A obra, de autoria de Leo Mareco, será colada entre 14h e 15h30 e toda a população está convidada a acompanhar o trabalho
A anta brasileira é um animal essencial para a manutenção da biodiversidade, pois possui um papel vital na dispersão de sementes e na germinação de florestas. Dia 27 de abril é o dia de celebrar essa espécie tão importante e vulnerável à extinção, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Por isso, a INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, em conjunto com o artista Leo Mareco, comemoram a data com arte urbana.
Campo Grande é a cidade-sede da INCAB-IPÊ e é conhecida pela biodiversidade presente no dia a dia de seus moradores. É comum, por exemplo, que moradores avistem antas atravessando ruas da cidade. Pensando nisso, a INCAB-IPÊ decidiu colocar a anta brasileira na rotina de quem trafega por uma das principais vias da cidade – a Avenida Afonso Pena – por meio de um lambe-lambe. O lambe é uma expressão artística urbana e consiste na criação de cartazes em papel que são colados em muros e postes.
O espaço para o lambe-lambe foi cedido pela Cantina Masseria e o intuito da intervenção artística é que as pessoas possam olhar para a anta com orgulho em ter o maior mamífero terrestre da América do Sul em solo brasileiro. A obra será de autoria de Leo Mareco, que realizará o trabalho no sábado 27 de abril, Dia Mundial da Anta. A população está convidada a acompanhar o trabalho do artista que terá início às 14h. A obra terá 2m60 de comprimento por 2m30 de altura. O artista destaca o poder da arte na conservação. “A arte tem um papel fundamental na conscientização das pessoas em diferentes temas e na conservação ambiental não seria diferente. A arte do lambe-lambe, que está no perímetro urbano, ou seja, uma arte totalmente democrática, acaba viabilizando ainda mais o alcance dessa mensagem”.
Patrícia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ, explica que o coração do projeto é a pesquisa, mas é preciso considerar a percepção que a população tem sobre a anta, pois isso influencia na conservação da espécie. “A gente costuma brincar que a anta tem um problema de relações-públicas com o qual precisamos lidar, sendo este o uso pejorativo da palavra anta para denotar pouca inteligência. Utilizamos nossos resultados de pesquisa para alimentar um programa de comunicação voltado para a conservação da anta brasileira e com um grande foco na desmistificação dessa questão pejorativa. Nesse processo de comunicação, lançamos mão de diversas ferramentas, como mídias sociais, imprensa, documentários, fotografias e a arte, que é uma importante ferramenta de conservação. Esse lambe-lambe, em Campo Grande, é uma oportunidade de colocar a anta na boca do povo para que as pessoas possam se remeter à conservação desse animal, trazendo assim a anta para o dia a dia da população”, afirma.
O que torna a anta especial
A anta tem vários títulos: Jardineira da Floresta, Espécie Sentinela, Espécie Guarda-Chuva e Detetive Ecológica. Mas o que cada um deles realmente significa?
A anta é um animal que consome até sete quilos de frutos diariamente e, em seus grandes deslocamentos, defeca as sementes desses frutos. Ao passar pelo trato digestivo do animal, essas sementes têm sua dormência quebrada e isso facilita o processo de germinação. Por isso a anta é a JARDINEIRA DA FLORESTA.
Além de suas habilidades em jardinagem, a anta é uma ESPÉCIE SENTINELA, ou seja, ela indica o estado de saúde do ambiente e dos seres que ali vivem. Em 2018, a INCAB-IPÊ identificou antas contaminadas por agroquímicos e metais no Cerrado do Mato Grosso do Sul, e, enquanto espécie sentinela, a descoberta levantou alertas sobre o quadro de saúde de outros seres na região. Em 2023, a equipe retornou à área de amostragem das antas para uma pesquisa com humanos e a contaminação também foi identificada em tal grupo.
A anta é um animal que se desloca por longas distâncias e precisa de grandes áreas para sobreviver, por isso garantir a conservação da espécie beneficia outros seres que também compartilham do ecossistema. Essa característica faz da anta uma ESPÉCIE GUARDA-CHUVA. Além disso, devido a essas longas distâncias, a espécie conecta diferentes ecossistemas contribuindo para a compreensão das inter-relações entre o mosaico de habitats, de tal fato que surge o título de DETETIVE ECOLÓGICA.
Apesar de sua importância, a anta brasileira está vulnerável à extinção. As principais ameaças à espécie são colisões veiculares, caça, perda de habitat, agroquímicos e fogo.
Origem do Dia Mundial da Anta
O Dia Mundial da Anta começou com um australiano entusiasta de antas. Anthony Long, desde 2008, soma esforços para o reconhecimento da anta. Para contribuir com a conservação da Jardineira da Floresta, o australiano esteve à frente das articulações para instituir o dia 27 de abril como o Dia Mundial da Anta.
“Ao contrário dos elefantes, rinocerontes, leões, tigres e outros mamíferos de grande porte, as antas não aparecem na mente da maioria das pessoas. As pessoas não sabiam o que são as antas, esses animais não apareciam em filmes, livros infantis ou de qualquer outra maneira que outros animais – mais populares – apareciam”, contou Anthony Long, em entrevista ao IPÊ – Insituto de Pesquisas Ecológicas.
Anthony Long explica que a escolha da data foi cuidadosamente planejada. “Na época não havia nenhum evento significativo em nenhum lugar do mundo. O dia escolhido não entra em conflito com a Páscoa (cai depois da última data possível) e por ser em abril, há probabilidade de um clima melhor na maioria dos países para que eventos ao ar livre pudessem acontecer”.