Parceria inédita entre pecuária, ciência, governo e filantropia impulsiona o crescimento do FPS com ações que trarão benefícios para os pantaneiros, a biodiversidade e o clima
Na foto: Carlos Padovani (Embrapa), Miriam Perilli (Coalizão Pontes Pantaneiras/IPÊ), Marco Carvalho (Famato), Linácis Silva Vogel Lisboa (Secretaria de Agronegócios, Crédito e Energia da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Gross), Roger-Mark de Souza (The Pew Charitable Trusts), Clenio Pilon (Embrapa), Mauren Lazzaretti (Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso), Rita de Cássia Guimarães Mesquita (Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), Michel Ro (Associação Aliança 5P).
Neste 12 de novembro, dia em que é celebrado o Dia do Pantanal, foi anunciado um importante investimento e novo ciclo de cooperação para a solução integrada Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS), baseada na ferramenta de mesmo nome desenvolvida pela Embrapa Pantanal. A divulgação ocorreu no espaço Arena da Agrizone, da COP30, organizado pela EMBRAPA Pantanal (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Ao todo serão investidos mais de R$ 20 milhões investidos até 2030.
A Fazenda Pantaneira Sustentável é uma plataforma digital que monitora indicadores ambientais, socioculturais, produtivos e de bem-estar animal por meio de um protocolo fundamentado em critérios científicos robustos. Essa plataforma é o resultado de mais de 20 anos de pesquisa da Embrapa Pantanal, e integra boas práticas agropecuárias e tecnologias avançadas, desenvolvidas ao longo dos 50 anos de presença da Embrapa Pantanal na região. Proporciona gestão estratégica, transparente e baseada em dados científicos, permitindo uma tomada de decisão mais sustentável e eficiente. O protocolo tem como objetivo orientar e reconhecer as propriedades rurais que adotam boas práticas socioambientais e produtivas, ajudando a posicionar o Pantanal como modelo global de sustentabilidade.
“Apresentar a Fazenda Pantaneira Sustentável na COP é um marco para o Pantanal e para a ciência brasileira. O projeto reflete uma construção coletiva que une pesquisa, extensão rural, produtores e diversos parceiros — do governo, do terceiro setor e de entidades internacionais — em torno de um propósito comum: promover uma pecuária que gere resultados econômicos, sociais e ambientais positivos. Essa integração vem garantindo avanços concretos, fortalecendo os elos entre ciência e campo e mostrando que é possível alinhar produção, inclusão social e sustentabilidade ambiental, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e os princípios ESG”, Suzana Salis, Chefe-Geral da Embrapa Pantanal.
O programa valoriza e fortalece o modo de produção tradicional do Pantanal, integrando pecuária à conservação ambiental, promovendo assim resiliência climática. Ao incentivar alguns fatores como a manutenção de pastagens nativas, a regulação dos regimes hídricos e o controle de incêndios, a iniciativa atua diretamente na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e na adaptação dos sistemas produtivos às novas condições ambientais, além de promover a conservação e manutenção de serviços ecossistêmicos essenciais para o bioma. A baixa lotação de gado, típica da pecuária tradicional pantaneira, contribui para conservação do solo e da vegetação, reduzindo o pisoteio e a degradação das pastagens. Essa prática evita a abertura de novas áreas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa associadas ao desmatamento.
Assim, o FPS consolida a pecuária sustentável no Pantanal como um modelo de economia de baixo carbono, ancorado em soluções baseadas na natureza. Ao alinhar produção, conservação e clima, a iniciativa contribui para as metas de neutralidade climática e conservação da biodiversidade estabelecidas no Marco Global da Biodiversidade e nas NDCs do Brasil.
Atualmente, a plataforma FPS está em processo de integração a um sistema de certificação, que oferecerá um selo de sustentabilidade confiável e baseado em ciência, reconhecendo e valorizando produtores comprometidos com práticas compatíveis com a conservação do bioma e as demandas do mercado. Essa certificação busca oferecer uma vantagem competitiva ímpar, abrindo portas para novos mercados que priorizam produtos com rastreabilidade e comprometimento com o meio ambiente.
Do início à expansão
A Fazenda Pantaneira Sustentável já está fazendo a diferença em campo. Após um piloto bem-sucedido com 15 propriedades em Mato Grosso, realizado em parceria pela Embrapa Pantanal, Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso), Senar MT (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso) e com o apoio do IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a iniciativa está em expansão em 2025, com 80 novas propriedades (~400 mil ha) em 6 municípios pantaneiros do estado. Em termos econômicos, ao longo de quatro anos, o projeto demonstrou resultados consistentes, como a melhoria dos índices zootécnicos e produtivos, com destaque para o aumento da taxa de prenhez.
“Além de abrigar uma riqueza biológica singular, o Pantanal cumpre papel estratégico na regulação do clima e na manutenção dos ciclos hídricos. Quando bem manejada, torna-se aliada da conservação e da produção. E com a FPS é possível gerar renda, conservar e planejar um futuro seguro para a região. Prova disso é que em cinco anos de projeto-piloto, a idade do primeiro parto das vacas caiu de 34 para 28 meses e a taxa de prenhez subiu de 41% para 70,9%” afirma Vilmondes Tomain, presidente do Sistema Famato.
Desde fevereiro deste ano, o programa vem sendo implementado também no Mato Grosso do Sul, com oito fazendas que abrangem (~110.000 ha), resultado de oficinas e articulações lideradas pela Coalizão Pontes Pantaneiras — que reúne Embrapa Pantanal, IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), Smithsonian Institution, The Pew Charitable Trusts e UCL (University College London).
