A pesquisadora do IPÊ Patrícia Medici e o veterinário e ilustrador Ronald Rosa lançaram em Janeiro um movimento em favor de animais que sofrem por terem seus nomes utilizados pelas pessoas de forma negativa. A ideia teve origem no trabalho educativo da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, coordenada pela pesquisadora, que, dentre várias ações, busca conscientizar a população sobre a importância da espécie e desmistificar a ideia de que “anta” significa um ser sem inteligência.
Assim, para “rebater” o costume brasileiro de utilizar “anta” como forma de insulto, Patrícia e Ronald publicam nas redes sociais, uma vez por semana, ilustrações apresentando a espécie interagindo com outros animais que, assim como a anta, também têm seus nomes utilizados de maneira pejorativa. Na lista estão baleia, cachorro, piranha, burro, vaca, porco, tartaruga, até mesmo o verme, que têm seus nomes usados como insultos em diversos contextos.
“Esse costume de usar nomes de animais para ofender sempre me incomodou, principalmente pelo fato de veladamente estar aí uma rejeição à nossa condição de animal – ponto de vista que nos separa cada vez mais como humanos da natureza. Então criamos uma ‘brincadeira formativa’, com o intuito de fazer as pessoas refletirem e formarem uma nova opinião a respeito. Escolhi criar uma situação onde os animais estivessem ‘tirando sarro’ de si mesmos e rindo do óbvio da situação”, afirma Ronald.
De acordo com Patrícia, fazer a relação entre anta com alguém sem inteligência é algo sem sentido. “Estudos comprovam que a anta tem uma quantidade imensa de neurônios e que ela é um animal extremamente inteligente. Portanto, a cultura brasileira de usar a anta como xingamento, com conotação pejorativa, é completamente injusta e absolutamente infundada. Ser chamado de anta é na verdade um elogio”, diz.
Além disso, ela chama a atenção para a função ecológica da anta nos ecossistemas por ela habitados. Maior mamífero terrestre da América do Sul, a espécie é considerada a jardineira das florestas, visto que é uma excelente dispersora de sementes. “A anta se alimenta de frutos que germinam ao passarem pelo seu sistema digestivo e, como percorre trajetos muito longos, ela espalha essas sementes ajudando a disseminar novas árvores e plantas, contribuindo para a formação e manutenção da biodiversidade dos biomas brasileiros onde vive, na Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal”, conclui a pesquisadora.
Os desenhos são publicados nas redes sociais do IPÊ: Facebook, Instagram e Twitter e no Facebook da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta / Lowland Tapir Conservation Initiative – Brazil (https://www.facebook.com/LTCIBrazil)