Pesquisadores do IPÊ e alunos do Mestrado Profissional em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior de Conservação Ambiental e Conservação (ESCAS/IPÊ) desenvolvem estudo de bioacústica nas florestas fragmentadas de Mata Atlântica e áreas reflorestadas na região do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste do estado de São Paulo.
A pesquisa integra o projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, uma parceria do IPÊ com a CTG Brasil, uma das líderes de geração de energia limpa do País, por meio de um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento – P&D da ANEEL.
São parceiros do projeto: a FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da ESALQ; o Lastrop – Laboratório de Silvicultura Tropical, da Esalq/USP; a Universidade Federal de Lavras; GVCes, da Fundação Getúlio Vargas; Weforest e Rainforest Connection. Segundo a pesquisadora e coordenadora da frente de Biodiversidade do projeto, Simone Tenório, o foco da pesquisa bioacústica é realizar o levantamento da biodiversidade, por meio da vocalização das espécies de aves, anfíbios e morcegos que habitam as áreas de conservação ambiental e as unidades de conservação.
Pesquisadores realizaram coleta de dados em três campanhas de campo, no período de setembro/2020 a fevereiro/2021; temporada de reprodução das espécies. “Instalamos os gravadores, nas matas nativas e reflorestadas, nos meses de novembro, dezembro/2020 e janeiro/2021. Os gravadores são colocados na mata, em média a 1,60m de altura. O ponto de instalação tem cerca de 100 metros da borda ao interior do fragmento nativo ou reflorestado. Toda a trilha é marcada manualmente e via GPS para facilitar o retorno dos pesquisadores para a retirada dos gravadores após 21 dias”, pontua Carolina Biscola, aluna do Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável da ESCAS/IPÊ.
Os dados são armazenados na plataforma digital Arbimon (Automated Remote Biodiversity Monitoring Network). O estudo permitirá levantar inúmeras questões, entre elas, quais são as espécies que vivem nas áreas de mata nativa e reflorestadas. As informações do banco de dados também vão possibilitar analisar, por exemplo, se são espécies que dispersam sementes e que ajudam na restauração florestal, se estão ameaçadas de extinção e ainda se são frequentes na região.
Será possível estabelecer um comparativo com a tese de doutorado do pesquisador do IPÊ Alexandre Uezu, também professor na ESCAS e que integra a frente de Biodiversidade no projeto de bioacústica. Uezu, relata que entre 2003 e 2005 analisou 28 áreas entre fragmentos florestais e áreas dentro do Parque Estadual Morro do Diabo. Atualmente, a amostragem está em 64 fragmentos nativos e restaurados – quantidade quase três vezes maior em relação à pesquisa inicial do pesquisador e que inclui as 28 áreas analisadas no doutorado.
“Uma das expectativas do estudo atual é verificar qual é o panorama atual em relação a fragmentação, após 15 anos de estudo e ainda a influência do plantio de cana-de-açúcar e de pastagem nas proximidades das matas. Com os dados identificaremos os fatores que influenciam a presença de aves e anfíbios na região”, explica Uezu.
Vale ressaltar que com o corredor reflorestado já está ocorrendo incremento na conectividade da paisagem, o que representa aumento da conexão para a biodiversidade. Principalmente, para as espécies que não conseguem atravessar áreas muitos extensas de pasto ou de cana-de-açúcar, como por exemplo o mico-leão-preto (Lentopithecus chrysopygus).