Este esforço consolida o programa como referência regional e global, com planos de expansão para 2 milhões de hectares do bioma até 2030. Para isso, será necessário um esforço conjunto e coordenado, refletido no anúncio realizado hoje na COP30.
A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Mato Grosso apoiará as ações de pesquisa por meio de investimentos estratégicos destinando aproximadamente R$ 3,5 milhões para pesquisas e ações de desenvolvimento voltadas ao início da Base Ativa de Germoplasma (BAG) de pastagens nativas — etapa essencial para o melhoramento genético e o manejo sustentável das pastagens nativas do Pantanal, assim como o manejo sustentável do Cambará, viabilizando desse modo, a inserção de novas boas práticas fortalecendo o Programa Fazenda Pantaneira Sustentável.
“O Projeto Fazenda Pantaneira Sustentável representa mais do que uma iniciativa técnica: é um instrumento que reafirma o compromisso de Mato Grosso com o desenvolvimento do Pantanal e com quem vive e produz nele. Ao elevar os índices zootécnicos e fortalecer a gestão das propriedades, o projeto garante mais autonomia ao produtor, gera renda e mantém viva a cultura pantaneira. E faz isso com responsabilidade ambiental, por meio de monitoramento claro, transparência e ciência aplicada ao território. Trata-se de um exemplo concreto de desenvolvimento sustentável na prática: onde produção, conservação e inclusão caminham juntas. É assim que asseguramos que o Pantanal continue sendo o bioma mais preservado do Brasil, ao mesmo tempo em que fortalecemos quem cuida dele há gerações: o homem pantaneiro’, afirma Cesar Alberto Miranda Lima, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Mato Grosso.
O Sistema Famato apoiará e promoverá a mobilização de produtores rurais para a adoção voluntária da FPS, além de promover o diálogo com o mercado, visando a valorização da carne pantaneira certificada. Já o Senar MT, por meio da Assistência Técnica Gerencial (ATeg) e também em parceria com os Sindicatos Rurais, disponibilizarão R$16 milhões até 2030, conforme demanda, para ações de capacitação, assistência técnica e monitoramento voltadas à implementação da plataforma FPS. Esses recursos serão aplicados na formação de técnicos, consultores e produtores, no fortalecimento de programas de extensão rural e na estruturação de sistemas de monitoramento socioambiental das fazendas participantes. O Sistema Famato e o Senar MT atuarão, assim, como um vetor de disseminação e consolidação das boas práticas do FPS, garantindo capilaridade e consistência técnica no Pantanal mato-grossense.
“Nosso objetivo é colocar a FPS na rotina das fazendas, e isso já começou. Estamos investindo, por meio da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), em equipes qualificadas para o produtor pantaneiro produzir mais, com menos impacto. A adesão é voluntária e segue um método claro: o técnico apoia a gestão, mede os avanços e corrige o rumo quando necessário. É assim que recomendação vira resultado dentro da porteira”, afirma Marcelo Lupatini, superintendente do Senar MT.
Já no MS, a Coalizão Pontes Pantaneiras atuará como instância articuladora de governança e integração interinstitucional, conectando ciência, política pública e sociedade na implementação direta da FPS. Apoiará, ainda, no monitoramento da biodiversidade e no uso de tecnologias inovadoras para avaliar impactos e resultados, bem como na comunicação institucional do FPS em escala nacional e internacional. Em parceria com a Coalizão, The Pew Charitable Trusts, organização filantrópica internacional, trabalhará para garantir financiamento privado para apoiar a expansão desta iniciativa, com o objetivo de arrecadar pelo menos US $1 milhão, cerca de R$5 milhões, para acelerar a iniciativa nos próximos dois anos.
Hoje, os avanços no MS se devem em grande parte ao apoio dos produtores da representados pela Aliança 5P que seguirão integrando propriedades-modelo à rede Fazenda Pantaneira Sustentável.
“Esta colaboração inédita eleva a aplicação da Fazenda Pantaneira Sustentável a um novo patamar, ao unir o setor pecuário, os governos estadual e federal, a ciência e a filantropia em torno de um compromisso comum: valorizar a pecuária pantaneira, proteger os modos de vida locais e assegurar a conservação do bioma. É uma oportunidade de demonstrar, na prática, como conservação e produção podem caminhar, e já caminham, juntas no Pantanal”, afirma Miriam Perilli, Coordenadora da Coalizão Pontes Pantaneiras.
“O programa FPS é uma iniciativa de grande relevância para o Estado de Mato Grosso, pois alia ciência, inovação e gestão ambiental, social e econômica em prol de uma pecuária pantaneira cada vez mais sustentável. O embasamento técnico e científico que alicerça o programa confere credibilidade aos seus resultados, que certamente podem subsidiar tomadas de decisão estratégicas, direcionar pesquisas de interesse para o bioma e fortalecer políticas públicas mais eficientes voltadas ao desenvolvimento sustentável do Pantanal mato-grossense”, afirma Mauren Lazzaretti, Secretária de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso.
O compromisso firmado na COP30 simboliza uma nova etapa para o Pantanal, marcada pela colaboração entre governos, produtores, ciência e filantropia em prol de um mesmo propósito: fortalecer uma pecuária sustentável que valoriza os modos de vida locais, conserva a biodiversidade e contribui para o enfrentamento das mudanças climáticas. A Fazenda Pantaneira Sustentável consolida-se assim como um símbolo de cooperação e inovação, valorizando o passado e abrindo caminho para um futuro em que produção e conservação seguem caminhando juntas no Pantanal.