Brigadistas voluntários e comunitários do Baixo Tapajós participaram nos dias 1 a 4 de julho, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, em Santarém, do curso de capacitação “Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo no Baixo Tapajós”. A atividade é a última etapa do teste de implementação da Estratégia Federal de Voluntariado no Manejo Integrado no Fogo (MIF). O evento reuniu representantes de organizações da sociedade civil, do governo federal, voluntários e comunitários que atuam com o MIF e outras iniciativas de conservação ambiental.
Segundo Angela Pellin, coordenadora de projetos do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, o evento fecha um ciclo encontros realizados durante o primeiro semestre de 2024 e que deve contribuir para a proteção do território e e para implementação de estratégias de prevenção e combate aos incêndios florestais no Baixo Tapajós que integrem poder público, voluntários e comunitários.
“O objetivo dessa atividade é ampliar capacidades locais e a integração com o poder público para implementação das diretrizes da Estratégia Federal e fortalecer a participação voluntária e comunitária no MIF na região. Foram apresentados conteúdos, ferramentas e realizados simulados com voluntários e comunitários envolvendo a melhor forma de receber e reportar informações ao ICMBio e de se organizar em situações de emergência, o que deve contribuir para melhorar a eficiência e a comunicação dessas brigadas e fortalecer o diálogo com o poder público”, afirma Angela.
A capacitação ocorreu no Centro Experimental Floresta Ativa (CEFA), um polo de treinamento em tecnologias produtivas agroflorestais e socioambientais da unidade de conservação, coordenado pelo Projeto Saúde e Alegria. Durante quatro dias, participantes passaram por atividades de formação e simulações relacionadas à detecção, acionamento e estabelecimento de comando integrado, de forma a aprimorar a eficácia nas diferentes fases da prevenção e combate aos incêndios florestais.
“A gente teve oportunidade de conversar e se conectar com as pessoas que são os principais elementos de um território. Tivemos espaços de troca, de interação e momentos para subsidiar instrumentos de fortalecimento da atuação desse público no Manejo Integrado do Fogo. Além das atividades de teste de ferramentas de navegação com o uso de aplicativo, uso de drone, fotos com coordenadas, a atividade também apresentou orientações para o fortalecimento comunitário como a busca por recursos financeiros e editais para que as associações locais sejam cada vez mais independentes e protagonistas da gestão desses territórios”, destaca Fernando Rodovalho, especialista em Manejo Integrado do Fogo do IPÊ.
“Essa capacitação é fundamental porque possibilita o diálogo das brigadas comunitárias com o poder público. E pra nós, que somos uma brigada indígena, formada majoritariamente por mulheres, esse evento também traz a valorização do nossos conhecimentos tradicionais. Os aprendizados compartilhados aqui certamente vão ajudar a melhorar nossas ações de prevenção e dar uma resposta mais rápidas em casos de incêndios no nosso território”, afirma Tainan Kumaruara, Integrante da Brigada indígena Guardiões do Território Kumaruara.
A escolha do Baixo Tapajós para o teste se deu pelas características do território que possui um histórico de ocorrência de incêndios florestais, mas também se destaca pela presença de brigadas voluntárias e comunitárias que atuam na proteção da região em parceria com o poder público.
“Essa oportunidade que o Baixo Tapajós está tendo é algo muito relevante, pois possibilita a troca de experiencias e a escuta entre as brigadas voluntárias e comunitárias da região e as grandes organizações que atuam com proteção territorial como o IPÊ, Ibama, ICMBio. Por isso, acredito que tudo isso que está sendo construído aqui pode ser um modelo de política pública que seja referência para outras regiões. Aqui a gente está conseguindo enxergar como podemos atuar como o Manejo Integrado do Fogo, de forma realmente integrada, envolvendo a sociedade civil e o poder público”, ressalta João Romano, coordenador da Brigada de Alter.
Manejo Integrado do Fogo
O Manejo Integrado de Fogo (MIF) envolve aspectos ecológicos, culturais, socioeconômicos e técnicos relacionados ao fogo, com a finalidade de minimizar os danos e maximizar benefícios aos ambientes naturais e às populações locais. As atividades do MIF incluem trabalho de sensibilização sobre o uso cultural e socioeconômico e o papel ecológico do fogo, mobilização social e educação ambiental, prevenção de incêndios, queimas controladas e prescritas, detecção e combate a incêndios florestais, além da reabilitação de ecossistemas e mitigação de danos.
