Pós-graduandos da sétima turma em Gestão de Negócios Sustentáveis, da ESCAS/IPÊ, participaram em julho de vivência nos projetos realizados pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, na região do Pontal do Paranapanema. A atividade que marca a chegada dos alunos à metade do curso é também um momento-chave, explica Maria das Graças Souza, que realiza articulação na ESCAS/IPÊ, e acompanhou a turma ao lado da professora Rosa Maria Fischer que assina a coordenação do curso ao lado de Graziella Comini, vice-presidente do IPÊ e Eduardo Badialli, coordenador do curso. “Essa atividade é um divisor de águas para a turma, pelo fato deles conhecerem os bastidores dos desafios e dos aprendizados na gestão de negócios sustentáveis”.
A Pós-graduação em Gestão de Negócios Socioambientais é uma iniciativa da ESCAS – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, principal frente educacional do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológica com orientação pedagógica do CEATS/FEA/USP – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor.
A programação incluiu visitas a dois viveiros comunitários, à área de plantio de mudas – onde os alunos puderam conversar com o sócio de uma das empresas que atua na área de restauração – e ainda a um assentamento rural. “O objetivo era compartilhar os gargalos, os desafios e as soluções encontradas pelas lideranças”, destaca Maria das Graças.
Produção de mudas e novos negócios
No viveiro Mata Nativa, a proprietária Marcela dos Santos percebeu que poderia ampliar a renda a partir de um novo negócio realizado dentro do viveiro. “A Marcela é uma empreendedora e passou a investir também na construção de algumas casas no viveiro para receber as pessoas. Ela está transformando o espaço dela para ser um gerador de recurso além das mudas”, conta a responsável pela articulação na ESCAS.
Já no viveiro Viva Verde, a proprietária Iraci Lopes Duveza, há três anos buscou soluções que pudessem reduzir os custos. Para garantir nutrientes às mudas sem recorrer ao substrato, Iraci investiu em duas linhas. “Trituro a casca, o bagaço do coloral, junto com folhas de teca e assim substitui o substrato. A rega das mudas também ganhou nutrientes. Fiz um tanque de peixes e rego as mudas com essa água. Estamos testando a frequência com que devemos utilizá-la”, destaca.
Em relação à água, D. Iraci também conseguiu avançar. “O desperdício da água da irrigação me incomodava muito, então cimentei a área embaixo das bandejas – onde ficam as mudas. Dessa forma, atualmente consigo reaproveitar 70% da água utilizada na irrigação. Recentemente improvisamos um filtro para a água que é reutilizada, mas a ideia é aprimorá-lo” destaca a proprietária. Na região do Pontal, o IPÊ acompanha de perto oito viveiros comunitários que em 2022 produziram 1,6 milhão de mudas, com tendência de crescimento.
Os alunos também visitaram o banco de sementes, do IPÊ, que conta com árvores matrizes com boa qualidade genética. “Essas árvores suprem a demanda dos viveiristas em relação às sementes de cerca de 100, espécies, como copaíba (Copaífera langsdorffii), angico preto (Anadenanthera peregrina), pau-d´alho (Gallesia integrifolia), mutambo (Guazuma ulmifolia), jatobá (Hymenaea courbaril).
Corredores de Vida
O grupo também conheceu Edmilson Bispo, sócios na Bispo Serviço de Restauração Ecológica, em uma área onde ele e a equipe que lidera tem prestado serviços para o IPÊ plantando mudas de árvores nativas.
Para a estudante da ESCAS Patrícia Levi, a imersão possibilitou conhecer a perspectiva das lideranças sobre os próprios negócios e os caminhos escolhidos para fortalecer inclusive as equipes. “Eu perguntei para o sócio da empresa Bispo – se ele tem noção da importância do trabalho que realiza no restabelecimento de florestas? Ele respondeu que sim e pude perceber no olhar e na firmeza da voz deles, o quão imbuído é o compromisso com o meio ambiente; assim na hora de contratar um colaborador ele só contrata pessoas que tem uma visão sobre a importância de reflorestar”.
Os plantios realizados pela equipe de Edimilson contribuem com a formação dos Corredores de Vida, projeto realizado há mais de 20 anos pelo IPÊ na região com o envolvimento de uma série de parceiros. Até 2022, o projeto contava com 6 milhões de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica já plantadas, sendo que 2,4 milhões dessas mudas formam o maior corredor florestal já restaurado no bioma.
Segurança alimentar e renda
A programação também incluiu visita ao Sistema Agroflorestal (SAF) do assentado Francisco Gomes. “Esse encontro dos alunos com o seu Chiquinho foi importante para alinhar o processo histórico, ele pontuou a luta via movimentos sociais, conquista, resistência e a sensibilidade do IPÊ ao mostrar que a implementação do Sistema Agroflorestal daria certo. Atualmente, além da produção de café agroflorestal – carro-chefe do SAF, ele conta também com culturais anuais, como mandioca, milho, entre outras”, destaca Maria das Graças.
Aline Souza, que está à frente da coordenação de formação, capacitação e educação ambiental nos projetos relacionados à restauração, SAFs e viveiros comunitários no Pontal o Paranapanema, revela que a agrofloresta do Sr. Francisco foi implantada pela equipe técnica do IPÊ em duas etapas. “A primeira fase no início do ano 2000, quando plantamos árvores nativas da Mata Atlântica junto com exóticas na mesma linha, já nas entrelinhas introduzimos mudas de café e culturais anuais. Já em 2015, o Sr. Chiquinho foi beneficiado pelo projeto Café Agroflorestal, que recebeu recursos via Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso ao Mercado (PDRS) vinculado à Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SMA). No total, 51 famílias, divididas em 13 assentamentos, nos municípios Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema e Euclides da Cunha Paulista, foram contempladas. “Que criatura iluminada, impossível conter as lágrimas diante de uma história tão emocionante”, disse Rosa Maria Fischer, professora da ESCAS.
Novas perspectivas
Para Carolina Latesta Domenico, aluna da pós-gradução, a imersão despertou o sentimento de esperança. “A qualidade no trabalho de base cientifica, a integração das diferentes temáticas de pesquisa construindo um conhecimento ecológico sólido, capaz de traçar uma estratégia e impactar toda uma rede socioambiental, foi um dos pontos que mais chamaram minha atenção. Destaco também a integração do time do IPÊ e o alinhamento do propósito entre as pessoas e suas ações. Por fim, a semana no Pontal gerou mais do que trocas e conhecimentos, despertou o olhar de novas oportunidades e modelos de cooperação, reativou sentimentos, e reforçou que tem uma legião muito competente e comprometida trabalhando em prol de um futuro resiliente”.
Já Heitor Liebanas, também aluno da pós-graduação da ESCAS, destaca que os resultados atingidos a partir do propósito inicial chamaram atenção. “A imersão me trouxe uma visão mais ampla não apenas dos projetos realizados no Pontal e da região, mas da vida. Além de ficar deslumbrado em saber que o propósito dos idealizadores resultou em uma mudança não somente ambiental, mas social com histórias de grandes desafios. A imersão no Pontal trouxe a visão de que tudo é possível nessa vida, basta acreditarmos, darmos os primeiros passos, estudar, desenvolver técnicas, teses, processos, ações com continuidade e trazer pessoas com o mesmo propósito, vontade, iniciativa de criar mudanças positivas não somente para a região, mas para o mundo”.