Atualizada em 19/11/2025
Como se não bastassem os desafios dos efeitos das mudanças climáticas com eventos extremos mais frequentes e intensos, a desinformação climática tem despontado como obstáculo que busca polarizar as discussões, o que compromete inclusive o atendimento em momentos críticos como, por exemplos nas enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024.
Entre os avanços desta COP estão o reconhecimento da integridade da informação para ação climática como um dos temas-chave e o lançamento do Pacto Global pela Integridade da Informação climática, um compromisso internacional para combater a desinformação climática e fortalecer a transparência e a credibilidade das informações científicas sobre o clima. “Sem acesso a informações confiáveis sobre as alterações climáticas, jamais poderemos superá-las. Por meio desta iniciativa, apoiaremos os jornalistas e pesquisadores que investigam questões climáticas, por vezes correndo grandes riscos, e combateremos a desinformação climática que se alastra nas redes sociais”, afirmou Audrey Azoulay, diretora-Geral da UNESCO, no lançamento da iniciativa.
O tema Combate à Desinformação Climática: caminhos para Integridade da Informação também foi discutido na programação da Casa IPÊ na COP30, com moderação de Paula Piccin, coordenador de Comunicação do IPÊ.
Renata Negrelly Nogueira, coordenadora geral de Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação, vinculada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), contou sobre os avanços. “A desinformação é um dos principais desafios. Lula falou na última semana que essa é COP da verdade. Por conta de toda essa confluência, a presidência da COP colocou a desinformação como um dos 30 temas-chave, foi elaborado um plano de ação para acelerar a agenda internacionalmente. Tivemos êxito na COP de conseguir adesão de 25 países na COP, estamos em um momento de grande clímax. Estamos investindo em boas práticas e esse plano de ação envolve mapear o que temos de integridade da informação. Até o momento, esse conhecimento está muito concentrado no norte do planeta”.
Agnes Franco, coordenadora da rede de pesquisadores e egressos da Global Labour University/ América Latina, contou sobre os pilares do negacionismo, a estratégia de enfrentamento e pontuou as principais vítimas. “A gente trabalha com desinformação a partir do tripé negacionista: democrático/eleitoral; Político/ambiental e sanitário/vacinal. Quem emite a mensagem, como ela chega e por qual meio. Mais de 40 pesquisadores estão olhando para a circulação digital, têm feito esse exercício nas redes sociais, nos veículos ou ainda identificando a ausência dessa informação, como ela acontece. A ideia central é do grande inimigo ser o estado e a gente sabe exatamente quem vai sentir o baque maior. A população que é a vítima tem cor, gênero e endereço”.
Nesse contexto, Mateus Fernandes, fundador da Infoperifa, reforçou a importância de a periferia contar a própria história. “Se a imprensa não mostra, o governo não mostra, passamos de forma inconsciente a criar também desinformação. A comunicação do governo está começando a falar com uma linguagem jovem. Se a fake news chega dessa forma, a gente precisa chegar também. O trabalho em rede é muito importante, integrar as periferias dentro das redes”.
Lais Duarte, repórter e apresentadora do Repórter Eco, programa da TV Cultura, reforçou o papel-chave da imprensa. “A gente consome o nosso tempo desmentindo fake news e desenvolvendo notícias cada vez mais curtas. A imprensa livre é um tripé da democracia, é uma questão de saúde, direito e sobrevivência. A reportagem é o coração disso tudo. Para ser repórter a gente tem de preservar a capacidade de se indignar”.