Com as mãos bem firmes e um sorriso no rosto, o assentado Francisco Gomes de Deus colhe somente os grãos de café bem vermelhos, chamado de “ponto cereja”. Já os frutos verdes são preservados e só serão colhidos quando estiverem maduros. Nesse sistema artesanal a colheita é mais demorada, pois é realizada em etapas e o trabalho que teve início em abril deve ser concluído somente em setembro. A expectativa é colher 160 quilos de café.
Francisco é morador no assentamento São Bento, localizado no município de Mirante do Paranapanema, na região do Pontal, no extremo Oeste Paulista. Na propriedade, investiu no Sistema Agroflorestal (SAF), são cerca de 2 mil pés de café plantados nas entrelinhas de árvores nativas da Mata Atlântica. Esse sistema faz com que as árvores sombreiem o café, além de evitar a perda da umidade e reduzir as pragas. Outro ponto positivo é que as folhas e os galhos que caem no solo se decompõem formando matéria orgânica. Esse processo é chamado de ciclagem de nutrientes – transferência de substâncias entre o solo e as plantas e vice-versa.
Para Haroldo Borges Gomes, coordenador de campo no IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, há ainda outras vantagens do plantio agroflorestal, como o balanço hídrico com armazenamento de água no solo e na atmosfera. No quesito clima, as árvores também têm papel fundamental, elas são responsáveis por captarem e absorverem CO2 da atmosfera, um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global. “O café com floresta permite aos pequenos produtores uma produção equilibrada, sustentável, que vai muito além dos ganhos ambientais, pois atinge também as áreas econômicas e sociais”.
Toda a produção do assentado Francisco será comercializada com o IPÊ, o Instituto é responsável pelo beneficiamento, torra e envase do café, que é comercializado em pacotes de 500 gramas na loja online do IPÊ – e no Instituto Chão, na cidade de São Paulo.
Agrofloresta
O assentado Francisco é um dos beneficiados do projeto Café com Floresta, viabilizado por recursos via Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso ao Mercado (PDRS) vinculado à Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SMA). No total, 51 famílias, divididas em 13 assentamentos, nos municípios Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema e Euclides da Cunha Paulista, implantaram Sistemas Agroflorestais sob a orientação dos técnicos do IPÊ.
As atividades referentes ao recurso descrito acima tiveram início em 2015, com orientação de assistência técnica, capacitação em produção no Sistema Agroflorestal, além de gestão e comercialização de produtos.
No momento, o IPÊ está em busca de novas parcerias com o intuito de ampliar o projeto para outras famílias da agricultura familiar, além de expandir as áreas de plantio dos assentados já beneficiados na primeira etapa de implantação.