No Brasil, 39,4% das áreas de plantio de palma tiveram origem em florestas desmatadas
Nos últimos anos, a produção de óleo de palma tem aumentado a ponto de tornar o óleo vegetal dominante globalmente. Embora mais de 80% de óleo de palma do mundo seja atualmente produzido na Indonésia e na Malásia, a palma é cultivada em 43 países e, em pelo menos 20 deles (na Ásia, América do Sul, África e América Central), o aumento dessa produção já é uma grande ameaça às suas florestas e a sua biodiversidade.
Este é um dos alertas de um novo estudo liderado pela Universidade de Duke, o primeiro a examinar os impactos da produção do óleo de palma sobre a biodiversidade globalmente, considerando não apenas o passado das áreas de plantio como as ameaças futuras para as florestas que ainda existem nos países analisados. O artigo foi publicado na revista PLoS ONE e é assinado por quatro pesquisadores dos EUA e Brasil, incluindo Clinton Jenkins, do IPÊ.
Utilizando imagens de satélite, os pesquisadores encontraram altos níveis de desmatamento impulsionado pela produção de óleo de palma nos últimos 25 anos (1989-2013), principalmente no sudeste da Ásia e na América do Sul. Imagens indicam que no sudeste da Ásia, 45% das plantações de dendezeiros são provenientes de áreas de desmatamento recente. Na América do Sul, neste período, o percentual foi de 31%. Por outro lado, na América Central e na África, observou-se apenas 2% e 7% das plantações de palmeiras de óleo proveniente de áreas que eram florestas.
Três dos países estudados apresentaram os maiores níveis de desmatamento, com mais de metade do óleo de palma cultivado em terras desmatadas durante o período estudado – Equador (60,8%), Indonésia (53,8%) e Peru (53,1%). No Brasil, esse índice é de 39,4%.
“Quase todas essas plantações foram florestas tropicais originalmente. A questão é como recentemente elas foram desmatadas e de que forma devemos olhar para fora, para o desmatamento futuro (proveniente do plantio do óleo de palma)”, afirma Varsha Vijay, principal autora do estudo e doutoranda na Universidade de Duke.
Futuro das florestas
Para orientar as intervenções destinadas a reduzir a devastação florestal tropical devido ao óleo de palma, o estudo avaliou as expansões recentes e os modelos possíveis de produção e extração para o futuro em 20 países. Em seguida, comparou essas tendências aos dados da FAO sobre áreas plantadas para óleo de palma. A conclusão foi que as florestas e áreas críticas para a conservação da biodiversidade nesses países estão vulneráveis ao desmatamento para a produção de palma.
As maiores áreas florestais vulneráveis estão na África e América do Sul, mas todas as quatro regiões de produção contêm globalmente altas concentrações de mamíferos e aves em risco de extinção. Segundo a pesquisa, embora haja variações, os países com elevada porcentagem de áreas de plantio atuais provenientes de desmatamento recente (1989-2013) possuem as florestas mais vulneráveis. No Brasil, a ameaça encontra-se em áreas ainda não exploradas e igualmente vulneráveis pelas condições socioambientais atuais, especialmente em áreas não protegidas pela legislação.
“Quase toda a palma de óleo cresce em áreas que eram florestas úmidas tropicais e, no Brasil, isso é um risco futuro para áreas da Amazônia, por exemplo. A expansão desse mercado ameaça a biodiversidade e aumenta as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Florestas em todas as quatro regiões de produção são importantes para a biodiversidade, contendo muitas espécies de mamíferos e aves em risco de extinção. Uma das sugestões seria utilizar áreas já desmatadas e inativas para o plantio desse produto”, informa Clinton Jenkins, pesquisador do IPÊ e professor da ESCAS.
Stuart Pimm, professor de Biologia da Conservação na Universidade de Duke e outro co-autor do estudo também alerta: “Isto significa que diferentes grupos de espécies estão em risco em diferentes regiões. Esse fato precisa ser incorporada ao planejamento de conservação em face da expansão das ameaças, como óleo de palma”.
“A indústria de óleo de palma tem um legado de desmatamento e, hoje, a pressão dos consumidores está empurrando as empresas para com fontes livres de desmatamento de óleo de palma”, disse Sharon Smith, da União de Cientistass, também uma das autoras do estudo. “Esta pesquisa nos ajuda a compreender onde concentrar sobre o uso de regulamentação governamental e intervenções no mercado de voluntários para moldar a expansão das plantações de óleo de palma de forma a proteger os ecossistemas ricos em biodiversidade e evitar o desmatamento”.