amazônia, os pesquisadores também destacam o programa de restauração florestal e agroflorestal no estado de São Paulo, liderado pelo IPÊ. “Juntamente com pessoas do Movimento dos SemTerra (MST), eles criaram um dos projetos de restauração comunitária mais bem-sucedidos do planeta. Milhares de hectares de floresta foram restaurados, centenas de famílias atualmente se beneficiam de produtos agroflorestais e espécies ameaçadas de extinção na região, como o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), têm se recuperado de forma constante. O IPÊ replicou a mesma abordagem em outras partes do país e se tornou uma das ONGs de conservação mais importantes do Brasil”. São exemplos como esses que ajudaram a mudar a biologia da conservação de uma ciência focada apenas em natureza, para uma ciência focada na mudança socioambiental.
“Nesta edição especial nosso objetivo é promover a compreensão de como a conservação centrada na comunidade pode se tornar um aspecto central e eficaz da ciência e da prática da conservação e como tais esforços de conservação, fundamentados no Brasil, podem ser ampliados e aplicados em outras regiões do mundo. Um dos principais focos desta edição especial é revelar como a parceria entre o conhecimento ecológico local e o conhecimento científico é a raiz da conservação centrada nas pessoas”, diz o texto, assinado por Claudio Padua (reitor da ESCAS e coordenador de bioeconomia no IPÊ), Rafael Morais Chiaravalloti (professor da ESCAS-IPÊ e da University College London), Fabio Scarano (conselheiro do IPÊ e membro do Instituto de Biologia da UFRJ) e Thais Q. Morcatty (University College London, London eRede de Pesquisa em Diversidade, Conservação e Uso da Fauna da Amazônia).
Os artigos podem ser acessados em inglês:
https://conbio.onlinelibrary.wiley.com/toc/15231739/2025/39/3