Seja na Blue Zone, espaço oficial de debates da COP30, seja na Green Zone, espaço aberto à sociedade no evento, a Bioeconomia esteve em pauta ao longo de toda a Conferência do Clima, em Belém, (PA). Centenas de eventos sobre o assunto estiveram espalhados, sendo debatidos por empresas, organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais e populações indígenas. Um reflexo do momento sobre a pauta no país que, recentemente, finalizou o Plano Nacional de Bioeconomia e, ainda em 2024, na presidência do G20, o país elaborou os 10 Princípios de Alto Nível para a Bioeconomia. Pela primeira vez que a Bioeconomia recebeu um documento multilateral dedicado exclusivamente ao tema.
Aqui, três pontos que destacamos sobre sociobioeconomia na COP30 e para acompanhar após evento:
1. A Bioeconomia e a Sociobioeconomia como eixos da Nova Economia Climática
Na COP30, o governo federal lançou o Plano Nacional de Bioeconomia, resultado de um processo interministerial conjunto, conhecido como Mutirão pela Bioeconomia. A formulação do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio) contou com a participação de diversos setores como governo, empresas e a sociedade civil, por meio de organizações como IPÊ, além de representantes de Povos Indígenas, Povos e Comunidades Tradicionais e Agricultores Familiares (PIPCTAF). “Todo o processo do plano foi feito de forma participativa e isso é um grande ponto positivo, já que o Brasil é extremamente diverso, assim como as necessidades de sua população e da biodiversidade. Pensando na nossa atuação como OSC em incidência política, foi um momento importante para dar as nossas contribuições técnicas e levar nossas experiências com o trabalho prático que executamos com os povos e comunidades tradicionais de vários biomas, inclusive da Amazônia, para que tudo isso seja refletido dentro do plano e que faça sentido para todos os envolvidos, em especial os PIPCTAF”, afirmou Fabiana Prado, gerente do Fundo LIRA, iniciativa do IPÊ na Amazônia.

Crédito: Raul Spinasse
O Plano reconhece a Sociobioeconomia como dimensão estratégica para o desenvolvimento sustentável e inaugura, por meio do Programa Nacional de Sociobioeconomia (Prospera Sociobio), um novo ciclo de implementação territorial, iniciando por seis Núcleos de Desenvolvimento da Sociobioeconomia na Amazônia, dentro de um total de 21 territórios priorizados. O programa convoca consórcios regionais capazes de promover cadeias produtivas regenerativas, inovação social, repartição justa de benefícios, governança territorial e fortalecimento comunitário.
2. Comunidades Tradicionais no centro das manifestações e das estratégias
A COP30 foi marcada pela presença e inclusão dos povos tradicionais, seus direitos e saberes na centralidade das discussões e das manifestações. A Marcha pelo Clima em Belém reuniu entre 50 mil e 70 mil pessoas e, de forma inédita, cerca de 800 indígenas foram cadastrados na Blue Zone, pautando a demarcação de terras indígenas como estratégia prioritária da política de combate às crises climáticas. Com apoio do MPI (Ministério do Povos Indígenas) e FUNAI conseguiram a homologação de quatro territórios indígenas e outros avanços em processos já em andamento. Além disso, houve um marco histórico: a primeira menção oficial a “afrodescendentes” em documentos climáticos da ONU.
O reconhecimento dos saberes tradicionais e o empreendedorismo de base comunitária fazem parte do trabalho do IPÊ, no fomento a tecnologias sociais como o Encontro dos Saberes do Projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade em Unidades de Conservação que pode influenciar políticas públicas de monitoramento juntamente ao ICMBIO e MMA, no Fundo LIRA que apoia projetos de comunidades na Amazônia e no Projeto navegando Educação Empreendedora que apoia empreendedores na Reserva Puranga Conquista no Baixo Rio Negro.

“Na Casa IPÊ na COP30, estes assuntos também foram tratados nos painéis que pensamos. Por exemplo, no debate ´Ciências nas Amazônias: Perspectivas Intersaberes para Sociobioeconomias Possíveis´, reunimos cientistas como o climatólogo Carlos Nobre, o economista e quilombola Danilo Nelson Santos Miranda, a farmacêutica Luciana Villa Nova, a professora Maria do Perpétuo Socorro Chaves, o indígena Chico Paiter Suruí, o biólogo Cláudio Padua e o advogado Luiz Marinello para dialogar diretamente com a agenda global, reforçando que saberes tradicionais são Ciências valiosas e devem orientar políticas públicas, inovação e governança territorial”, explica Floriana Breyer, mediadora do debate e idealizadora dos painéis sobre o tema na Casa IPÊ.

3. Inovação e Agregação de Valor – A Disputa Estruturante da Nova Economia
A mensagem da COP30 foi apostar no potencial da Amazônia como centro de inovação, e não apenas como fornecedora de matérias-primas. Exemplo prático disso foi a inauguração do Parque de Bioeconomia e Inovação na Estação das Docas, em Belém, criado para apoiar negócios de impacto no desenvolvimento de novos produtos, viabilização de processos produtivos e articulação de conexões e networking.
O fomento à inovação para agregação de valor é um tema trabalhado pela Frente de Bioeconomia do IPÊ e do Fundo LIRA, que está em etapa de seleção de protótipos de inovação em cadeias produtivas da sociobieconomia juntamente à desenvolvedores de solução e comunidades na Amazônia em 2026.
“Estamos atuando em dois pontos. Nas comunidades com as quais temos projetos, olhando os esforços que eles vêm fazendo para criar negócios ou reformular seus negócios já existentes, e em outro grupo de pesquisa e desenvolvimento, que eu carinhosamente chamo de ´grupo de professores pardais´, pesquisadores acostumados a resolverem problemas. Queremos juntar esses grupos em uma fábrica de soluções, olhando para os produtos que as comunidades já produzem e ajudando a torná-los produtos de valor agregado para que as comunidades ganhem com negócios lucrativos”, afirma Claudio Padua, coordenador de Bionegócios no IPÊ.

Crédito: Ilana Bar_Estúdio Garagem
Para Claudio, para avançarmos com coerência na sociobioeconomia, a educação é fator estruturante. “Não podemos esquecer disso, e precisamos bater na tecla também da formação dos gestores desses novos negócios, gestores da própria economia local. Estou muito esperançoso, acho que estamos num bom momento agora, um momento de mudar a chave, porque eu estou vendo nas comunidades as pessoas em busca de novos negócios (com a natureza), compreendendo a necessidade, com comunidades ganhando mais e vivendo na floresta, e, acima de tudo, mantendo a biodiversidade, que é resultado de todo esse esforço”, afirma.