Dias 28 e 29 de janeiro o IPÊ realizou o curso “Agrossilvicultura: Sistemas Produtivos Sustentáveis para a agricultura familiar do Pontal do Paranapanema” para cerca de 35 assentados rurais da região. O curso contou com aulas teóricas e prática de campo em propriedades de assentados que já realizaram plantios em Sistemas Agroflorestais (SAFs) via projetos do Instituto.
O curso faz parte do projeto “Sistemas agroflorestais para agricultura familiar como corredores de biodiversidade no Pontal do Paranapanema” (Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – Micro Bacias II), que visa ampliar a pouca cobertura florestal de assentamentos e pequenas propriedades inseridos na Mata Atlântica. A ideia é propor aos assentados um sistema de produção mais equilibrado, com ganhos econômicos, ambientais e sociais. Nos dias de aula, os técnicos do IPÊ mostraram as vantagens da produção agroflorestal e discutiram técnicas de plantio com os participantes.
Os SAFs e sistemas silvopastoris são formas de manejo da terra que combinam plantio de árvores nativas com culturas agrícolas sejam elas perenes ou não. Por meio dos SAFs é possível ter um solo mais equilibrado e rico em nutrientes, além de uma produção mais livre de agrotóxicos, usando práticas agroecológicas mais sustentáveis de uso do solo. A produção diversificada também é um meio de proporcionar ganhos econômicos ao agricultor.
Um exemplo de experiência bem sucedida do IPÊ com assentados dentro
desse conceito foi a iniciativa do projeto Café com Floresta, realizado de 2001 a 2011, que combinou o plantio da cultura consorciado ao plantio de árvores nativas. O resultado do trabalho pode ser visto até hoje, inclusive em propriedades visitadas pelos assentados no dia do curso. São áreas que continuam produzindo café à sombra das árvores, promovendo uma produção com menores danos por pragas, doenças, ou temperatura (muito sol ou geada), e que ainda contribuem com a biodiversidade local. Em visita a uma dessas propriedades, o agricultor do assentamento Arco Íris Marcos Ramos da Silva (foto) se surpreendeu com a forma de plantio e como é possível aproveitar os resíduos como galhos e folhas secas para adubar o solo. “Vejo muita gente que tira isso do solo e até queima porque acha que não é bom pra terra. Mas não precisa fazer isso”, diz ele, que tem experiência no plantio de café em Minas Gerais, mas nunca utilizou o Sistema Agroflorestal para isso. “O curso foi bom pra gente pegar conhecimento de muita coisa e saber que invés de a gente matar, que dá pra preservar. Se eu tiver a oportunidade quero plantar café no meu sítio com o projeto”, afirmou.
Essa também é a opinião de Maria Aparecida Pereira. Assentada desde 1998, em Mirante do Paranapanema, ela sempre participa de cursos e sente falta de mais oportunidades como essa para pequenos produtores. “Tudo é aprendizado na vida da gente, ainda mais para quem mexe e precisa sobreviver da terra. Sei muita coisa, mas aprendo todo dia. Você vê, hoje aprendi que não precisa limpar o seu terreno, que dá pra usar folha pra adubar. Dá menos trabalho e a terra fica melhor”, conta ela.
O projeto do IPÊ vai beneficiar 51 famílias, promovendo a agroecologia em assentamentos rurais. Em 34 propriedades, serão implantados SAFs e em seis áreas, será implantado o Sistema Agrosilvopastoril, que mistura criação de animais com plantio florestal nativo e exótico. O trabalho também irá contemplar 11 propriedades que participaram do projeto Café com Floresta, com a manutenção dessas áreas já plantadas. O preparo do solo para os plantios já começa nesta semana e outros cursos também estão previstos para este semestre a fim de complementar o conhecimento dos assentados, em favor de produções mais sustentáveis.