A Amazônia não se defende sozinha. Quem sustenta a floresta de pé são os povos que nela vivem, guardiões de saberes, culturas e práticas que atravessam gerações. Foi essa força coletiva que se fez ouvir em Brasília durante a Semana da Sociobiodiversidade 2025 (01 a 05 de setembro), quando mais de 300 lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas desenvolveram e entregaram ao Congresso Nacional a Carta da Sociobiodiversidade um documento que traduz em reivindicações concretas a luta pela vida, pela dignidade e pelo futuro da região.

As demandas são claras: fortalecer cadeias produtivas como castanha, óleos, mel e pesca artesanal; reconhecer as práticas de proteção territorial realizadas pelas próprias comunidades; criar políticas de financiamento direto e simplificado; e valorizar o protagonismo das mulheres e da juventude na conservação da floresta.
Ao mesmo tempo, a semana marcou o lançamento de um novo ciclo de apoios do Fundo LIRA/IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica, iniciativa que une conservação da biodiversidade, bioeconomia, proteção territorial e desenvolvimento institucional. Até 2026, serão R$ 6,8 milhões investidos em 53 organizações que atuam em 26 Terras Indígenas, 30 Unidades de Conservação e um território quilombola, com ações voltadas a cadeias produtivas da sociobiodiversidade, monitoramento territorial e fortalecimento institucional.

As vozes vindas dos territórios ecoam como testemunho e esperança:
“O LIRA vem realizar um sonho do nosso quilombo, com a suinocultura ecológica e a pesca artesanal do camarão.” — Diglison, Quilombo Rumo (MA)
“Além de aumentar a produção de óleo de andiroba, vamos fortalecer toda a cadeia socioprodutiva com protagonismo das mulheres.” — Maria Nelson, Amélias da Amazônia (PA)
“Se a floresta morrer, todos nós vamos morrer. Ali não é só do povo indígena, é do mundo inteiro, porque dali nasce a vida.” — Jonas De Souza Silva Yawanawa
Essas falas lembram que a sociobiodiversidade não é um conceito abstrato: é a vida pulsando na Amazônia, com suas economias, culturas e modos de existir.
Para Fabiana Prado, gerente do LIRA/IPÊ, o fundo nasceu para ser uma ponte entre conservação e justiça social. “Nosso propósito é construir juntos um legado. Só conseguiremos resultados se caminharmos em parceria, fortalecendo tanto a gestão das áreas protegidas quanto as economias da sociobiodiversidade e o bem-estar dos povos da floresta”, diz.
A Carta da Sociobiodiversidade e o novo ciclo do Fundo LIRA/IPÊ mostram que há caminhos possíveis: políticas que ouvem quem vive na floresta e recursos que chegam diretamente às comunidades. Caminhos que unem passado, presente e futuro em uma mesma direção, a de manter a Amazônia viva, para todos nós.