Mais de 100 pessoas participaram da quarta e última edição da Sexta ConsCiência de 2023, na segunda quinzena de novembro (17), no auditório da Etec Profª Nair Luccas Ribeiro, em Teodoro Sampaio, na região do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste Paulista. A série de eventos do Projeto ARR Corredores de Vida é uma parceria entre IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e a Biofílica Ambipar. A estimativa inicial era de 80 participantes.
Por conta das fortes chuvas que têm atingido a região, o evento inicialmente planejado para ocorrer na sede do IPÊ Pontal do Paranapanema, em Teodoro Sampaio, seguido de plantio, foi transferido para a Etec.
Sexta ConsCiência é inspirada nas Manhãs com Ciência organizadas pelo IPÊ desde 2004 na região do extremo Oeste Paulista, compartilhando os desafios, os avanços e os aprendizados das pesquisas do Instituto com todos os envolvidos; aproximando a comunidade das ações desenvolvidas na região.
Estiveram presentes assentados rurais, professores das redes públicas e privadas, representantes de instituições privadas e públicas nas esferas federal, estadual e municipal, presidentes de associações e cooperativas da agricultura familiar, além de prestadores de serviço da cadeia da restauração e profissionais que atuam no terceiro setor.
Desafios e tendências
Com o tema “A Geografia e a História Ambiental do Pontal do Paranapanema”, João Maria de Souza, professor de geografia na rede estadual e escritor, fez um balanço sobre a região. “O Pontal do Paranapanema vem de um contexto histórico ruim com notícias estampadas nos jornais como uma região atrasada. Era conhecida como a segunda região administrativa mais pobre do estado de São Paulo. Porém, com a atuação de vários órgãos públicos, movimentos sociais e entidades do terceiro setor, com destaque para o IPÊ, que investiram na democratização do uso da terra, no meio ambiente, entre outras, todo esse envolvimento fez com que hoje o Pontal seja visto como uma região próspera que gera emprego renda e, consequentemente, gera ganhos nas áreas social e cultural”.
Há mais de 30 anos, o IPÊ atua no Pontal do Paranapanema buscando conectar o Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD) a outros fragmentos florestais tanto de Áreas de Proteção Permanente (APP) quanto de Reserva Legal. A criação da ESEC Mico-Leão-Preto, em 2004, também desponta como importante conquista para a conservação da biodiversidade na região.
O trabalho do IPÊ realizado na região tem como base o Mapa dos Sonhos um estudo aprofundado sobre as áreas mais estratégicas para realizar a restauração florestal na Mata Atlântica de interior, de forma a conectar a floresta e restaurar a biodiversidade. O mapa passou a ser usado pelos setores governamentais junto a assentamentos de reforma agrária que começaram a plantar suas reservas legais nas áreas mais adequadas à fauna e à reconstituição da flora local. Hoje, os bosques de reserva legal dos assentamentos servem como áreas de passagem para a fauna. Os corredores plantados em áreas de reserva legal em fazendas seguem a mesma lógica, orientados pelo mapa do IPÊ.
Entre os resultados do Mapa dos Sonhos está o maior corredor florestal restaurado na Mata Atlântica (com 12 km e 2,4 milhões de árvores), que contribui com o fluxo da flora e da fauna e assim com espécies vulneráveis e ameaçadas. O Projeto ARR Corredores de Vida tem como objetivo restaurar 75 mil hectares prioritários até 2041.
Aline Souza, coordenadora de formação e educação ambiental no IPÊ, nos projetos de restauração, SAFs e viveiros comunitários no Pontal do Paranapanema, explica que a restauração florestal no Pontal traz benefícios que vão além da conservação da biodiversidade. “A restauração florestal é também uma forma de gerar emprego e renda diretamente, aos assentados da reforma agrária, seja por meio dos viveiros comunitários com a produção e a comercialização de mudas nativas, seja via as empresas de plantio e manutenção. As ações de restauração realizadas pelo IPÊ estão alinhadas aos três pilares: ambiental, social e econômico. Tem também a questão de aquecer o comércio local com a compra de maquinários, combustíveis, insumos, entre outros”.
Comunidade
Entre os cerca de 100 participantes, a diversidade de perfis chama a atenção. Loan Ramos Barbosa, técnico em restauração florestal na SOS Mata Atlântica, destaca a relevância do tema. “O trabalho do IPÊ é de suma importância para impulsionar a conservação de paisagem na década da restauração florestal declarada pela Organização das Nações Unidas (ONU)”.
Igor Abdala, representante da Comissão de Meio Ambiente da OAB Teodoro Sampaio, pontua a importância da iniciativa Sexta ConsCiência. “Esse é um espaço importante para apresentação de dados com base em pesquisas sobre os benefícios da restauração florestal para a valorização e desenvolvimento de uma região”.
Já Emanuel Felipe dos Santos, estudante do 3º ano do ensino médio da EE Salvador Moreno Munhoz, que pretende prestar vestibular para Biologia, o evento contribuiu com seu aprendizado sobre a região. “Saio daqui com um olhar diferente para o contexto histórico do Pontal”, conclui.