Além das instituições públicas legalmente responsáveis pela gestão dos incêndios florestais no país, voluntários e comunitários também desempenham um importante papel. Um levantamento realizado pelo IPÊ, no primeiro semestre de 2023, identificou cerca de 200 brigadas voluntárias e comunitárias voltadas para a prevenção e o combate a incêndios florestais e outras atividades de conservação ambiental no Brasil. A região do Baixo Tapajós possui um grande número de brigadas já estabelecidas ou em consolidação.
Além das brigadas voluntárias e comunitárias, também foram identificados centenas de voluntários que atuam de forma individual ou coletiva em atividades ligadas ao manejo integrado do fogo, como prevenção e combate aos incêndios florestais, educação ambiental, pesquisa e monitoramento e recuperação de áreas degradas.
Resex Tapajós-Arapiuns
Criada em novembro de 1998, a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns está localizada nos municípios de Santarém e Aveiro, no oeste do Pará. Dos 647.610 hectares de sua área, cerca de 34% (194.283 hectares) estão localizados no município de Aveiro/PA. E 66% (453.327 hectares), no município de Santarém/PA. Segundo dados do ICMBio, no território moram cerca de 4 mil famílias, que se concentram ao longo das margens dos dois principais rios, distribuídas em 72 comunidades.
Nos últimos anos, a unidade de conservação tem sofrido com intensos incêndios florestais. Em 2023, o fogo que se alastrou na Resex, sobretudo no mês de outubro, consumiu uma área de 2,5 mil hectares, de acordo com o ICMBio. Segundo os especialistas do órgão, os incêndios foram provocados pela seca histórica na região Amazônica e o aumento de focos de calor na região.
“A amazônia é um bioma que não se desenvolveu acostumado com fogo. O que a gente tem visto é que com as mudanças climáticas dos últimos anos, a vegetação do bioma tem ficado mais suscetível a ocorrência dos incêndios florestais, como tem ocorrido cada vez mais nessa região. No ano passado a gente teve uma seca extrema causado pelo El Niño e o território do Baixo Tapajós sofreu demais com os impactos dos incêndios. Mas é importante destacar que nesse cenário o papel das unidades de conservação, como a Resex Tapajós-Arapiuns, é fundamental para segurar os impactos desses incêndios. Essas áreas funcionam como grandes freios para os avanços das queimadas. Por isso é importante fortalecer essas iniciativas voluntárias de combate e prevenção aos incêndios florestais porque elas são essenciais para a proteção desses territórios”, explica Thiago Dias, analista ambiental do ICMBio.
Em outubro do no passado o Conselho Deliberativo da Resex determinou a proibição do uso do fogo nos roçados, com a imposição de sanções administrativas, incluindo autos de infração, para quem desrespeitasse a medida. A decisão foi adotada em razão da condição de emergência provocada pelos incêndios florestais no território.
O estado do Pará registrou o maior número de queimadas no Brasil durante o período de janeiro a outubro de 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um total de 31.119 focos de incêndio foi identificado, tornando-o um dos anos mais críticos em termos de incêndios florestais na região. Além disso, o estado enfrentou seu segundo pior mês de outubro em 25 anos, agravando ainda mais a situação.
As atividades desenvolvidas no Baixo Tapajós fazem parte da iniciativa que visa apoiar a estruturação da Estratégia Federal de Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. As informações geradas nesta etapa vão subsidiar uma regulamentação que o MMA publicará sobre o tema. A Estratégia tem uma abrangência nacional, com potencial de contribuição junto ao sistema de unidades de conservação (UCs) e seu entorno, terras indígenas e territórios quilombolas, além de elementos integradores de paisagem como reservas legais e áreas de preservação permanente, no âmbito das propriedades particulares.
O projeto Voluntariado no MIF é executada pelo IPÊ, sob a coordenação do MMA, em parceria com a Coordenação de Manejo Integrado do Fogo (CMIF) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e com o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e financiada pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).
Ajude as brigadas voluntárias
O IPÊ lançou uma campanha de doação para os brigadistas voluntários e comunitários que estão na linha de frente do combate aos incêndios, na luta para manter nossas florestas vivas, salvar os animais e proteger as comunidades tradicionais. Com a sua doação, será possível apoiar brigadas voluntárias e comunitárias com mais equipamentos e estrutura para garantir segurança e maior eficiência no combate aos incêndios. DOE AGORA.
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Foto de capa: Brigada de Alter