Neste mês de março (dias 10 e 11), 40 profissionais estiveram reunidos na Oficina para Elaboração do Programa de Manejo Populacional do Mico-leão-Preto (Leontopithecus chrysopygus), no Centro de Formação em Conservação da Biodiversidade (ACADEBio/ICMBio), na Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema, em Iperó/SP, para definir colaborativamente os próximos passos para a conservação do mico-leão-preto.
O resultado desse trabalho é o desenvolvimento do Programa de Manejo Populacional do Mico-Leão-Preto, seguindo as diretrizes da IN ICMBio nº 5/2021, detalhando estratégias de manejo para a espécie. Após consolidação do documento nos próximos meses, o Programaserá submetido para aprovação em quatro fases: primeiro seguirá para conhecimento do Grupo de Assessoramento Técnico do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-coleira (PAN PPMA); em seguida será submetido para análise técnica do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio) e, à Coordenação Geral de Estratégias para a Conservação do ICMBio. A aprovação final cabe à Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (DIBIO/ICMBio), considerando todas as manifestações anteriores. Uma vez aprovado pela Diretoria, o programa será publicado no site do ICMBio e terá validade de 10 anos.
“O Programa traz, por exemplo, os critérios que precisam ser observados para a escolha tanto de potenciais populações que venham a ser manejadas, assim como de indivíduos e das próprias áreas que farão parte das ações; de onde sairiam e para onde iriam os animais, com base em parâmetros genéticos, demográficos, sanitários, comportamentais e também relacionados à qualidade do habitat”, explica Gabriela Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto – um dos projetos do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, instituição que assina a realização do evento junto com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros – CPB/ICMBio e o Zoológico de São Paulo. Gabriela também foi indicada pelo conjunto de participantes para coordenar o programa de Manejo Populacional elaborado.
Leandro Jerusalinsky (ICMBio/CPB), Claudio Padua e Gabriela Rezende (IPÊ), Dominic Wormell (Dureell Wildlife Conservation Trust, um dos financiadores do Programa de Conservação do Mico-leão-preto/ IPÊ) e Monica Montenegro (PAN PPMA e representante do ICMBio/CPB)
“Este é apenas o segundo programa elaborado conforme as novas diretrizes da IN ICMBio nº 05/2021, e representa um passo importantíssimo no sentido de pactuar com todas as instituições envolvidas, como ONGs, universidades, zoológicos, criadouros científicos, Fundação Florestal e o próprio ICMBio, as melhores estratégias de manejo populacional para melhorar a situação do mico-leão-preto e aumentar as chances de sobrevivência de suas populações”, afirma Mônica Valença Montenegro, coordenadora do PAN PPMA e representante do ICMBio/CPB junto ao programa.
“No caso particular do mico-leão-preto, o manejo populacional, com translocações para reforços populacionais e reintroduções, já teve uma enorme importância histórica para reduzir seu risco de extinção, servindo como exemplo para as estratégias de conservação de diversas outras espécies de primatas ameaçados no Brasil e no mundo”, destaca Leandro Jerusalinsky, Coordenador do ICMBio/CPB e Vice-Presidente do Grupo Especialista em Primatas da IUCN.
Na ACADEBio/ICMBio
O evento teve início com apresentações sobre características gerais da espécie, distribuição geográfica, principais ameaças para sua conservação e lacunas de conhecimento, que buscaram o nivelamento entre os participantes. Na segunda parte, a programação trouxe temas como resultados de análises genéticas e de viabilidade populacional, apontando quais subpopulações apresentam maior risco de desaparecer nas próximas décadas. Atualmente, apenas a população do Parque Estadual Morro do Diabo (FF/SP), no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste paulista, apresenta as características capazes de viabilizar a espécies nos próximos 100 anos.
Entre as estratégias para a conservação da espécie está o manejo populacional integrado, aquele que envolve tanto indivíduos e grupos na natureza (in situ) quanto fora dela (ex situ) – como os animais que vivem em zoológicos e em criadouros conservacionistas – conforme orientação do PAN PPMA.
Considerando todos os aspectos abordados, foram recomendadas ações de translocação, incluindo reintrodução do mico-leão-preto, com o objetivo de reforçar pequenas populações, garantir a variabilidade genética e ampliar a atual área de ocupação da espécie (em regiões onde esta foi localmente extinta).
Embora a população ex situ tenha crescido nos últimos anos, o número de indivíduos ainda é baixo, dessa forma são necessários novos animais para garantir a variabilidade genética a longo prazo. Os participantes da Oficina também orientam a destinação de indivíduos oriundos da natureza para integrar o programa de reprodução ex situ, como forma de contribuir com uma população de segurança, que deverá auxiliar nas ações de incremento das populações selvagens no futuro.
“O número de indivíduos de cada população é uma questão importante, mas sua variabilidade genética também, porque é ela que permite que o bicho se adapte melhor às adversidades. Populações com maior variabilidade, por exemplo, têm mais chances de sobreviver considerando condições adversas que poderão ser enfrentadas em decorrência das mudanças climáticas”, explica Gabriela Rezende.
Entre as novidades do Programa está também a definição do grupo de acompanhamento das atividades, seguindo a legislação vigente (IN ICMBio nº 5/2021). O grupo proposto no Programa reúne representantes de governo, ONGs, universidade, instituições ex situ (zoológico, criadouros conservacionistas) nacionais e internacionais. Essa mobilização é essencial diante do cenário atual, em que a maioria das populações remanescentes de mico-leão-preto não está em condições que garantam a sua sobrevivência a longo prazo.
Os participantes também avançaram em relação ao fluxograma de autorizações/licenças para que os manejos recomendados possam ser realizados nas esferas federal e estadual. “Uma vez autorizado o programa, pesquisadores que quiserem propor manejo precisam apresentar um projeto seguindo as orientações e os critérios estabelecidos no documento oficial para o grupo de acompanhamento do Programa.”, completa Gabriela.
Uma curiosidade, o Centro de Formação em Conservação da Biodiversidade (ACADEBio/ICMBio), onde foi realizada a Oficina, está localizado na Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema, em Iperó/SP, onde o mico-leão-preto foi descoberto pelo naturalista austríaco Johann Natterer, em 1822.
Equipe do Programa de Conservação do Mico-leão-preto/IPÊ