Práticas agropecuárias sustentáveis na construção de paisagens multifuncionais resilientes as Mudanças Climáticas
A redução da disponibilidade hídrica afeta diretamente a produção agropecuária, o abastecimento urbano e até mesmo a geração de energia hidrelétrica, agravando situações de vulnerabilidade social. Frente aos desafios trazidos pelas mudanças climáticas para uma região agrícola suscetível à desertificação como os Pontões Capixabas (ES), dois novos projetos do IPÊ estão atuando na disseminação de práticas agropecuárias sustentáveis e integração de atores estratégicos na restauração de solos degradados e redução desse risco.
O Projeto Paisagens Climáticas atua na criação de paisagens multifuncionais que aliam a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas nativos em ao desenvolvimento econômico-social. Com base em conhecimentos científicos e participação das comunidades locais estas paisagens apresentam maior resiliência dos sistemas produtivos e são mais bem adaptadas às mudanças climáticas, além de contribuírem para a mitigação de seus impactos.
Atualmente o projeto está realizando o diagnóstico socioambiental e econômico da região, através da coleta de dados de 150 famílias da agricultura familiar para a composição de um corredor ecológico. Duas Unidades Demonstrativas serão implementadas, com adaptações baseadas em ecossistemas (AbE) em assentamentos rurais. Nestas Unidades Demonstrativas serão realizadas 12 capacitações técnicas, para que outros agricultores também possam realizar o planejamento de suas propriedades, unindo adequação ambiental e aumento de produtividade. As atividades também visam a criação de redes e aproximação dos atores locais, além de engajar jovens e mulheres nas atividades.
O Projeto Centro de Educação e Cooperação Socioambiental para o Clima (CECSA-Clima) atua na formação, articulação e engajamento de dirigentes, professores e jovens estudantes de escolas públicas municipais e estaduais no desenvolvimento coletivo de soluções voltadas a produção, sistematização e disseminação de conhecimento aplicado ao planejamento, gestão e restauração de paisagens resilientes às mudanças climáticas através do fortalecimento da Educação Ambiental.
A criação dos Centros de Educação e Cooperação Socioambiental é uma Política Pública Federal, que visa acelerar mudanças culturais para fortalecer processos de transição educadora em direção a sociedades sustentáveis em diferentes regiões do país.
Participam da construção do CECSA-Clima órgãos públicos (Secretarias municipais de educação, cultura, turismo, lazer e meio ambiente), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), técnicos extensionistas locais, sindicatos de trabalhadores rurais, Sebrae, Senar, Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Espirito Santo (FETAES), grupos e associações de agricultores familiares e extrativistas, assentados da reforma agrária, lideranças comunitárias, empresas da região parceiros institucionais nos municípios de Alto Rio Novo, Águia Branca e Pancas (ES).
Os professores da Escolas Estadual Pastor Antônio Nunes de Carvalho de Alto Rio Novo, da Escola Municipal Agro-Ecológica Fazenda Lacerda, do Centro Estadual Integrado de Educação Rural (CEIER) e funcionárias da e a Secretaria de Educação e Cultura de Águia Branca já participaram da primeira atividade do CECSA-Clima, a oficina “Educomunicação e causas socioambientais: um olhar para a realidade local” onde levantaram os principais desafios ambientais da região, trocaram experiências sobre as atividades de Educação Ambiental e agroecologia realizadas nas escolas e planejaram a produção integrada de materiais de educomunicação para a redução dos impactos das Mudanças Climáticas.
Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD) nos Pontões Capixabas
Os municípios Alto Rio Novo, Águia Branca e Pancas localizados na região dos Pontões Capixabas no noroeste do Espírito Santo, onde os projetos estão em andamento, estão classificados como Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD), segundo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
A desertificação é o processo de degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas do Brasil, segundo Tratado estabelecido pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD). A delimitação destas áreas é realizada através do cálculo do Índice de Aridez, que é definido pela razão entre a precipitação (chuva) e a evapotranspiração (evaporação) potencial da água.
A região possui um histórico de degradação ambiental devido principalmente a ocupação desordenada, desmatamento e uso inadequado do solo, baseado em sistemas de monoculturas com ausência de manejo ou manejos inapropriados. A carência de boas práticas na produção agropecuária aumenta a insegurança alimentar e hídrica, reduz os rendimentos da agricultura familiar, ameaça a biodiversidade e a provisão de serviços ecossistêmicos. A baixa produtividade agrícola na região com histórico de cafeicultura agrava a falta de perspectivas no campo, impulsionando o êxodo da juventude rural.
Em um cenário de Mudanças Climáticas, no qual eventos climáticos extremos como secas prolongadas tendem a se intensificar, atenção especial precisa ser dada a áreas em processo de desertificação.
O projeto Paisagens Climáticas é financiado pelo Fundo Nacional sobre Mudança do Clima do Governo Federal (FNMC) do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). O projeto Centro de Educação e Cooperação Socioambiental é financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FMNA) do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).